No universo referente às questões que compreendem o desenvolvimento de jovens atletas de futebol nas categorias de base existem elementos que vão muito além das quatro linhas. Muitas vezes, nem imaginamos a influência exercida por eles neste processo, pois, a complexidade de fatores envolvidos é enorme e, para aqueles que desejam trabalhar ou já atuam na área, todo e qualquer detalhe podem ser determinantes para que haja sucesso na caminhada de uma criança ou adolescente durante o período formativo.
O conjunto de fatores – hábitos, crenças, princípios e valores morais; condições físico geográficas e sociais; vestimentas, culinária regional; disputas geopolíticas, rivalidades locais -, associado às referências já existentes como, por exemplo, a história da agremiação, ídolos e conquistas, são fatores que, em muitas vezes, determinam a identidade cultural de um clube.
Seja ele um gigante do futebol brasileiro ou mesmo aquele considerado “pequeno”, que representa uma cidade ou região. Quando o assunto é a formação de jogadores (as), estas características peculiares de cada agremiação devem ser um fator pautado com muita atenção e transmitido com responsabilidade pedagógica aos atletas e profissionais integrantes do corpo de trabalho, desde o momento inicial de sua caminhada na instituição. Isso pode ser feito das mais diferentes maneiras de acordo com a faixa etária correspondente e recursos disponíveis.
Elucidar questões a respeito de como aquela instituição foi construída ao longo do tempo, quais são seus pilares, quem foram / são seus principais expoentes, além de conhecimentos gerais sobre a região na qual está inserido (principalmente para os não nativos), os aspectos físicos (clima) preponderantes, valores histórico-culturais da agremiação, que comunidade representam -, quem são os ídolos, quem foram as grandes equipes / gerações que marcaram época no clube.
Todos estes aspectos são fundamentais para a construção de qualquer programa de desenvolvimento formativo, metodologia, currículo de formação em um clube de futebol, inclusive podem ser implementados e abordados em dinâmicas de treinamento específicas.
Quando há esta coerência entre princípios culturais e ações práticas, a sensação de pertencimento, vínculo com a instituição, cidade, com a comunidade representada se fortalece. E, no momento em que este (esta) jogador (a) for promovido (a) à equipe principal carregará consigo todo esse sentimento, além dos valores comportamentais adquiridos durante todo o período de formação.
E o pontapé inicial pode ser dado antes mesmo das categorias de base, na fase de oferecimento à pratica da modalidade, onde há uma abertura muito menos seletiva, mais abrangente, principalmente com clubes que despõem de escolinhas conveniadas de futsal ou futebol adaptado (Fut-7) em diferentes localidades.
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Se o processo iniciar mais cedo, mais fácil será do menino ou menina se adaptar (mesmo que não seja nascido naquele local ou não possua raízes familiares na região). Até em projetos vinculados ao clube, franquias, núcleos ou iniciativas pontuais – como eventos de observação externa de atletas -, marcas e símbolos culturais poderão estar presentes.
Já no processo de captação de um (uma) atleta nas categorias de base, esses elementos culturais e sociais devem ser levados em consideração, pois, mesmo que haja talento o (a) jogador (a) precisará de apoio para se adaptar ao local. Do contrário, um grande potencial poderá ser desperdiçado. Por exemplo: Imagine um jovem de 15 anos vindo do interior do Piauí e vai defender um clube em Curitiba, chega à capital paranaense em julho, no inverno. Mesmo país, porém, condições gerais – clima, treinamento, hábitos, ambiente – completamente diferentes.
Há de se ter espaço no clube para adaptação e acolhimento deste (a) atleta. E não existe um tempo definido para isso, é um processo constante, que requer paciência e treino, ambientação (dentro e fora de campo).
Além disso, é importante compreender a forma como aquele clube em especial joga, como se comporta (em linhas gerais), se é mais combativo, se é mais solto, se um clube com muitos títulos, se está há muito tempo sem vencer ou vive uma fase de conquistas. Todos estes elementos impactam diretamente no contexto das categorias de base. Porém, devemos ter o devido cuidado ao zelar pelos atletas em formação para que isso não os afete ao ponto de prejudicar suas respectivas trajetórias no clube.
Em relação às competições das equipes de base (nacionais ou até mesmo internacionais), confronto entre o seu clube com “escolas diferentes”, culturas completamente distintas de jogo permite o enriquecimento do repertório do (a) jogador (a), e também, pode servir como parâmetro para elaboração novas abordagens de ensino-treinamento ou reforçar comportamentos / atitudes necessárias para o crescimento individual e coletivo das crianças e jovens em desenvolvimento.
Quando um clube realiza um trabalho focado em potencializar seus jogadores (as) deve levar em consideração todos estes elementos, pois no momento da promoção à equipe principal, tudo isto será colocado à prova. Vivências, princípios e valores que instituição for capaz de transmitir poderão dar-lhe segurança e confiança necessária para atender as demandas que aquela situação, de jogar no time profissional, em especial exigirá.
Simultaneamente, todos estes fatores servirão como um elo, uma garantia de que o presente e o futuro do clube se manterão fortalecidos e a identidade cultural de seu torcedor, de sua gente, estará representada por “mais um dos seus” em campo, lutando e consquistando cada vez mais títulos, aumentando a coleção de taças nas salas de troféus, marcando seu nome na história.
Texto de Wilson Souza.
