Charles Darwin estava certo. Obviamente não sou eu a atestar este fato. Centenas de anos de estudo e observação demonstraram que se adaptar é tão necessário para a sobrevivência quanto respirar, mas se engana quem acha que sua teoria só vale para seres vivos.
Ideias, produtos, mercados. Tudo isso passou e passa pelo eterno processo da mudança, é a realidade tirana na qual estamos inseridos e de onde provavelmente nunca sairemos. É talvez o único contexto no qual aquela famosa frase materna não se aplica. Nós somos todo mundo.
A linguagem, apesar da eminência, não se inclui fora disso. É difícil imaginar um cenário que as mentes mais criativas do cinema já não tenham projetado, mas projetem neste momento o que seria dos primeiros ancestrais da raça humana sendo teletransportados para exato dia de hoje. Provavelmente conseguiríamos, em certo ponto, nos comunicar de forma mais “rústica” e instintiva, mas a dificuldade seria perceptível.
Aliás, não precisamos de um exercício tão abstrato. Quantos de nós saberíamos o que significa ser “cringe” antes da explosão de memes dos últimos meses? A linguagem é maleável, se adapta às demandas do meio em que se propaga. Não só pela sua própria sobrevivência, como também pela aproximação do que outrora parecia distante demais para se relacionar.
Pessoas distantes, mundos distintos. Estão mais próximos e integrados que nunca e claro, a internet tem influência considerável nestas transformações, inclusive nas formas de se comunicar. Não era possível saber há alguns anos que os já citados que simples imagens, vídeos ou frases seriam capazes de mobilizar tanto, como os já citados memes.
De uma situação corriqueira do dia a dia a teoremas dos mais complexos tipos sendo popularizados em meio a redes sociais que basicamente servem ao entretenimento. Não é difícil notar a tendência que estamos tomando.
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A narrativa em prol do marketing esportivo, por EntreLinhas Gestão Esportiva.
Biblioteca Ruy Carlos Ostermann #25 – os livros de Samory Uiki.
Isso não significa necessariamente que as maneiras menos atuais de se expressar estejam erradas e que o certo é ser e agir com a modernidade da Geração Z (não vou parar de tomar café da manhã), porém é importante entender até que ponto se faz interessante ficar preso a um saudosismo ineficaz.
A linguagem acadêmica sendo popularizada dentro do futebol é um acréscimo necessário e natural, pensando no aspecto evolutivo do esporte como fonte e consequência do estudo. O meio é plural e aceita (ou pelo menos deveria aceitar) as diferenças nas visões acerca do esporte como jogo, como trabalho e como cultura.
É fato que as terminologias têm um peso grande em como entendemos o esporte. Além disso a linguagem tem suas limitações e por vezes as noções de cultura, jogo e trabalho se misturam de forma a tornar o esporte mais complexo e menos acessível do que se precisa.
Tanto é que a CBF, por meio dos professores Carlos Thiengo e Maurício Marques, publicou um glossário do futebol brasileiro na intenção de proporcionar uma experiência mais atrativa para quem joga, para quem assiste e para quem trabalha com o futebol.
Dessa forma, fica claro que o porquê de o futebol ter tanta gente que o ama. Ele é do(a) menino(a) que sonha em ser jogador(a) para melhorar a vida da família. Ele é do trabalhador ou trabalhadora que chega em casa depois de um dia difícil e precisa saber como vai o seu time. Ele é de quem estuda, assiste e comenta.
Prefira você a saída curta ou o chutão. Fale “jogo funcional” ou “jogo de aproximação”. Ache o futebol de hoje ou o de antigamente melhor. Só não proíba o outro de ter suas preferências porque no final só uma coisa importa: La pelota no se mancha.
Texto de Pedro Heitor, do Los Futebólicos.