No Brasil, a liga nacional começa com ao menos 12 clubes com expectativa de título, pouco importando se as condições são favoráveis ou nem tanto.
Neste sentido, resta observado um grandioso problema, pois, ainda que os doze tenham excelentes trabalhos, algum clube ficará, no mínimo, em décimo segundo colocado, posição que, considerada a expectativa de título, significa uma longa queda.
Cada um dentro do clube sente essa pressão gerada pela exacerbada expectativa de alguma maneira e tenta administrá-la da melhor forma possível, mas, do dirigente no ar-condicionado ao jogador que acabou de subir da divisão de base, todos sentirão esse peso e isso, de alguma maneira, afetará suas ações.
Neste contexto, aparece o Fluminense. Um dos gigantes clubes brasileiros, que sofreu (mais) um grande baque em 2014, quando viu a tumultuada, mas vitoriosa parceria com a Unimed, a qual garantia investimentos pesados no futebol, chegar ao seu fim. Daí em diante, as gestões do Fluminense tiveram que ponderar os investimentos em jogadores renomados e apostar cada vez mais nos jovens talentos.
Podemos pontuar aqui um ponto interessante: no Brasil, existe o mantra de que o jogador jovem só pode ser alçado ao time principal se for diferenciado ou, em outras palavras, um craque. Muito disso se dá por aquela pressão descrita no começo deste texto, originada a partir de uma falsa expectativa de que todos os clubes podem terminar em primeiro lugar na liga nacional. Então, se um defensor falha, o lateral erra um cruzamento e o atacante perde um gol, a imprensa e a torcida prontamente pesam nas críticas, fazendo com que o jogador, o treinador e o dirigente pensem duas vezes antes de tentar de novo.
Mesmo inserido neste contexto, o Fluminense – seja por convicção, por necessidade, ou um pouco de cada – optou por insistir e dar oportunidade a jogadores jovens que talvez não estivessem prontos de imediato, mas com capacidade e potencial para evoluir. Oras, entre um jogador “nota 6,5” caro e velho e um “nota 6,0” novo e barato, muitas vezes é melhor optar pelo “pior”, tanto pela parte técnica, quanto na parte financeira. Assim foi feito! Entre 2015 e 2021 o elenco do Fluminense contou com diversos atletas jovens, que geraram retorno técnico e financeiro para o clube, como podemos observar nos exemplos da lista abaixo:
Hoje, depois de alguns anos aquém do seu potencial, o Fluminense colhe frutos dessa persistência, tendo chegado nas quartas de final da Libertadores e, também, da Copa do Brasil, bem como mantendo um time extremamente competitivo, no qual grande parte teve passagem por Xerém ou mesmo chegou cedo às Laranjeiras. Certamente não se pode qualificá-los como craques, mas faz-se necessário observar a utilidade de todos.
Texto de Yuri Silva, do Los Futebólicos.