Em outros textos publicados aqui no FootHub, trouxemos diversas varáveis e cenários da análise de desempenho. Entretanto, há um ponto fundamental para que isso seja aplicado da melhor maneira possível: a comunicação com o atleta no processo de análise de desempenho.
O analista precisa se adaptar a qualquer contexto. Primeiro, se discute com a comissão técnica quais informações vão ser necessárias para aquele momento e como vamos dar ênfase na análise baseada no sistema de jogo do treinador.
Hoje o nosso trabalho começa pelo sistema defensivo, dando ênfase à proteção, a “organizar a casa” e depois pensamos em “como atacar”. Precisamos entender o momento e quais informações vamos passar para o atleta. É aí que entra a comunicação.
O atleta não pode receber muitas informações. Ele precisa receber informações-chave para assimilar melhor e conseguir aplicar.
A informação mais importante é sempre conforme o objetivo de treino e do modelo de jogo para a equipe. De um treino para o outro, a comissão técnica tem que dar ênfase em alguns objetivos. Não tem como fazer tudo ao mesmo tempo.
Para receber a informação, é preciso conhecer o perfil do atleta e como ele capta melhor o que está sendo passado. Nas comissões em que trabalhei, existem três formas de comunicação para com o grupo: a visual, a auditiva e a sinestésica.
Na visual, o jogador precisa observar aquela informação. Ou seja, ele precisa observar exatamente o movimento. Não só dos nossos treinos, mas situações de outras equipes dentro do nosso banco de dados uma função que outro atleta esteja fazendo exatamente aquilo. Na auditiva, ele precisa ouvir e entender como ele tem que executar a função solicitada. E na sinestésica, o atleta precisa vivenciar e fazer a ação. Ele precisa executar. Treinar. Fazer o movimento.
E como se sabe qual a melhor maneira de comunicar com o atleta? Precisamos conhecer o perfil do atleta que trabalhamos, porém não existe uma fórmula para saber com qual ação ele vai compreender melhor. Se a gente tem as três e consegue passar as três, ele vai ter todo o tipo de ferramenta ao seu dispor. Ele vai ter uma assimilação maior para executar o que está sendo pedido dentro do jogo.
As informações precisam ser curtas e objetivas. Com o tempo de trabalho, experiência e relação com o grupo, a comissão identifica o perfil de cada um e adaptando o tipo de comunicação para com todos, sem exceção. Afinal, a comunicação é para todos. De nada adianta o zagueiro saber como fazer uma cobertura defensiva se o lateral não souber quando precisa subir para o ataque. A comunicação é parceira da análise.
É um trabalho subjetivo fundamental para o processo de análise. E não existe fórmula mágica. Comunicação demanda tempo, assim como grande parte – se não a maioria – das coisas no futebol.
Texto de Michele Kanitz.