As categorias de base no futebol desempenham um papel fundamental no desenvolvimento desse esporte em todo o mundo, pois se trata da fase inicial dos atletas e, mais recentemente, de dirigentes. Elas representam a base sólida sobre a qual o futuro do futebol é construído, sendo a fonte de talentos que alimenta os clubes e seleções nacionais. Essas categorias, que englobam desde equipes de base em clubes locais até os programas de jovens talentos em nível nacional, são essenciais por várias razões que você irá acompanhar ao longo deste texto.
Divulgação Palmeiras
Em primeiro lugar, elas permitem a identificação e o crescimento de jovens jogadores com potencial, preparando-os para uma carreira profissional no esporte. Além disso, contribuem para o desenvolvimento de habilidades técnicas e táticas, promovem valores como trabalho em equipe e disciplina, e proporcionam uma base sólida para a formação de atletas de alto desempenho.
Além disso, as categorias de base são a espinha dorsal do futebol, garantindo um suprimento constante de talentos que abastecem o esporte. Neste contexto, exploraremos a importância dessas categorias no futebol, destacando seu impacto na descoberta de talentos, no desenvolvimento de habilidades e na promoção de valores essenciais para o esporte.
Em última análise, as categorias de base são importantes para a vida financeira dos clubes, onde a revelação de jogadores proporciona que eles sejam vendidos para por altos valores, ajudando a sustentar os clubes.
Vitor Roque foi vendido em um acordo em torno dos R$ 400 milhões (José Tramontin/ CAP)
Por conta disso, as categorias de base têm tido uma complexidade maior, por conta das estruturas, e principalmente com novos profissionais, que ajudam a desenvolver os atletas, quanto o departamento em si.
O FootHub entende que existem 4 fatores fundamentais para uma estruturação e gestão de base, e contou com o auxilio de profissionais específicos de cada uma delas para trazer alguns dos tópicos mais importantes dentro destes temas.
Antes de entrar nos tópicos, vale ressaltar que existem diversos pontos a serem destacados em cada um deles, com o assunto indo muito além deste texto.
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Iniciação
O primeiro tópico que vamos abordar é a iniciação, que é o período em que a jornada de um atleta começa, considerado em média, entre os 9 e 13 anos.
Reprodução: Site Oficial do Vasco
Se tratando da iniciação dos clubes, algumas entidades utilizam das suas escolas de futebol como ponto de partida. Já em outros casos, o Futsal surge como ponto inicial (característica marcante na Região Sudeste). Na Região Sul, o Futebol 7 (Society) cresceu muito e hoje faz parte do processo de formação dos grandes clubes. Neste sentido, se pensarmos em uma formação adequada, o principal ponto de atenção, está na construção e progressão metodológica, que deve partir do simples para o complexo, do pequeno espaço para o grande espaço, respeitando o desenvolvimento cognitivo-físico das crianças.
Partindo desses pressupostos e considerando o cenário atual da iniciação ao futebol, torna-se fundamental o investimento e o desenvolvimento das crianças nesta fase inicial. É essencial considerar a formação não apenas pelo aspecto técnico ou pelo desempenho atual do atleta, considerando o estágio de desenvolvimento maturacional e o nível de experiência dele.
Quais foram as vivências e oportunidades que este jovem atleta já teve? Qual é o contexto em que ele estava inserido? O nível de desempenho atual está condizente com o seu estágio maturacional? Há margem de evolução? São algumas das perguntas importantes a serem realizadas.
Existem uma série de pontos que precisam ser pensados quando se trata de iniciação nos clubes, como: os objetivos e a cultura do clube, a capacitação e atuação dos profissionais envolvidos, a especialização precoce (as crianças não são miniadultos), a mudança no contexto social das famílias envolvidas, a relação com o processo educacional, dentre outros tantos fatores importantes nesta fase.
A inserção dos jovens no processo formativo inicial dos clubes, sendo proporcionado aos mesmos, estrutura física e material, profissionais capacitados em todas as áreas, exposição a diversas em treinamentos e competições e acompanhamento próximo no que toca a sua formação escolar, social e biológica se torna cada vez mais essencial.
Reprodução Botafogo-SP
Atualmente, todos os clubes possuem investimentos na fase inicial das categorias de base, onde cada clube possui um formato de atuação. Observando este cenário nacional, percebe-se que existem diversos formatos, pois cada contexto exige uma determinada política de formação, investimento e visão.
Cabe ressaltar, que os resultados esportivos futuros (em termos de futebol de base), transição de atletas a equipe profissional e o surgimento de novos atletas em potencial, passam pelo entendimento e investimento por parte dos clubes, neste processo inicial da categoria de base.
