Por vezes, ao acompanharmos um determinado time de futebol, questionamos as peças escolhidas pelo treinador na escalação inicial, as suas intenções ao colocá-las em campo e, na maioria das vezes, a Organização Estrutural, conhecida popularmente como sistema tático.
O último fator, como bem se sabe, contempla um conjunto de combinações numéricas que significa, tão somente, a disposição dos atletas em campo, podendo variar de acordo com quatro fases do jogo, quais sejam os momentos de organização ofensiva e defensiva, bem como as transições ofensivas e defensivas.
A mudança de organização estrutural das equipes, em cada fase do jogo, se trata de movimento mais do que natural, pois determinado time, por exemplo, com estrutura base em 1-4-3-3, ao organizar-se ofensivamente, passa a se apresentar em 1-3-2-5, modificação, inclusive, ocorrente com diversas equipes e seleções ao redor do mundo no momento, inexistindo, portanto, um engessamento de esquema dentro do contexto e das fases de cada jogo.
Apenas para que se tenha ideia da quantidade de sistemas utilizados em determinadas fases do jogo, há de ser pontuado, com base nas informações contidas na obra escrita por Martí Perarnau e denominada “Pep Guardiola: A Evolução”, que o treinador Pep Guardiola, ao longo da sua passagem pelo Bayern FC, utilizou 23 módulos de jogo diferentes, acrescentando a observação de que Marcelo Bielsa, grande técnico e personalidade do futebol, catalogou o numerário de 29 módulos de jogo como cifra total que um time de futebol pode praticar.
Não se pode perder de vista, partindo de uma determinada organização estrutural, seja em 1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-4-1-4-1, 1-3-5-2 e diversos outros, que a função de um determinado atleta, independentemente da posição ocupada, pode manifestar-se com singularidade, implicando na diferenciação de comportamento de duas equipes estruturadas com formatações iguais.
Na perspectiva de uma organização estrutural em 1-4-2-3-1, por exemplo, é possível que em um determinado contexto o atacante sejam um nove móvel e esteja mais presente no momento ofensivo, ao tempo que, ainda na mesma formatação, é possível ter um nove com maior propensão a esperar o último passe para finalizar e se movimente menos, situações que, muito embora não tenham modificado o numerário responsável por descrever a disposição base das peças da equipe em determinado momento do jogo, denotam comportamentos completamente diferentes.
Ademais, há de se dizer, dada a singularidade inata ao ser humano, que o atleta detém sua característica própria em razão das suas aptidões físicas, psicológicas e formativas, peculiaridade que perfaz o seu estilo de jogo, a forma que enxerga o esporte e, assim, o encaminha para execução de determinadas funções em campo, restando, assim, evidenciada a importância da função dentro da organização de uma equipe e no melhor aproveitamento do atleta.
Mais importante que esta plataforma de números, são as características que se pretende desenvolver ao longo do trabalho executado, questão que, inclusive, está embutida no modelo de jogo já mencionado e será desenvolvida pelo treinador independentemente da formatação estrutural escolhida.
Ou seja, é possível, por exemplo, que uma equipe reativa, defendendo atrás da linha da bola e utilizando passes mais diretos, se apresente no 1-4-4-2, no 1-4-3-3, no 1-4-2-3-1, no 1-5-4-1 e muitos outras formatações, não importando, portanto, a organização estrutural utilizada, mas sim a ideia do que fazer nos momentos com bola ou sem bola ao longo do jogo.
As diversas Organizações Estruturais existentes e utilizadas por cada equipe nada mais significam do que fragmentos de um modelo de jogo bem executado, podendo variar em cada fase do jogo, estando, assim, em conformidade com as características de atletas, equipes, cultura do clube e uma série de outros fatores que compreendem o sistema maior.
Como se depreende do texto denominado “O Que é Modelo de Jogo?”, escrito por mim e disponibilizado nesta coluna semanal, fica aclarado que explicar e, mais ainda, entender o modelo de jogo não consiste em tarefa simples, pois o instituto também está vinculado a cada fase de uma partida de futebol, quais sejam, em total alinho com a literatura portuguesa, os momentos de organização ofensiva e defensiva, de transições ofensivas e defensivas, bem como, ainda que não seja uníssono na seara acadêmica, das bolas paradas.
Neste sentido, percebe-se que a execução das ações, com a bola ou sem ela, são mais importantes do que o apontamento de um sistema ideal, mesmo porque, cabe pontuar, até as mesmas organizações estruturais, a exemplo de equipes que estão formatadas em 1-4-4-2, podem funcionar de maneiras distintas, sendo pertinente observar se há a adoção de um estilo mais vertical ou mais paciente e apoiado, o alargamento do campo, a criação da profundidade e as peças envolvidas para tanto, as superioridades dos mais variados tipos criadas e em quais setores ocorrem, o comportamento coletivo se manifesta em face da perda da posse e, por consequência, no instante da recuperação, além de tantas outros fatores que, devido a sua importância, merecem abordagem em espaço próprio.
Considerados os fatores abordados acima no contexto de confronto representados por atletas, comissões técnicas, suplentes, diretorias, contextos culturais diferentes e tantos outros, torna-se extremamente improdutivo o debate para eleger uma determinada organização estrutural, dentre as mais variadas possibilidades, como sendo a ideal, pois não se pode desconsiderar os diversos fatores que circundam a equipe em específico para escolha de qualquer plataforma de jogo.
Apesar de parecer simples, o futebol é mais complexo do que parece e o seu entendimento permite a concepção macro em razão dos pormenores desse esporte maravilhoso.
Destarte, em face das questões postas e das interações complexas entre os sistemas que perfazem o cenário de uma equipe de futebol, parece premente a disseminação no pensamento de que não existe fórmula mágica para apontar a organização estrutural melhor ou pior, porquanto, em verdade, independentemente do sistema tático, o que existem são escolhas com base no contexto e a necessidade de se enxergar o jogo sob uma perspectiva sistêmica, tendo vários elementos entrelaçados e que precisam caminhar juntos num trilho só.
Texto de Mauro Maia, de Los Futebólicos!