Dando sequência a nossos escritos sobre Categorias de Base, hoje falaremos sobre a segunda etapa da metodologia de treinamento que entendo adequada a partir dos 14 anos, logo após o período de iniciação que, relembrando a minha visão, deve ser feito através do Futsal e também no campo, de forma lúdica, sem organização, sem regras, sem posicionamento organizado – a não ser aquele adotado pelos próprios atletas ao natural – para que o menino tenha contato com a bola, como forma de obter criatividade, iniciativa, inventiva, audácia, tente a jogada individual, não tema o erro, dando roupagem de “pelada” de rua ao treino.
Nessa segunda etapa, a partir dos 14 anos dos atletas, instrutores/treinadores adotarão regras e sistemas mais rígidos, mais programados, estabelecendo posicionamento regular, definindo a função do menino dentro do seu setor de campo, já atribuindo função tática nos moldes do sistema a ser adotado.
A recomendação e a adoção de um sistema único observadas todas as categorias até chegar ao sub 20, criando uma forma e um estilo de jogar idêntico para o clube tanto no que diz respeito ao posicionamento como no pertinente a forma de marcar, defender e atacar.
Para tanto, é necessária a existência de coordenação técnica, com um ou mais profissionais sincronizados, que através de reuniões periódicas, ministre a ideia básica do clube e cobre a execução pelos treinadores. O sistema, o posicionamento e forma de proceder a marcação nos mais variados setores do campo, deve ser definida previamente, a fim de adotar-se procedimento uniforme em todas as categorias, dotando cada posição, dos 14 aos 20 anos, de atletas com características e forma de jogar semelhantes, a fim de que quando de substituições e transições de atletas de uma idade para outra, preservem-se as características das equipes.
Cabe ao clube por seus profissionais, definir essa forma de jogar, os sistemas e o posicionamento, definição essa fruto de amplo debate entre essas pessoas integrantes do setor, muitas vezes levando em consideração a cultura do clube, o que gostam seus dirigentes estatutários, seus associados e torcedores, a comunidade de sua cidade. Ideia é começar cedo incutindo a forma de jogar, cultuada pela entidade, o que trará prestígio ao trabalho realizado como forma de consolidá-lo no decorrer do tempo com respaldo da comunidade.
De minha parte, sou favorável a adoção de um sistema universal, que possibilite que o atleta seja formado com aptidão para atuar em todos os sistemas, reativo, propositivo, com marcação alta, marcação meia pressão, ou marcação atrás. Na minha visão, esse sistema seria o 4-4-2 com linha de quatro defensores, com 2 volantes sendo um mais fixo, outro mais móvel, 2 meias intensos que saibam articular, recompor e eventualmente ocupar os lados do campo, um centroavante de área, que hoje deve ser mais movediço e contundente nas jogadas ofensivas e que tenha boa carga de trabalho nas tarefas de brecar a saída de bola do adversário, e um jogador de lado veloz, portador de iniciativas individuais, também com tarefas de contenção sem a bola.
Quem aprende a jogar dessa forma, com essas características poderá atuar no futuro em qualquer outra formatação tática, 3-5-2, 4-2-3-1,4-1-4-1, 3-4-3 e até em linha de 5 defensores.
O ideal seria formatar taticamente as equipes de base da mesma forma que a equipe principal dos clubes. Contudo, sabe-se que essa prática acaba tornando-se inviável, pois os critérios de contratação de treinadores por nossas entidades nem sempre levam em conta a ideia vigorante no mesmo clube e, no mais das vezes, cabe ao profissional contratado adotar suas próprias convicções e suas ideias pré concebidas para o trabalho nas equipes de cima.
O universo das categorias de base no Brasil é enorme.
Conhecer os conceitos, metodologias, estruturas e profissionais que atuam neste mercado é uma oportunidade única, que buscamos oferecer no curso sobre categorias de base, que irá reunir referências da área no futebol com objetivo de desenvolver este mercado.