Em texto publicado em nosso blog, Marcelo Prestes, coordenador da iniciação do Internacional acredita que nesta fase inicial, assim como em toda a carreira esportiva do atleta, o desenvolvimento dele passa por uma tríade: família-atleta-clube. Possuir uma base familiar forte e segura é fundamental para o suporte ao atleta em todas as situações presentes no dia a dia, sejam elas positivas e/ou negativas. O clube passa a ser a via de desenvolvimento de vários aspectos que vão além do campo e relacionam-se diretamente com a escola, na tarefa de educar, socializar e construir um ambiente próprio para o ensino do futebol.
Além disso, é fundamental promover a identificação de todos os envolvidos (atletas, familiares, colaboradores e agentes) com a cultura e o contexto do clube. O ambiente do clube precisa ser receptivo, positivo e desafiador, pensando no desenvolvimento individual dos atletas e de todos os envolvidos. Ao promover a identificação e o sentimento de pertencimento ao projeto do clube ao qual se faz parte, todos estarão imbuídos em construir um cenário positivo para um legado esportivo a longo prazo.
Ao pensarmos na construção de um atleta, da iniciação a performance, para que este possa gerar retorno esportivo e financeiro ao clube, é preciso estar ciente de todas as obrigações e leis que cercam o processo de formação e os aspectos relacionados aos clubes formadores.
Conforme a legislação vigente, os atletas só podem residir no clube (alojar) e assinar o seu primeiro contrato de formação com remuneração a partir dos 14 anos completos. Este fato implica em diversos fatores, tais como a questão social, a captação e a gestão do processo de chegada e saída de atletas.
Atualmente, a FIFA reconhece para fins de percentuais de transferência e mecanismo de solidariedade, o vínculo do atleta com o clube formador, a partir dos 12 anos de idade. Neste sentido, atualmente a maioria dos clubes brasileiros, tem buscado realizar o registro de iniciação dos seus atletas, que é realizado via BID-CBF, a partir dos 12 anos completos de cada atleta. O vínculo de iniciação é renovado anualmente e pode ser assinado somente até o final da temporada vigente.
Ao possuir o registro dos atletas, pode-se buscar futuramente percentuais de direitos de formação e transferências, sendo assim uma possível fonte de receita em longo prazo, mesmo para aqueles atletas que não cheguem à equipe profissional. Além disso, o clube pode estar minimamente resguardado em relação aos assédios de outros clubes e agentes, presentes no mercado do futebol.
Captação
Tudo que foi apresentado até aqui sobre a iniciação complementa o próximo tópico desse processo, que é a captação. A captação de atletas é o momento em que os responsáveis da área fazem a busca dos atletas para compor as categorias de base de um clube, que se dá, normalmente, entre os 10 a 14 anos de idade.
A identificação dos atletas funcionam de 5 maneiras:
- Avaliações e testes
- Campeonatos e torneios
- Indicações
- Escolas
- Centro de formação de atletas
Mas qual o perfil de atletas procurados na iniciação?
O perfil observado na captação da iniciação são crianças, sempre monitorando o processo maturacional deles.
Outro ponto a ser analisado é a ludicidade, não podendo esquecer que a criança precisa brincar e se divertir.
A precocidade é um aspecto a se cuidar, manter os processos e respeitar a idade dos atletas é importante para não queimar etapas. Para fechar, é necessário ter especificidade entre as categorias, não submetendo os atletas a fazer exercícios que não são para sua idade.
Se tratando mais do captador, que é o responsável pela captação dos atletas, iniciamos com o perfil desses profissionais.
“Geralmente são ex atletas, que tiveram experiências na prática, há também o perfil de treinadores e professores, que acabam indicando os melhores atletas das escolinhas para os clubes, e o perfil acadêmico, que são profissionais que saem da faculdade e já são inseridos no futebol, geralmente nas categorias menores, na área de captação.” Alessandro Brito, Head Scout do Botafogo
Durante suas observações, são realizados relatórios com alguns passos para construir uma lista e captar atletas:
- Informações dos atletas
- Informações da observação
- Criação listas de destaques
- Realização de vídeos
- Criação banco de dados
Antes de começar o processo da captação efetiva dos atletas, é necessário que o profissional identifique a realidade a qual ele está inserido, como ver a estrutura que o clube oferece para este departamento, quais as necessidades da instituição, os objetivos. Outro aspecto a ser analisado é o nível de cada categoria, saber quais as características estão sendo requisitadas.
