Periodização Tática: Resumo dos Princípios Metodológicos aos Morfociclos.

Resumir a metodologia da Periodização Tática é sempre muito difícil tendo em vista a sua complexidade que ela sugere para entender. Se formos compreender historicamente o que aconteceu com os métodos no Futebol, veremos que houve um desenvolvimento e aperfeiçoamento ao longo dos anos. Há algumas décadas, a preparação física no futebol era, quase que exclusivamente, planejada por profissionais do atletismo. Com o tempo, constatou-se a necessidade do treinamento ser o mais específico possível para a modalidade e, talvez, este seja o grande trunfo da Periodização Tática: treinar em especificidade o jogo que se quer.

A verdade é que a Periodização Tática, em momento algum, dita a forma de se jogar; isto pertence ao conhecimento de cada treinador e como ele acredita que se deve jogar, nada além disso. A grande questão é que a Periodização Tática padroniza, através de princípios, o jogar do micro ao macro, unindo conhecimento tático e físico.

Leia “Os espaços no futebol não se alteraram, apenas mudaram de prioridade” de Leonardo Monteiro.

A primeira parte que devemos entender é que o que chamamos comumente de microciclo, refere-se ao Morfociclo, onde o jogo é o balizador deste período de tempo. O morfociclo é estruturado a partir do jogo de início e do próximo jogo da equipe. Nesta preparação semanal do jogar, deve-se ter em conta quatro aspectos: as ideias de jogo do treinador, o respeito à periodização, os fatos que ocorreram no jogo anterior e as perspectivas para o jogo seguinte.

Este modelo tem três princípios metodológicos:

  1. Propensões: significa prever contextos de treino e de jogo. Por consequência, se treina embasado no que se quer da equipe e o que virá no próximo jogo. Importância significativa de analistas e auxiliares para compreender os fenômenos gerados em jogos passados, os fenômenos que o adversário irá propor em jogos futuros e, principalmente, elaborar treinos e exercícios que sejam específicos para o jogar da equipe.
  2. Alternância horizontal: resumidamente, precisamos que as cargas e recuperações fisiológicas e mentais sejam ótimas. Neste caso, os fisiologistas, preparadores e recuperadores físicos têm importância ímpar no processo.
  3. Progressão complexa: significa hierarquizar prioridades, ou seja, uma vez que eu detecto aspectos a melhorar no meu jogar, eu devo criar contextos para melhorá-lo e priorizá-lo dentro do meu morfociclo. Se eu consigo detectar aspectos já enquadrados com o modelo de jogo, não posso deixar de perder aquela forma ou até mesmo renová-la.

Do ponto de vista prático, o que ocorre? Sabe-se que o jogador leva uma média de quatro dias para a recuperação completa, tanto do ponto de vista fisiológico (24 a 72 horas) quanto do ponto de vista mental e emocional (3 a 7 dias). A partir deste momento, deve-se entender que se a recuperação for ineficaz, o modelo de jogo tende a ruir em virtude dos desgastes que implicam na forma de jogar da equipe. É claro que o calendário do futebol impede a recuperação completa na grande maioria dos clubes de elite, mas, ainda que haja dificuldades neste caminho, existem morfociclos balizadores para organizar a equipe.

Morfociclo com jogo de domingo a domingo

DomingoSegundaTerçaQuartaQuintaSextaSábadoDomingo
JogoFolga ou Recuperação ativaRecuperação ativa ou FolgaTensãoDuraçãoVelocidadeRecuperação direcionadaJogo

Basicamente, o que podemos entender deste modelo?

*Jogos balizando o início e o fim da “semana”;

*Quando se folga na segunda-feira, se recupera de forma ativa na terça. Caso a recuperação seja na segunda, se folga na terça-feira;

*Dia da tensão é quando o jogador atinge, pelo GPS, o maior número de desacelerações. É o dia em que se tem mais contrações excêntricas, com espaços reduzidos, trabalhando comportamentos técnico-táticos e relações micro ou micro-meso;

*Quinta-feira se caracteriza pelo dia com maior proximidade específica do dia de jogo, com tempos mais extensos e espaços quase totais do campo, potencializando comportamentos técnico-táticos e relações macro;

*Sexta-feira se caracteriza por relações meso-macro com espaços de média escala, uma vez que, para se atingir a velocidade máxima, o atleta deve acelerar por mais de 20 metros, pelo menos. O objetivo do atleta neste dia é que ele chegue próximo aos valores máximos de velocidade;

*Sábado é o dia em que o principal objetivo do jogador é treinar o mínimo para acelerar a recuperação, fazendo ajustes posicionais, de bolas paradas ou simplesmente dando momentos de descontração mental;

*Os dias de Tensão, Duração e Velocidade são consideradas os aquisitivos do jogar.

Morfociclo com jogo de domingo a domingo

DomingoSegundaTerçaQuartaQuintaSextaSábado
JogoFolga ou Recuperação ativaRecuperação ativa ou FolgaTensãoVelocidadeRecuperação direcionadaJogo

Neste modelo, se retira o macro (duração) uma vez que este dia significa uma carga semelhante ao jogo. Como a recuperação deste dia seria impossível (não chegaria a 72 horas) até sábado (jogo seguinte), o período aquisitivo se resume à quarta (tensão) e quinta (velocidade) para que haja recuperação completa.

Morfociclo com jogo domingo-quarta-domingo

DomingoSegundaTerçaQuartaQuintaSextaSábadoDomingo
JogoFolga ou Recuperação ativaRecuperação direcionadaJogoFolgaRecuperação ativaRecuperação direcionadaJogo

Nesta situação, em que muitas equipes que disputam competições internacionais se encontram, a semana é estruturada sem qualquer dia aquisitivo, apenas recuperando os jogadores dos jogos de forma ativa (pós-jogo) ou direcionada (pré-jogo).

Morfociclo com jogo domingo-quarta-sábado

DomingoSegundaTerçaQuartaQuintaSextaSábadoDomingo
JogoRecuperação ativaRecuperação direcionadaJogoRecuperação ativaRecuperação direcionadaJogoFolga

Assim como no exemplo anterior, este morfociclo se encontra repleto de recuperações ativas e direcionadas, pois pouco se pode fazer, uma vez que os atletas não dispõem de, pelo menos, 72 horas ou mais entre um jogo e outro. A grande questão é que no momento seguinte a estes 7 dias com 3 jogos, a folga é obrigatória.

É importante ressaltar que, em momento algum da formação destes morfociclos, se constata a forma de jogar da equipe do ponto de vista tático. O que há é uma tentativa de se potencializar o atleta através de cargas e de recuperações físicas, além da hierarquização de conteúdos.

Referências

Pivetti, B. M. (2020). Periodização tática: o futebol-arte alicerçado em critérios. Phorte Editora.

Tamarit, X., & Frade, V. (2013). Periodización táctica vs Periodización táctica. Management for Business in Football (MBF).

Tobar, J.B. (2018). Periodização tática: entender e aprofundar a metodologia que revolucionou o treino do futebol. Primebooks.

           

Texto escrito por Leonardo Monteiro.

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