A responsabilidade social corporativa (RSC) é uma política adotada por empresas que visam promover o bem-estar social de funcionários e clientes. Nos últimos 30 anos, a RSC entrou na pauta dos negócios como uma forma de atender às demandas do consumidor moderno, que está cada vez mais exigente e preocupado em como as empresas podem ajudar a resolver problemas sociais. Ela virou uma questão central na tomada de decisões estratégicas das organizações. Sendo assim, os clubes de futebol não escaparam dessa tendência.
Mas por que instituições esportivas devem investir em políticas sociais? Antes de tudo, a RSC é uma forma dos clubes se reconectarem com suas regiões de origem. É o que vem acontecendo com pequenos clubes da Primeira Liga Francesa. As superpotências do futebol europeu possuem recursos financeiros que lhe permitem atrair fãs dos quatro cantos do mundo. Elas conseguem a atenção principalmente dos jovens que passaram a acompanhar as façanhas de Messi ou Cristiano Ronaldo a partir da tela do celular.
Isso tem um efeito preocupante para o futuro dos pequenos clubes: os jovens têm uma tendência a apoiar uma grande equipe, geralmente estrangeira, antes mesmo de pensar no clube de sua região. As instituições se veem com uma base de fãs envelhecidas e com dificuldade em atrair novos torcedores. É nesse momento que a política de RSC entra como uma forma de reconectar os clubes com a sua população local.
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Quando o clube de futebol se mostra preocupado com a sua comunidade, fica mais fácil atrair a atenção dos torcedores. O clube francês Le Havre AC começou a adotar políticas de inserção social para se posicionar como um clube popular e focado na juventude. As ações, chamadas de “operações de ancoragem”, visam justamente desenvolver o sentimento de pertencimento ao clube e à cidade. No Le Havre, os jovens do centro de formação participam também de oficinas e ateliers de inserção profissional. Outro exemplo vem de Reims. O clube da região de Champagne desenvolveu nos últimos anos políticas de combate à discriminação, campanhas de reciclagem e, até mesmo, de doação de sangue para o hospital local.
Para os clubes que já fizeram o dever de casa e se tornaram relevantes em sua área de domínio, a política RSC pode contribuir para fortalecer uma estratégia de internacionalização. O Arsenal FC, por exemplo, tem trabalhado com a associação de caridade Save the Children para melhorar as condições de vida nos campos de refugiados no Oriente Médio. O Manchester United também utilizou seus grupos de fãs na Índia para ajudar as vítimas das enchentes na região de Kerala. Existem diversas estratégias que podem ser desenvolvidas de acordo com a história e o momento de cada clube.
As políticas sociais podem ajudar também a aumentar a receita do clube. Ao impactar diferentes comunidades que cercam uma instituição esportiva, o clube pode conquistar novos simpatizantes e com isso vender mais produtos oficiais. Esse tipo de posicionamento pode atrair também novos patrocinadores que compartilham dos mesmos valores e propósitos. Adotar políticas de responsabilidade social autênticas e que fazem sentido para o clube é uma ótima forma de comunicação e fortalecimento de marca. Esse parece ser um caminho sem volta para as empresas e para as instituições esportivas.
Texto de Gabriela Matos.