À parte da situação única que vivemos por conta da covid-19, as Olímpiadas têm reforçado e trazido à tona temáticas recorrentes do nosso esporte, como a falta de investimento, o pouco espaço cedido na mídia durante o ciclo anterior as Olímpiadas, o consequente baixo aporte financeiro de patrocinadores, a superação dos atletas, dentre outros temas que surgem, e podemos debater em outros momentos.
Nesse texto em questão, entretanto, nossa análise foca em um outro aspecto que os Jogos Olímpicos nos ressaltam os olhos, que são as narrativas criadas e as histórias contadas, independente da conquista ou não de medalhas.
No esporte de um modo geral, mas no futebol ainda mais, existe uma tendência de desvalorização daqueles que não conquistaram o sucesso almejado, seja ele um título, um acesso, ou uma classificação. Independente das condições apresentadas previamente, o torcedor ou espectador se sente no direito de cobrar times e atletas a terem resultados fantásticos, mesmo que a falta de estrutura diga o contrário ou que o mental impossibilite, por exemplo. O que importa é empilhar ouros ou títulos independente das consequências, mas os fins nem sempre justificam os meios.
Existe uma frase, de autoria desconhecida, que resume bem o sentimento do brasileiro com o esporte: O brasileiro não gosta de esportes/futebol, o brasileiro gosta de ganhar. E porquê trazemos isto como uma problemática?
Porque apesar de ser inegável que ganhar traz sentimentos, momentos e experiências únicas, o esporte deve ser visto como uma plataforma de entretenimento e de narrativas, não apenas de vitórias. Afinal, se num campeonato com 20 times, apenas um ganha, só existe uma boa história a ser contada e explorada como ativo?
Leia também no site do FootHub:
A figura do falso nove, por Los Futebólicos.
A fada do dente de prata, por João Paulo Fontoura.
O crescimento do esporte feminino e o impacto no marketing esportivo, por Gabriela Matos.
O problema, porém, não está exclusivamente nos torcedores/fãs, mas também na nossa mídia e mercado esportivo em geral, incluso estes que vos falam, que tendem a trazer cobranças por vezes desmedidas e desvalorizar conquistas menores ou esforços empregados, olhando apenas para o resultado.
Vimos atletas chorando e se desculpando com os torcedores e familiares que os assistiam, como se estes tivessem um compromisso com pessoas que, por vezes, nem consomem o esporte durante 4 anos para chegar no ápice do esporte e cobrarem os competidores.
Há também de se ressaltar que só de estar em uma competição do tamanho de uma Olímpiadas já é uma vitória, e aqueles que não conseguiram também merecem colher frutos de um esporte menos pautado na vitória e mais no processo de socialização, nas experiências, no entretenimento, na felicidade, na aflição e tantos outros sentimentos que podem ser proporcionados aos stakeholders desse mercado.
Tudo isso contribui para que nossa área seja menos dependente dos resultados esportivos, e faça valer cada vez mais todo o percurso de chegada até o final. O objetivo deste texto é contribuir, mesmo que um pouquinho, para que a gente se force a mudar nossa mentalidade e nossa cultura de valorizar apenas os vencedores e comecemos a buscar outras histórias dentro do nosso esporte, não apenas em caráter jornalístico, mas também explorarmos em termos de marketing e ativação, valorizando financeiramente estes e fazendo do storytelling uma forte ferramenta a nosso favor.
Texto de EntreLinhas Gestão Esportiva.