Gramados sintéticos são a solução ou o problema?

Na série A do Campeonato Brasileiro, 3 estádios possuem um gramado 100% sintético

Allianz Parque foi o segundo estádio do Brasileirão a colocar gramado sintético

Um dos assuntos que mais movimenta discussões no futebol brasileiro atualmente é a qualidade dos gramados. Alguns clubes, optaram pelo sintético, por diversos motivos, como a dificuldade de manter o gramado em perfeitas condições de jogo. Os estádios que possuem a grama 100% sintética são Athletico Paranaense, Palmeiras e mais recentemente, o Botafogo.

Uma das principais razões para a escolha desses gramados é a durabilidade e a manutenção reduzida, diminuindo atividades como irrigação, corte e reparos. Enquanto os gramados naturais requerem cuidados constantes, os sintéticos exigem apenas manutenção básica, tornando os campos artificiais uma opção mais viável financeiramente para clubes com orçamentos limitados, pois os custos de manutenção são reduzidos significativamente.

Outra vantagem é a uniformidade do jogo, pois um gramado natural pode apresentar áreas com diferentes níveis de irregularidades, e os sintéticos oferecem uma superfície mais consistente e previsível. Isso permite que os jogadores desenvolvam melhor suas habilidades técnicas, como passe, controle de bola e dribles, pois a bola se move de maneira mais uniforme e previsível. 

Calleri, atacante do São Paulo, ressaltou essa uniformidade na entrevista após a estreia no novo gramado do Nilton Santos na primeira rodada do Brasileirão de 2023 contra o Botafogo.

Fiquei surpreso com o gramado do Botafogo. Não sei se foi porque foi o primeiro jogo, porque ninguém jogou ainda. Mas eu achei muito, muito bom. É muito diferente do Palmeiras e do Athletico-PR. Eu gostei demais. Dava para jogar. Os dois times jogaram com a bola no chão. O campo é muito bonito, o gramado aguenta um ano inteiro assimAcho que vai ser um dos melhores gramados do Brasil.”

Gramado do Nilton Santos

Além disso, os gramados sintéticos permitem uma utilização mais intensiva dos campos, enquanto os naturais podem sofrer desgaste excessivo após várias partidas, ou quando recebem eventos além do futebol, como shows. Os gramados artificiais são mais resistentes e podem suportar uma carga de jogos mais alta, sendo uma ótima solução para clubes que têm que compartilhar o mesmo campo com outras equipes, como Flamengo e Fluminense, no caso do Maracanã, e América MG, Atlético e Cruzeiro, que utilizam o Independência e o Mineirão em períodos próximos.

Inclusive, no último sábado, Gabigol e Marcos Braz discutiram no intervalo do jogo com o Fortaleza, após o atacante criticar a condição do gramado do Maracanã. Ele se machucou sozinho, por causa de buracos no campo, e teve que ser substituído no intervalo. Esta foi a segunda lesão de Gabigol por causa da má condição do gramado desde que chegou ao Flamengo. Em 2020, em partida contra o Independiente del Valle, pela Libertadores, o atacante sofreu um problema no tornozelo direito, que o tirou de campo por 40 dias.

Gabigol lesionando o tornozelo na partida contra o Fortaleza (Premiere)

Leia: A precificação que afasta o torcedor

Por Willian Sanmartin

O CEO da Soccer Grass Brasil, Alessandro Oliveira, responsável pelo gramado do Allianz Parque, em entrevista para o R7 Esportes, relatou diversos benefícios do gramado sintético, como a diminuição da ocorrência de lesões nos atletas, redução nos custos com manutenção para o clube, além de conseguir manter o gramado com boas condições de jogo para proporcionar um jogo mais regular. 

Sobre as lesões, um relatório sobre gramas sintéticas divulgado, no início de 2023, pelo jornal britânico The Guardian, afirma que há uma possível relação entre um câncer raro no cérebro que provocou a morte de seis atletas da liga americana de beisebol e as substâncias químicas utilizadas na composição de gramados sintéticos. Segundo a reportagem, toda a grama artificial é feita com compostos tóxicos de PFAS e alguns tipos ainda são produzidos com pneus reciclados que podem conter metais pesados, benzeno, compostos orgânicos voláteis e outros carcinógenos, e um número crescente de municípios e estados dos EUA os proibiu ou propôs bani-los.

“As gramas fabricadas até o início de 2000 tinham metais pesados na fabricação dos fios, assim como boa parte dos materiais de plásticos que precisavam manter a cor. Porém, desde então, estes metais não são mais usados, e o caso dos jogadores de beisebol é daquela época“, afirmou Oliveira. Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass Brasil, em entrevista ao portal R7.

O tema voltou aos holofotes agora, porque a Eredivisie proibiu os gramados 100% sintéticos na Holanda a partir de julho/2025A justificativa é que está sendo observado um aumento de lesões, além de um comportamento radicalmente diferente da bola. Estudos no país concluíram que o material aumenta o risco de câncer nos jogadores (como apontado pelo The Guardian em março). 

Desse modo, estão permitidos gramado híbrido e, obviamente, natural. No Brasil temos dois casos de estádios com campo 90% natural, e 10% sintético, como é o caso do Maracanã e da Neo Química Arena.

Gramados híbridos são uma tecnologia para reforçar gramados naturais por meio de fibras sintéticas. Essa novidade promete dobrar a capacidade de uso dos gramados naturais”.

Rodrigo Santos

Rodrigo Santos é Coordenador do Centro de Gramados Esportivos Itograss, e afirma que essa tecnologia traz algumas vantagens para o gramado natural, principalmente estabilidade ao perfil do solo, uniformidade ao gramado e uma drenagem mais eficiente. 

Parc des Princes aplicando o gramado híbrido

Além disso, a aparência e sensibilidade se mantém 100% natural, mantendo o campo estável e suave, deixando-o eficiente para a prática do futebol e a realização de eventos.

Para Rodrigo, os gramados naturais serão sempre a melhor solução para as arenas esportivas. Só eles oferecem aos atletas a segurança e a jogabilidade ideal para desempenharem suas atividades.

Mas como diz Fernando Carvalho no curso Executivo de Futebol do FootHub Para cada realidade uma verdade”, ou seja, a grama natural pode ser a melhor opção para que os jogadores possam apresentar o melhor espetáculo possível para os torcedores, mas cabe aos clubes realizar uma análise das condições do seu estádio, da situação financeira, e assim decidir em mantê-la, ou fazer um investimento para o gramado híbrido ou o sintético.

Texto de Willian Sanmartin

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