O Campeonato Brasileiro de 2022 trouxe várias curiosidades que merecem destaque, como por exemplo – (uns) – clubes estruturados que chegaram longe na competição, mas que também – (outros) – correram risco de rebaixamento, atletas já conhecidos que confirmaram performance, atletas revelações, atletas egressos do leste europeu que conquistaram destaque, o incipiente primeiro momento das SAFs, treinadores que sobressaíram e ressurgiram de recente ostracismo, outros que decaíram por protagonizarem sucessivas mudanças para clubes fadados ao insucesso, aumento do número de profissionais estrangeiros nas nossas entidades, com destaque para os lusitanos.
Dessa gama de incidências, abstraio o atacante German Ezequiel Cano, do Fluminense carioca, com 34 anos de idade, argentino nascido em Mendoza para ressaltar a importância e a qualidade invulgar de saber fazer gols. Na temporada 2022, no “Pó de Arroz”, atuou em 69 partidas, cometeu 44 gols e ofertou 7 assistências aos companheiros tricolores. Esses números não surgem inéditos na sua longa carreira, registrando-se recentemente em 2019 no Independiente Medelin colombiano, onde foi inconteste ídolo, German anotou 42 gols.
Em 2020/2021 já no Brasil , no Vasco da Gama no transcurso de 101 jogos ,marcou 43 tentos donde se conclui que nas últimas 3 temporadas – mesmo com a pandemia- manteve média extraordinária superior a 40 gols por ano, padrão Messi, Sergio Aguero, Suarez, Levandowski , e o agora fenômeno “Cometa” Haaland.
Trata-se de atleta que não prima pelo porte físico – (ostenta 1,76 m) – não é veloz, não é portador do atributo da jogada individual, não é um atleta de futebol vistoso, contudo tem qualidades invulgares para o centroavante, daqueles com função definida na carteira de trabalho – g o l e a d o r. –
Posiciona-se bem, antevê os lances, chuta “de prima” com ambos os pés , consegue cabeceio em meio a zagueiros gigantes, com tempo de bola e antecipação notáveis , tem impecável movimentação na última linha defensiva dos adversários, sendo mestre nas diagonais curtas, recebe de costas, operando paredes para os meias que vem de trás. Acrescente-se a todos esses atributos a frieza no momento da definição, ao observar sempre, o lado oposto ao pé de apoio do goleiro, a queda antecipada do “goalkeeper” , o chute cruzado na jogada com pouco ângulo, a leve cobertura no enfrentamento frontal, ou seja faz o gol imperdível, que muitos atacantes desperdiçaram.
Ao longo de minha trajetória como dirigente, ou mesmo como simples torcedor que acompanha futebol em todos os seus matizes, procurando informações em todos os lugares, sempre gostei de fazer comparações entre situações, fatos, pessoas, times, árbitros com quem me deparei ao longo da vida. Vendo as atuações e as características de Germán Cano logo lembrei de Luis Artime, um atleta do passado, também argentino que no Brasil atuou em Palmeiras e Fluminense no final da década de 60 início dos anos 70, o qual era portador de características idênticas de seu compatriota do tricolor carioca nos dias atuais.
Nascido também em Mendoza, com 1,78 de altura, Artime fez carreira em vários clubes sul americanos, grande destaque do Nacional de Montevideo, sendo que no Alviverde Imponente atuou no anos de 1968/69 onde sagrou-se Campeão Brasileiro -( Torneio Roberto Gomes Pedrosa )- em 1969 tendo atuado nas duas temporadas em 57 jogos, com 32 vitórias, 13 empates e 12 derrotas, fazendo 43 gols, altíssima média para a época. Como Cano, Artime não apresentava futebol vistoso, aliás a característica era praticamente a mesma, qual seja profissão “fazedor de gols”.
Quando atuou no Fluminense suscitou de Gerson Oliveira Nunes – o Gerson Canhotinha de Ouro – craque meio campista Campeão Mundial em 1970, com Pelé e Cia., a seguinte frase : “AGORA É MOLE. EU RECEBO A BOLA DO DENILSON -( volante carregador de piano na época)- , LANÇOU PARA O CAFURINGA -(ponteiro direito driblador do Fluminense)- E CORRO PRA ABRAÇAR O ARTIME POIS É GOL NA CERTA .”
São as curiosidades que a vida nos traz , repetindo situações, fatos, e coincidências que consagram o futebol como o esporte mais praticado no planeta. Germán Cano e Luis Artime são dois atacantes de futebol similar em tempos distintos que fizeram e fazem história no futebol brasileiro por cumprirem rigorosamente sua missão: GOLEADORES.
Texto de Fernando Carvalho.