Os aspectos analisados para a contratação de um jogador para a base segue 4 tópicos:
- Técnica
- Tática
- Comportamental
- Física
No organograma da captação existe um coordenador para esse departamento, que direciona os observadores para os locais de observação, e é responsável pela agenda de testes e avaliações, além de realizar relatórios dos atletas, para apresentar à comissão técnica, a qual tem uma integração direta.
A identificação de talentos nas categorias de base do futebol é um processo multifacetado que envolve uma série de estratégias, desde avaliações e testes até campeonatos, indicações, escolas e centros de formação de atletas. Entender o perfil ideal de atletas na iniciação é crucial, considerando fatores como o processo de maturação, ludicidade e respeito à idade das crianças, bem como a necessidade de manter a especificidade entre as categorias, evitando exercícios inadequados.
Os captadores desempenham um papel fundamental nesse processo, utilizando de observações detalhadas e uma variedade de ferramentas, como relatórios, vídeos e bancos de dados, para identificar talentos promissores.
Além disso, a importância da integração entre o departamento de captação e a comissão técnica não pode ser subestimada. Essa colaboração é essencial para garantir que os atletas identificados sejam adequadamente desenvolvidos e tenham a oportunidade de prosperar no mundo do futebol.
Portanto, a identificação de atletas é uma tarefa complexa que envolve não apenas a observação de habilidades, mas também a compreensão das necessidades do clube, a formação de equipes e a preparação de jovens talentos para chegar ao futebol profissional. É um processo que contribui para o sucesso das categorias de base e do futebol como um todo.
Transição
Outro processo importante relacionado com as categorias de base é a transição, que pode ser tanto entre categorias ainda na base, como para o time profissional. Neste caso, são considerados quesitos como características físicas, técnicas e comportamentais. Aqui o foco será este segundo processo.
Para Fábio Matias, treinador de futebol, existem 3 pilares para essa transição para o profissional:
- Presença de um técnico de transição – Para desenvolvimento do individual e coletivo dos atletas
- Perfil do atleta – Se é adequado com as necessidades da equipe principal
- Equipe profissional – É analisado quais os critérios para a transição de jogadores, quem é o responsável pela área.
Para que essa transição ocorra com mais frequência, a questão da integração da base com o profissional no centro de treinamento se torna muito importante, já que os atletas da base conseguem ver como ocorre os treinamentos da equipe principal, quais características a comissão técnica gosta e o modelo de jogo. Por outro lado, a comissão técnica do profissional acaba olhando os treinos da base, e assim, vendo como os atletas jogam, quais as características físicas e técnicas, aumentando as chances da subida à equipe principal.
Geralmente, os clubes tem 6 categorias dentro da base:
- Sub-9
- Sub-11
- Sub-13
- Sub-15
- Sub-17
- Sub-20
Dentro de cada categoria, existem diversos campeonatos, que servem para os atletas ganharem minutagem, podendo se desenvolver e ganhar experiência, além da mentalidade de vencer.
Se tratando mais da categoria sub-20, que visa a transição para o profissional, existem diversos campeonatos para preparar os atletas, como Brasileirão SUB-20, Copa do Brasil SUB-20, Libertadores Sub-20, e a que mais reúne atletas de todos os lugares do Brasil, que é a Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Marcello Zambrana/Estadão Conteúdo
A Copa São Paulo é disputada desde 1969, iniciando sempre no início do ano, de modo que a final seja disputada em 25 de janeiro (dia do aniversário da cidade de São Paulo), no Pacaembu (algumas vezes por motivos externos, o local é alterado).
Até 1970, a competição só recebia clubes do estado de SP, mas, a partir de 1971, a competição passou a receber clubes de todo o Brasil. Desde então, a Copinha, apelido dado à competição, é um torneio muito observado por imprensa, torcida, empresários e clubes, uma vez que é considerada a principal oportunidade para se descobrir futuros craques do futebol brasileiro.
Esse campeonato traz oportunidades tanto para os atletas mostrarem seu potencial para acabar fazendo a transição para o profissional, quanto para a captação de atletas para times com mais estrutura e oportunidades.
Em resumo, a transição no futebol é um período de intensa mudança e desenvolvimento para os jogadores, que enfrentam desafios físicos, mentais e emocionais. A capacidade de se adaptar, aprender e crescer durante essa fase é fundamental para o sucesso no mundo do futebol profissional. O apoio adequado dos clubes, treinadores e equipes multidisciplinares desempenha um papel importante na ajuda aos jogadores durante essa transição significativa.
