Sempre usei jogos de campeonatos brasileiros séries A e B para observar jogadores jovens e desconhecidos para após, se possível, tentar contratar. O olhar inicial era desprovido de análise tática, da ação coletiva, da avaliação de intensidade medida e da participação sem bola. Após reiteradas observações, caso o atleta chamasse atenção, fosse decisivo nas ações de sua equipe, aí sim recorria à avaliação mais detida, com scouts, treinadores, coordenadores de base, enfim, especialistas em quem confiava, existentes no ambiente de futebol.
Somente após essa sequência de fatos e ações, formava meu conceito e procurava saber das condições do respectivo atleta. Nesse sentido, quero dividir com leitores e seguidores do FootHub algumas observações que fiz esse ano nas séries A e B nacionais, quando identifiquei vários novos valores no futebol brasileiro que certamente serão competitivos, comerciais e destacados nas suas carreiras.
Adotarei como critério atletas que apareceram com mais destaque esse ano, uns fixando titularidade outros com sistemáticos ingressos em seus respectivos times titulares.
Na série B, na qual não assisti a muitos jogos, poucos atletas jovens chamaram atenção a começar por Bitelo do Grêmio, meia/volante, intenso, com muita movimentação e competitividade. Outro a destacar na região Sul é Fernando, lateral-esquerdo da Chapecoense, bom marcador e apoiador consequente, tendo a evoluir no posicionamento defensivo, na formação da linha de 4.
No Vasco da Gama surgiram três atletas de muito futuro: os volantes/meias Andrey Santos (intenso, habilidoso, competitivo e com jogada individual), Marlon Gomes (intenso e competitivo, jogando ultimamente como extrema na composição) e Figueiredo (atacante de movimentação, mas que tem sido usado com extrema, com ótimo arremate, movediço e com presença de área).
Já na série A, assisti a quase todos os jogos, indicando safra maravilhosa com uma gama imensa de novos atletas competitivos, com muita técnica, habilidade e intensidade. No Santos, a dupla Angelo (canhoto que atua na extrema direita, rápido e habilidoso) e Marcos Leonardo (atacante forte, boa velocidade, ótimo posicionamento na área, afora ser exímio definidor).
Do Furacão Paranaense surgem o goleiro Bento (ágil, de movimentos rápidos, ótimo posicionamento, boa saída de gol e razoável atuação com os pés) e Vitor Roque (egresso do Cruzeiro, pelo qual atuou metade da série B, é um atacante puro que pode atuar também no lado, criativo, veloz, definidor e aguenta o choque, apesar de muito jovem).
No Celeiro de Ases Colorado, buscados em plagas distantes, surgiram Vitão (verdadeiro achado em meio à guerra Rússia/Ucrânia, zagueiro com envergadura, alto, técnico, forte, bom cabeceio, imposição física) e Maurício (vindo do Cruzeiro no final de 2020, somente nesta temporada começando a mostrar suas reais condições, embora ainda não titular). É um meia hábil, de bom arremate, mas precisa melhorar no item combatividade, pois atua em zona conflagrada do campo, onde essa condição é essencial.
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No Leão do Pici, sobressaiu o volante Hércules, ainda em busca de titularidade, com boa técnica, muita movimentação e arremate de fora da área. Em Xerém, no Pó de Arroz, surgiu André, talvez o melhor número 5 do certame (volante posicionado, carteador, ótimo enfrentamento na marcação, atleta que deu segurança defensiva ao vulnerável sistema de jogo de Fernando Diniz que somente no Fluminense alcançou algum equilíbrio).
No Coritiba e no Avaí, que disputam rebaixamento, surgiram e já foram vendidos o extrema Igor Paixão (rápido, competitivo e bom definidor) e Artur Chaves (zagueiro, bom porte, bom cabeceio e muito rápido, que, ao ser transferido, causou fissura na defesa catarinense, que passou a frequentar zona cinzenta do principal certame nacional).
Do Alviverde imponente e do Ninho do Urubu, que hoje fazem os melhores trabalhos de base do país, apareceram Endrick (16 anos, atacante múltiplo, verdadeiro fenômeno pela maturidade, apesar da tenra idade) e o volante canhoto Danilo (que aliás já é uma confirmação do ano passado quando apresentou ingressos esporádicos no time titular). Já do Rubro-Negro, foram apresentados três promissores players. São eles João Gomes (volante, titular incontestável, relegando o grande chileno Arturo Vidal ao banco), Vitor Hugo (habilidoso, intenso e competitivo meia volante) e aquele que considero verdadeira “mosca branca” da temporada: Matheus França (meia-atacante, também de múltiplas características, que disputa com Endrick, nesta lista, o adjetivo de fenômeno.
De Cotia, o São Paulo extraiu Rodrigo Nestor (meia canhoto, de ótima movimentação, bom arremate e boa intensidade), Pablo (volante de marcação, viril, com bom posicionamento e bom passe) e Welington (lateral-esquerdo, com ótimo apoio, merecendo reparos na fase defensiva).
Do Cuiabá, restou confirmada a figura de Pepê, formado no Flamengo, inesgotável celeiro, meia volante, intenso, área a área, competitivo, ótimo passe e bom arremate. Na mesma faixa de classificação, o Juventude, na parte final da sua participação, apresentou Ruan, meia atacante/extrema, habilidoso, rápido, bom arremate, porém, como tem 17 anos, merece melhor observação.
Finalizando um trio do Timão, clube também com bom trabalho de base, que revelou Du Queiroz, volante, Raul Gustavo, ótimo zagueiro canhoto, – muito buscado no futebol europeu – e Adson, atacante de lado, boa velocidade e potente arremate de meia distância.
Agora vamos aguardar a sequência das carreiras e ver se a avaliação foi bem feita.
Texto de Fernando Carvalho.