Em resumo, a metodologia a partir dos 14 anos deve perseguir goleiros altos, rápidos, ágeis, que saibam sair do gol nas bolas áreas, que possam sair jogando com os pés com naturalidade, zagueiros rápidos, bom porte físico, com vigor para corpo a corpo, com poder de antecipação, marcação frontal, bom cabeceio lateral e frontal, dando preferência a duplas com pés do lado, que tenham passes verticais.
Laterais: pés do lado, bons marcadores, intensos, que saibam posicionar-se como zagueiros, fazendo coberturas nas bolas invertidas, que saibam apoiar com boa definição no terço final do campo; volantes: um posicionado, bom marcador, atento das coberturas centrais e laterais, visão periférica ampla -( hoje existe métricas de avaliar visão periférica)- portador de passes laterais e verticais, com bom posicionamento e execução de primeira bola; um segundo volante mais móvel, com poder de marcação, intensidade, mobilidade para transitar de área a área, às vezes cometendo jogadas de profundidade pelos lados, de preferência com bom arremate de média e longa distâncias.
Os meias, portadores de características semelhantes, intensos, com grande carga de trabalho na recuperação de bola e recomposição, articuladores nas jogadas ofensivas, com jogadas individuais, ingressos na área adversária, aptos a ultrapassagens internas e externas, com qualidade de último passe e bons arrematadores de média distância.
Por último, atacante central, que jogue de costas para o gol, faça paredes, mova-se de bico a bico de grande área, boa jogada aérea, poder de antecipação, e definição tanto de longe quanto no confronto com goleiros.
Estas condições e características, podem parecer utópicas, porém devem ser perseguidas mesmo que o trabalho seja árduo e duro no seu desenrolar. A persistência, mesmo na dificuldade de encontrar ou produzir atletas com essas características, trará logo logo benefícios e com o tempo, cada vez mais, surgirão atletas moldados com essas características em cada uma das posições.
Um ótimo instrumento para que haja evolução física, técnica e que sejam melhoradas condições dos atletas, corrigindo deficiências ou potencializando qualidades e o setor ‘aprimorar”, que constitui um ambiente fora dos dias normais de treino para o qual determinados atletas são levados, para treinamentos específicos que são ministrados por ex jogadores que foram especialistas nas posições desses jovens, que passam por aprimoramento.
Através de treinamentos de repetição, com práticas onde são criadas situações de jogo, ex zagueiros de reconhecida qualidade, instruirão aos futuros defensores a posicionar-se, antecipar, cabecear frontal e lateralmente, fazer cobertura, ter enfrentamento individual com atacantes, cometer passes verticais curtos e longos, entre linhas e como forma de aliviar perigo e já armar contra ataques.
Assim também os atacantes do futuro terão “aulas particulares” com exímios ex- centroavantes ou ponteiros, que procurarão trazer-lhes conceitos de posicionamento para receber de costas ou em velocidade, giro sobre zagueiros, entrada em diagonal, cuidado com linha de impedimento, cruzamentos de 1o e 2o paus, antecipação aos defensores, dribles somente em zona de perigo do adversário.
Esses exercícios, às vezes cansativos, repetidos sistematicamente, certamente trazem aos novos atletas mais certeza e qualidade na execução de determinadas jogadas durante os jogos, cujos lances devem fazer parte de um banco de dados do setor, como forma de avaliar os efeitos do treinamento e incentivar a sua prática.
Por fim, para encerrar nosso texto de hoje, ao lado do Aprimorar, que possui foco em atletas de linha, vejo necessária a existência de uma Escola de Goleiros, onde acorrem os goleiros de todas as idades, para treinamentos especiais, fora do horário de práticas normais com seus respectivos professores, cujos treinos serão ministrados por ex guarda metas do clube, trazendo aos novos os macetes da posição, em especial, saída de gol, confronto direto com atacantes, saída com pés, corrigindo defeitos de cada um ou potencializando virtudes.
Texto Fernando Carvalho.