Metodologia
Os aspectos trabalhados nos tópicos anteriores devem estar alinhados a partir de uma metodologia, aspecto que vem ganhando foco dos clubes mais recentemente, inclusive com a consolidação do cargo de coordenador metodológico.
A metodologia é o modo como serão formados e trabalhados esses atletas na base, com processos que envolvem desde os treinamentos até os princípios de gestão.
Um dos processos metodológicos é a integração Futsal e Futebol. Fazendo com que as etapas formativas dos nossos atletas estejam coesas dentro da nossa proposta metodológica de conteúdos para suas faixas etárias sendo a sua prática no Futsal ou no Futebol de campo.
Produção Prof. Próspero Paoli na turma 1 do Olhos para a base
Ou seja, a integração entre o futebol de base, com o futsal e as escolinhas são importantes dentro do sistema metodológico de formação de atletas. O futsal proporciona aos atletas mais tempo com a bola, mais tomadas de decisões, além de muita movimentação, que promove aos jogadores participar de todas as funções do jogo, atacando com a bola, como recomposição para se defender.
O Futsal é importante para as categorias menores, pois o futebol 11 tem uma estrutura e um conjunto de situações muito complexas e incompatíveis para o desenvolvimento de uma criança ou de um jovem futebolista.
“O desafio é fazer com que o processo seja cada vez mais verticalizado e integrado, respeitando os conteúdos prioritários, a cultura do futebol brasileiro e do contexto identitário do clube, além das características e especificidades de crescimento e desenvolvimento cognitivo e motor de cada idade, com planejamento, metodologia, pessoas qualificadas, estrutura física, competições de qualidade e atletas de projeção”. Próspero Paoli
Entrando nos aspectos de estruturação do treino, é necessário haver uma preparação do ambiente, tanto em espaço, quanto tempo e motivação, além de realizar gráficos das atividades. É importante que haja uma boa explicação das atividades que serão realizadas, sempre com intervenções dos treinadores, para que seja corrigido os erros, colocando o atleta e o grupo no centro do processo.
Após cada treino, é crucial que seja avaliado como foi a atividade, se bateu as expectativas, e verificar o que pode ser melhorado.
Divulgação Palmeiras
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS DO TREINAMENTO
1. Aprendizagem ativa, para desenvolvimento da autonomia.
2. Respeito à natureza complexa das ações de jogo, como interações com situações de jogo.
3. Progressão ampliada dos conteúdos, para gerar propensão comportamental.
Ou seja, os treinos sempre devem ter características que irão ajudar a formar e desenvolver o atleta, então é necessário que sejam atividades desafiantes e estimuladoras, sempre com uma intenção e um objetivo a ser cumprido.
Em resumo, a metodologia nas categorias de base do futebol desempenha um papel fundamental na formação de talentos, garantindo que os jovens jogadores recebam a orientação, o treinamento e os valores necessários para se tornarem atletas de alto desempenho. Ela é a base sobre a qual o sucesso futuro do futebol é construído, proporcionando uma estrutura sólida para o desenvolvimento contínuo do esporte em todo o mundo.
Olhos para a base
O FootHub está com inscrições abertas para a turma 3 do curso Olhos para a Base. Trazendo como principal objetivo qualificar o debate sobre categorias de base, auxiliando quem já está no meio a melhorar sua atuação e possibilitando que aqueles que desejam ingressar no futebol conheçam um dos principais caminhos.
Os encontros apresentam dinâmicas interativas que trazem o networking e compartilhamento de conhecimento entre alunos e professores tendo como objetivo a vivência de quem atua nas categorias de base.
Além disso, será disponibilizado em nossa plataforma uma série de materiais extras para complementar o aprendizado do aluno. No final do curso, todos os inscritos receberão um certificado de conclusão de 18 horas, e irão ter a oportunidade de realizar uma visita técnica a um clube para conhecer o departamento das categorias de base.
Nosso time de professores conta com profissionais referências do mercado, como:
- Antônio Garcia, Diretor Executivo das categorias de base do Fluminense;
- Próspero Paoli, Coordenador técnico e metodológico;
- Marcelo Prestes, Coordenador técnico da Iniciação do Internacional;
- Luther Alves, Gerente da Captação das categorias de base do Internacional;
- Fernando Carvalho: Consultor de gestão do FootHub;
- Rafaela Esteves: Coordenadora das categorias de base feminina do Corinthians;
Esses profissionais referências na indústria do futebol vão trabalhar temas como iniciação, captação, metodologia, transição e gestão de categorias de base!
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Material produzido por Willian Sanmartin, com a colaboração de Marcelo Prestes, Próspero Paoli, Alessandro Brito e Fábio Matias.
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