Foto: Divulgação
O processo de iniciação ao futebol no Brasil, ocorre de diferentes formas em todo o seu território, tendo em vista o contexto social, cultural e esportivo de cada localidade. Como é de conhecimento de todos, perdemos há tempos, a essência do futebol de rua, com a prática espontânea e livre em que a maioria das crianças aprendiam a jogar e competir com a modalidade livremente.
Diante desse contexto, faz-se necessário promover estratégias que possam contemplar o processo de ensino aprendizagem do futebol, nos mais diferentes níveis de ensino, criando um cenário positivo e favorável para o desenvolvimento de novos talentos. A formação do jovem atleta deve contemplar uma grande diversidade de experiências com a modalidade, envolvendo vivencias lúdicas de práticas livres e espontâneas, treinamentos orientados e competições, dentre tantas oportunidades de aprendizados dentro e fora do esporte.
O esporte na infância exige a construção de um ambiente seguro, que possibilite o desenvolvimento harmônico das capacidades e habilidades das crianças. A organização do contexto deve facilitar o estabelecimento de interações positivas entre os diferentes envolvidos no cenário esportivo, proporcionando uma formação esportiva adequada da infância até a vida adulta.
Diante desse cenário, a competição faz parte do processo de formação, desenvolvimento e performance no futebol, sendo fator preponderante no quesito motivacional e de envolvimento com o esporte. Para tanto, precisa ser apropriada as necessidades e características das crianças, respeitando os gostos e aspirações e adequando a organização do jogo conforme as possibilidades das crianças.
Neste sentido, durante a formação é preciso pensar e planejar como utilizar a competição, criando um processo metodológico bem definido, com transições entre as faixas etárias, baseadas em uma sequência pedagógica e progressiva de desenvolvimento dos conteúdos, diversificação de experiências e adequação das formas de jogar.
A poucos anos atrás o que via-se no processo de formação do futebol, era a prática do futsal e do futebol de campo (11×11), que por vezes eram praticados separados ou simultâneos, nas escolas, escolas de esporte e clubes. Acredito que neste processo, o futsal como ferramenta de treino e competição, tinha papel fundamental na fase inicial da formação. Porém, o que acontecia muitas vezes, era uma transição desajustada de atletas do futsal diretamente para o campo 11, onde não eram todos os atletas que conseguiam desempenhar em mesmo nível no futsal e no futebol.
Diante disso, surgiram as discussões e propostas adaptativas que contemplam um cenário mais favorável, progressivo de treino e de competição para o ensino do futebol, que tornaram este processo de transição entre categorias/faixas etárias mais justo e adaptado as características biopsicossociais dos atletas. São vários exemplos, já existentes, nos quais trouxe para exemplificar, os cases de São Paulo e Rio Grande do Sul.
Como um dos exemplos, no estado de São Paulo, desde 2016, foi criada a adaptação de regras para as Categorias Sub 11, com adaptação no tamanho do campo, traves e bola. Em 2023, foi criado a adaptação também para a Categoria Sub 12.
Figura 1 – Produzida por Marcelo Freitas Prestes
Cabe ressaltar que a ilustração acima, diz respeito ao cenário competitivo na Iniciação dos 5 clubes Paulistas da Série A do Campeonato Brasileiro. Acredito ser importante citar que a figura remete a um exemplo das principais competições disputadas, sabendo que não são todos os clubes que participam de todas as competições e categorias disponíveis. Além disso, a maioria dos clubes, busca competições em todo o território nacional para complementar o seu calendário competitivo.
No estado do Rio Grande do Sul, também foi construído um modelo de progressão utilizando-se das adaptações de espaço, traves, regras e nº de jogadores. As competições em modelo adaptado foram introduzidas a partir do ano 2021 (Estadual Noligafi), após um período de testes e criação conjunta entre os clubes.
