Um tema que vem sendo cada vez mais discutido no futebol mundial é o da internacionalização de clubes. Tema esse que tem ganhado um foco principalmente no Brasil, já que mesmo conhecido como o país do futebol, é um dos mercados que está mais atrasado no assunto.
Definido como um processo para ampliar a atuação, conhecimento, visibilidade de uma marca, empresa, para além do seu país de origem, tornando-a conhecida internacionalmente, clubes de futebol de alguns anos para cá têm, de diversas formas, levado suas marcas para o mercado interncional. Esses têm como intuito angariar novas receitas, torcedores, telespectadores e consumidores da marca. Quanto ao negócio do futebol em si, internacionalizar-se significa aumentar a exposição da marca, o que consequentemente atrai mais investidores e patrocinadores.
É muito comum no Brasil acompanharmos a Premier League, La Liga, entre outros campeonatos, e termos um time internacional que acompanhamos mais frequentemente, ainda mais de uns anos pra cá com o advento das redes sociais, plataformas de streaming, etc. Porém, o contrário é mais raro – é difícil escutarmos relatos de torcedores estrangeiros acompanhando nossos times brasileiros, ou mesmo sabendo quem compõe o elenco dos nossos principais clubes, embora o futebol brasileiro tenha uma contribuição enorme no cenário mundial, com muitos clubes tradicionais, grandes histórias, exportando atletas espetáculares para grandes times estrangeiros.
Mas e como funciona esse processo de internacionalização? De quais formas pode acontecer? Essas perguntas podem ser respondidas do simples ao mais complexo. O simples inclui ações como ter opções de outros idiomas para navegar pelo website e redes sociais do clube, como vemos na maioria dos clubes europeus, oferecendo o Real Madrid nove línguas diferentes no seu website, o PSG oito, enquanto dentre os clubes de elite brasileiros vemos o Botafogo oferecendo sete idiomas (embora tenha várias falhas em algumas páginas que não estão necessariamente traduzidas), Santos com três e Athletico Paranaense com uma segunda opção em inglês.
Além desses três clubes brasileiros, atualmente não há outros times da série A com um segundo idioma no seu website. O ato de legendar entrevistas de jogadores, comissão técnica, também é uma forma de amplificar seu público alvo. No caso do Grêmio, agora com o Suaréz, seria de grande interesse traduzir os conteúdos para o espanhol, para que torcedores uruguaios possam acompanhar as notícias do time atual do ídolo.
Evoluindo para uma parte mais complexa do tema, para internacionalizar-se, clubes buscam parcerias seja com outros times, países, atletas que tenham um certo tipo de relação. Por exemplo, o caso do PSG que pelo fato de ter como dono um grupo do Catar, está sempre fazendo amistosos, jogando torneios no país do Oriente Médio, o que expande consideravelmente a marca pra lá em termos de conhecimento, compra de camisas, ingressos, etc. No caso do Tottenham que tem o famoso sul-coreano Son em campo como uma das estrelas do time, expande seu negócio para a terra asiática, inclusive fazendo ano passado sua pré-temporada no país.
Um grande exemplo de torneio que promove a internacionalização é o Troféu Premier League Ásia, que acontece desde 2003 a cada dois anos e conta com três times que disputam a Premier League e geralmente um do país sede, como da China, Hong Kong, Singapura, etc., locais que sediaram os eventos anteriores. A Florida Cup também é um outro exemplo. Com edições desde 2015 nos Estados Unidos, participam clubes brasileiros e outros da América Latina (embora as duas últimas edições não contaram com nenhum participante do Brasil), europeus, norte-americanos, sendo uma ótima forma de trazer um novo público para acompanhar os clubes, trazendo um contato de estrangeiros com nossos times e seus produtos.
De acordo com reportagem do Globo Esporte (por Bernando Serrado e Renata de Medeiros, 19/01/2022), após a aquisição do Botafogo por John Textor, transformando o clube em SAF, produtos do clube começaram a ser comercializados em oito países diferentes, o que dentro de apenas uma semana já representava 15% de tudo que o clube vendia pela loja oficial. Uma outra iniciativa que visa facilitar ainda mais essas vendas é abolir a necessidade do CPF na hora da compra online, o que possibilitará o estrangeiro a comprar – ainda é obrigatória a informação do CPF.
Outro ponto que clubes brasileiros tendem a focar cada vez mais agora é a transmissão dos campeonatos/jogos para o exterior, criando até eventos para transmitir jogos mais importantes, como fez a Bundesliga com o evento Bundesliga Experience Brasil em 2019, transmitindo ao vivo em um telão no Posto 10 em Ipanema, Rio de Janeiro, o clássico Bayern de Munique e Borussia Dortmund, inclusive contando com a presença de atletas brasileiros que durante a carreira jogaram na Alemanha. Ao final de 2021, com a intenção de começar a abrir as portas no mercado asiático, o clássico carioca entre Fluminense e Flamengo foi transmitido na China, usando os atletas do Flamengo camisas com o nome dos jogadores escritos em mandarim e com referências ao Ano do Boi.
Independente da estratégia usada para clubes se internacionalizarem, esse movimento é algo que com certeza estará cada vez mais presente no futebol brasileiro. Uma realidade agora também que vem de encontro com o intuito da internacionalização são os clubes fazendo um rebranding de suas marcas, atualizando-as desde a modernização de logos, diversificação de materiais para vender, buscando alcançar novos torcedores e consumidores dentro e fora do país. O futebol tem muita tradição, mas se adaptar ao mundo globalizado é imprescindível para aumentar visibilidade e consequentemente a receita.
Texto de Giovana Grassmann – GG Sports Management.