O Futebol é uma paixão nacional que movimenta multidões e atrai o interesse de diferentes áreas da nossa sociedade (esporte, economia, política etc.), sendo no Brasil o esporte ao qual possui o maior número de praticantes dentre todas as modalidades.
Porém, o cenário da formação de atletas e mais especificamente da Iniciação ao Futebol, não é algo tão belo assim. Enfrentamos inúmeras dificuldades nesse processo, em que os esportes brasileiros como um todo, acabam por depender de muitas iniciativas isoladas, escolas-clubes privados e projetos sociais.
Há alguns anos, o primeiro contato das crianças com o esporte era realizado nas escolas, através da Educação Física Escolar e em paralelo ocorriam as práticas em ambientes informais, tais como: as praças, ruas e pátios das casas.
Porém, atualmente a Educação Física Escolar, possui um contexto variável em todo o país. Em algumas cidades e estados, a carga horária da disciplina é aceitável, já em outros contextos possui um certo desprezo, colocando-a até como uma disciplina opcional no currículo escolar, reduzindo a importância do ensino e prática dos conteúdos no ambiente escolar. Além disso, existem dificuldades com relação a espaços físicos, materiais e até mesmo a disponibilidade de profissionais capacitados para proporcionar uma formação inicial adequada.
Cabe ressaltar, que isto não é uma crítica direcionada a Educação Física Escolar e sim um problema mais abrangente que envolve as políticas públicas, investimento e interesse pelo desenvolvimento de um processo qualificado pensando na saúde, qualidade de vida e porque não na formação e descoberta de possíveis talentos esportivos.
Os espaços informais de prática, também tem reduzido cada vez mais em função do crescimento urbano, segurança pública, falta de interesse da sociedade e substituição das atividades pelo uso das novas tecnologias. A globalização e o surgimento constante de novos atrativos tecnológicos têm retirado as crianças e adultos dos espaços de prática informais e espontâneos que eram uma realidade no passado e gerando consequências graves relacionadas a saúde, doenças crônicas e envolvimento com o esporte.
Por fim, a ausência de um programa nacional esportivo único e direcionado a uma política de formação esportiva a longo prazo, também é impactante nesse cenário preocupante que vivemos no país. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) lançou ano passado (2022), o Modelo de Desenvolvimento Esportivo, para implantação em todo o território brasileiro, disponível para download no site do COB. Ainda é um movimento inicial, pois as Confederações de cada esporte estão procurando construir o seu modelo, ajustando conforme as peculiaridades de cada modalidade.
Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/cob/time-brasil/modelo-desenvolvimento-esportivo.
Acredito que esta iniciativa do COB e de todos os profissionais envolvidos na construção deste modelo de desenvolvimento esportivo mesmo que incipiente, é louvável, pois precisamos construir juntos um processo sólido de formação de atletas, incentivo a prática de atividades físicas e esportivas, sem depender apenas de iniciativas privadas ou tentativas isoladas.
No caso de outros países, encontramos alguns modelos de formação interessantes e que proporcionam uma visão de formação a longo prazo. São os casos da Alemanha (Federação Alemã), França (Federação Francesa), Uruguai (Baby Football e Seleções Nacionais), Argentina (Baby Football e Iniciação nos Clubes) e Portugal (escolas dos clubes), são alguns modelos que tem colhido novas gerações de praticantes e jogadores de futebol talentosos. Além disso, pensando em um modelo de desenvolvimento esportivo mais amplo, acredito que o dos Estados Unidos, é o mais completo e destacado, envolvendo o esporte escolar, universitário e profissional.
Dito isso, analisando o cenário de desenvolvimento esportivo no país e as inúmeras dificuldades encontradas, pode-se perceber que a Iniciação ao Futebol se desloca para as escolas de futebol e futsal, projetos sociais e aos clubes. Neste sentido, muitas das práticas esportivas que iniciais que eram de fácil acesso e gratuitas, passam a envolver custos de mensalidade, logística e custos extras (alimentação, viagens, materiais esportivos etc.).
Para tanto, há uma grande responsabilidade destes contextos de iniciação ao futebol, pois é a partir dessas vivências iniciais envolvendo qualidade e quantidade dos estímulos, que poderemos construir um ambiente próprio para o desenvolvimento e seleção de talentos.
Neste sentido, acredito que os clubes de futebol, assim como todas as instituições envolvidas sejam elas de cunho político, esportivo ou social, precisam refletir e inserir a fase de iniciação em suas estruturas, realizando um investimento relevante para que se possa pensar em um desenvolvimento esportivo a longo prazo, capacitando os atletas e todos os envolvidos (professores, coordenadores, pais, empresários, áreas de apoio etc.) para os diferentes níveis de envolvimento com o esporte.
Nos próximos artigos, abordaremos o processo de iniciação nos clubes e como podemos construir essa base inicial da formação, que nos dará sustentação para as categorias de base e para o futuro do futebol no Brasil. Fique ligado no site do FootHub.
Texto de Marcelo Freitas Prestes
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