Foto: Fernando Vasconcelos/Agência Esportiva LB
No universo do futebol brasileiro, a formação de jogadores nas categorias de base é um pilar fundamental para o florescimento e a sustentabilidade do esporte no país. A realidade, porém, se mostra desafiadora, especialmente à luz dos resultados observados na Copa do Brasil Sub-17, onde participam os campeões estaduais. As goleadas sem precedentes vistas neste torneio refletem um cenário de preocupação: a formação de atletas está altamente concentrada em um restrito grupo de clubes. Esta centralização revela uma disparidade significativa em termos de investimento, infraestrutura e metodologias de treinamento, que, por sua vez, espelha a desigualdade estrutural entre os clubes do país.
Os clubes com forte grupo de investidores e alguns clubes de elite, conseguem oferecer uma formação de alta qualidade, resultado direto de maiores recursos financeiros que possibilitam investimentos em melhores instalações, contratação de profissionais altamente qualificados e a implementação de metodologias de treinamento avançadas. Contudo, é essencial ressaltar que a excelência em formação não depende exclusivamente de altos investimentos, mas também da aplicação inteligente de metodologias eficazes que podem ser adaptadas a diferentes realidades financeiras.
Desafios da Formação
A concentração de recursos em poucos clubes acarreta não só uma limitação na diversidade de talentos emergentes mas também uma negligência com os potenciais talentos situados em regiões menos privilegiadas do país. Esses jovens atletas muitas vezes não recebem o desenvolvimento adequado ou são completamente ignorados, diminuindo assim a probabilidade de descoberta de novos talentos que poderiam enriquecer tanto o futebol nacional quanto o internacional.
Para confrontar esse cenário, é crucial a implementação de políticas que visem à distribuição mais equitativa de recursos e oportunidades entre os clubes, independentemente de seu tamanho ou poder financeiro. Essas estratégias poderiam incluir o incentivo à formação de parcerias entre clubes grandes e pequenos para o compartilhamento de conhecimentos, metodologias e recursos, bem como o aumento de investimentos em infraestrutura e programas de formação nas categorias de base em todo o país.
Além disso, é imperativo que os projetos esportivos compreendam seu papel fundamental no processo de formação de jogadores, reconhecendo a necessidade de ampliar o número de projetos estruturados que possam fornecer suporte financeiro e estrutural. As federações desempenham um papel crítico nesse contexto, necessitando agir ativamente na fiscalização e penalização de clubes que operam sem critérios profissionais e estruturados, muitas vezes visando apenas o lucro imediato sem o compromisso com a formação de qualidade e colocando em risco a vida de adolescentes.
A realidade distante de uma gestão esportiva ideal no Brasil, no entanto, não deve ser vista como um obstáculo intransponível. Pelo contrário, deve ser um chamado à ação para todos os envolvidos no futebol nacional. A criação de meios para que os clubes de menor expressão possam investir de maneira significativa na formação de atletas é vital. Isso implica não apenas uma revisão das práticas de alocação de recursos financeiros, muitas vezes direcionados para fins duvidosos, mas também um compromisso com o investimento efetivo no desenvolvimento esportivo.
Para transformar o cenário atual e promover um desenvolvimento mais equilibrado e inclusivo do futebol nacional, é indispensável uma mudança de paradigma. Isso envolve não apenas uma maior distribuição de recursos, mas também um investimento substancial em educação e infraestrutura nas regiões menos desenvolvidas, visando cultivar e desenvolver talentos locais.
Em suma, a formação de jogadores no Brasil enfrenta desafios consideráveis, todos os debates voltados a formação dos clubes e o desempenho de nossa seleção nacional, acabam esquecendo de levantar esta bandeira básica que envolve o futebol como um todo, focam na formação dos grandes, esquecendo que existem milhares de clubes esportivos no Brasil que fazem o processo de formação do “seu jeito”. Para alterar essa dinâmica, é essencial a adoção de estratégias que assegurem a democratização do acesso à formação de qualidade. Só assim será possível garantir um desenvolvimento mais harmonioso e inclusivo do futebol nacional, reforçando o futebol brasileiro como um todo.
Texto de Tiago Borges
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