Reprodução Glauber Reggiani
Recente, o zagueiro Dante deu uma declaração sobre Pep Guardiola, seu ex-treinador no Bayern de Munique. Segundo o brasileiro, o treinador leva o jogador a ter uma melhor percepção e, consequentemente, melhores decisões. Talvez sem saber, o Dante descreveu a função do treinador na perspectiva da Pedagogia Não Linear.
Essa corrente de pensamento considera que a tomada de decisão é o resultado de percepções que o indivíduo tem do contexto quando realiza uma tarefa. Para ser bom jogador, é necessário tomar boas decisões dentro de campo. E para decidir bem, é necessário ser capaz de modular o comportamento de modo a satisfazer as necessidades das diferentes situações de jogo.
Atuação do treinador na formação e desenvolvimento de atletas
Nos jogos de categorias de base, é comum detectarmos “erros” nas tomadas de decisão. Percepções desafinadas podem gerar um toque a mais, um passe a menos, um passe para trás quando já existe uma vantagem para progredir, um desmarque inadequado, etc. E o papel dos treinadores é justamente o de auxiliar essa os jovens atletas nesse processo de afinação perceptiva.
Na Pedagogia Não-Linear, o treinador é um designer. Ou seja, sua principal função é criar contextos de treino que facilitem o comportamento exploratório dos atletas e os ajude a perceber as informações mais relevantes para cada situação. Para isso, os exercícios de treino precisam entregar as mesmas propriedades informacionais do jogo. Em outras palavras, é colocar o jogador diante dos mesmos problemas que encontrará na situação real, garantindo, assim, o que chamamos de representatividade e deixando que o indivíduo encontre as melhores respostas.
Um 2 x 1 em situação de saída de pressão, no meio do campo ou próximo à meta adversária são coisas completamente diferentes, e em cada uma delas existem diferentes informações relevantes que condicionam a decisão de quem joga. E é sobre isso que o treinador precisa pensar quando cria exercícios de treino. Por exemplo, se a intenção é resolver bem um 2 x 1 próximo à meta adversária, é fundamental que o exercício de treino tenha impedimento. Caso contrário, corre-se o risco de criar movimentos e passes inadequados.
Nesse caso, a própria regra da atividade já está dando pistas e levando a percepção em determinada direção. Ainda na mesma situação, é importante que o jogador com bola saiba decidir entre condução e/ou finalização ou passe. Ele tende a ser mais ou menos eficiente de acordo com a percepção da distância, posicionamento corporal e outras informações relevantes que o adversário oferece.
Quando o atleta, de maneira autônoma, não consegue perceber e agir com eficiência, o treinador entra em ação com as instruções. Aqui, faz-se necessário entender onde está a desafinação para levar a percepção de volta às informações mais importantes, sem dar comandos.
Resumindo, o treinador atua facilitando o desenvolvimento dos atletas. Ele cria contextos intimamente ligados à situações reais, que provocam o atleta a perceber e agir. Quando o desempenho é insatisfatório, a intervenção ajuda a sintonizar a percepção com as informações mais relevantes para satisfazer as necessidades da tarefa.
Cabe ainda ressaltar que as percepções são individuais e têm relação com as características do indivíduo. Ou seja, diante da mesma situação, indivíduos diferentes percebem coisas diferentes porque têm capacidades diferentes. Compreender isso é fundamental para quem atua com a formação, pois o treino deve admitir diversas possibilidades de resolução do mesmo problema, dando todo o protagonismo para os jogadores. Mas esse é assunto para um próximo texto.
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Texto de Glauber Reggiani