Os clubes gaúchos também participam do Sulbrasileiro BG Prime, competição que reúne equipes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, nas categorias de iniciação (Sub 09 a Sub 13) e base (Sub 14 a Sub 20). No ano de 2024, como novidade para os clubes gaúchos, surge a criação do Estadual Sub 13, promovido pela Federação Gaúcha de Futebol, existindo a perspectiva futura de ampliação destas iniciativas.
Importante frisar, que assim como em São Paulo, as competições estão disponíveis, mas nem sempre são disputadas em todas as categorias e modalidades. O Internacional e o Grêmio, por exemplo, não realizam treinos e competições no Futsal, onde essa prática é realizada pelos jovens atletas de forma concomitante as práticas do clube, em projetos/escolas de futsal do estado.
Figura 2 – Produzida por Marcelo Freitas Prestes.
Neste sentido, como podemos ver, o processo formativo no Brasil, vem construindo novas perspectivas na progressão metodológica de ensino e treino no futebol. No entanto, percebe-se que é um processo recente, com menos de 10 anos, o que com certeza irá gerar novas perspectivas e qualificação das práticas vigentes.
Importante ressaltar, que na perspectiva da formação, a maior discussão/construção a ser feita, diz respeito ao processo de transição progressivo dos conteúdos, espaços de jogo, regras de ação e nível de complexidade, buscando adaptar o jogo de futebol as características e ao contexto biopsicossocial das crianças envolvidas.
Reforço que não existe, na minha opinião, um único caminho. Não acredito ser o Futsal, ou Futebol 7, ou o Futebol 9, a única verdade do futebol adaptado para os jovens, mas sim, a construção de um processo de formação coerente e condizente com o contexto de cada escola/clube.
Tratando-se das condições do jogo, o tamanho do campo, da bola e das balizas, bem como o número de jogadores e a regras necessitam ser adequadas para a prática das crianças. Faz-se necessário que a qualidade e a quantidade das práticas, possam ofertar vivências significativas de treino e jogo a todos, visando o desenvolvimento dos aspectos técnicos, físico-motores, táticos e comportamentais de cada criança envolvida.
Exemplifico abaixo, um modelo de progressão elaborado e pensado, em tudo aquilo que discutimos durante este texto e nas minhas vivências práticas e teóricas, visando a exploração de um cenário propicio a transição dos atletas em cada faixa etária e contexto. Ressalto que este é um modelo construído como exemplo e não necessariamente, esteja sendo aplicado.
Figura 3 – Produzida por Marcelo Freitas Prestes
Por fim, destaco alguns pontos que precisam ser pensados, no cenário de formação, que dizem respeito a competição. O ato de competir não deve significar, ganhar ou perder, mas trazer a possibilidade de mostrar o quanto se evolui na participação em determinada modalidade esportiva e o quanto as crianças aprendem a resolver problemas e tomar decisões, mesmo que equivocadas em determinado momento (sim, também é importante ganhar/perder/errar/acertar/aprender no processo formativo).
O ambiente esportivo deve estimular a educação, a saúde e a permanência das crianças em longo prazo. Além disso, é muito importante, refletir sobre o ambiente de pressão e stress que pode ser gerado a partir dos pais/familiares, professores, árbitros, torcedores e gestores. Faz-se necessário a educação e postura de todos os envolvidos, principalmente os adultos, que podem ser estimulados a partir de diálogos, palestras e materiais educativos, sendo fundamental a orientação dos clubes e instituições organizadoras das competições.
Concluo abordando a questão do efeito da idade relativa. É preciso estar atento as questões do desenvolvimento físico e maturacional dos atletas, pois este fator pode ser muito impactante no desempenho individual e coletivo no futebol de formação. O melhor jogador Sub 9, nem sempre será o melhor jogador Sub 11 e o melhor Sub 11, sem sempre será o melhor jogador Sub 13.
Espero poder ter contribuído para a discussão e reflexão de todos em relação ao processo formativo e a competição nos mais diferentes níveis.
Texto de Marcelo Freitas Prestes
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