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Os paradoxos de Cuca

No epílogo do Campeonato Brasileiro de 2022, chamou atenção a declaração do treinador Cuca, na ocasião comandando o Clube Atlético Mineiro, vitimizado por apupos e severas críticas dos torcedores do Galo pela sua atuação a testa do elenco do galo na atual temporada.

Na verdade Alexi Stival, Cuca, nascido em em junho de 1963, em Curitiba, sem dúvida um dos grandes treinadores do futebol brasileiro, figura peculiar por suas reações, por seu carregado sotaque interiorano/paranaense, pela humildade às vezes vitimizada em vista de críticas da imprensa, de  alegados erros de arbitragem, de vitórias consagradoras ou derrotas inesperadas, pelos trejeitos faciais em face a entrevistas, na sua visão opressoras, com todos os atributos profissionais que têm, seus títulos e conquistas, acaba dando margem a polêmicas para as quais, a meu juízo, ele próprio contribui.

De atleta de futebol aguerrido e competitivo, forte e intenso, sem muito brilho, é verdade, mas portador de características necessárias ao conjunto, com quem todo treinador gostaria de contar, tornou-se treinador consagrado, trilhando antes o tortuoso caminho de clubes menores (Uberlândia, Inter de Lages, Paraná Clube – quando era médio- Remo, Criciúma, Avaí, entre outros).

Até chegar no Goiás em 2003, onde em 7 meses desempenhou trabalho espetacular, assumindo o elenco na faixa de rebaixamento no 1º turno, sendo o clube que mais pontos conquistou pontos no returno com exceção do Cruzeiro de Luxemburgo, campeão da competição. No time que montou na ocasião no esmeraldino goiano, lembro de Harlei, dos zagueiros  Fabão , Renato Silva e Gustavo, os meio campistas, Danilo, Josue, Marabá e Cléber Goiano, e dos atacantes Grafite, Dimba e Araújo, todos com carreiras exitosas na sequência.

A partir disso, tornou-se treinador de primeira linha no futebol brasileiro ingressando no círculo virtuoso dos grandes clubes, até chegar a consagração no Atlético Mineiro em 2011, ao conquistar o título da Libertadores da América: antes disso e, após seu grande trabalho no Goiás, listo três outras passagens de Cuca que também merecem elogios, São Paulo em 2004, Botafogo em 2007/2008 e Flamengo em 2009.

Com efeito, no São Paulo de 2004 montou a base que seria campeã da Libertadores e Mundial em 2005, buscando no planalto central os ex-esmeraldinos Fabão, Josué, Danilo e Grafite, já tendo no elenco Rogério Ceni, Lugano, Junior, Luis Fabiano, Souza, Leandro e Tardeli, entre outros.

Já em 2007/2008 no Clube de Regatas Botafogo, realizou aquele que talvez tenha sido seu melhor trabalho sem títulos, quando disputou com chance de vencer  campeonato Carioca, Copa de Brasil e teve destacado desempenho no campeonato nacional; seu time base contava com os goleiros Jefferson e Max, o lateral Alessandro, ex Athletico Paranaense, os volantes Túlio, Leandro Guerreiro e Diguinho começando a carreira, os meias Lúcio Flávio e Carlos Alberto e os atacante Jorge Henrique, transformado por Cuca em jogador de esquema, ao jogar numa posição híbrida entre ala esquerda e ponta esquerda, e Wellington Paulista, ainda jovem e portanto muito competitivo.

No Flamengo em 2009, ajustou o time que acabou campeão brasileiro com Andrade no comando (ficou até setembro no clube) deixando no elenco o goleiro Bruno, Léo Moura, Angelim, Willians, Petkovic, Emerson Sheik, Zé Roberto e o Imperador Adriano jogando demais.

Feito esse longo comentário preliminar chego ao ponto desse texto ou seja “as paradoxais decisões de Cuca” após momentos de grande êxito. Efetivamente, tanto imprensa como grande parte de lúcidos torcedores e apreciadores do futebol, defendem trabalhos de longo prazo, permanência dos treinadores nos clubes, sequências e continuidade de conceitos.

Criticam dirigentes que substituem técnicos ao sabor de incipientes derrotas, com os próprios treinadores reclamando da incerteza e insegurança que permeia a profissão, reclamando que somente com mudança de conceitos de gestão o futebol brasileiro finalmente passará a ser bem gerido.

Com Alexi Stival, acontece exatamente ao contrário. Sempre que tem êxito, que apresenta trabalhos notáveis, que levam ao crescimento das entidades que o contratam, abre mão da sequência, desiste de continuar no cargo, quase sempre com a mesma justificativa, priorizado convívio familiar.

Com exceção  do Atlético Mineiro 2011, quando sua saída deveu-se à compensador contrato com o Shandong Luneng da China, tanto no vitorioso Palmeiras de 2016, campeão brasileiro, como no Santos vice campeão da América em 2020, trabalho excepcional, como por último no Galo Campeão Brasileiro de 2021, as saídas foram por vontade unilateral do treinador e as razões elencadas foram as mesmas (pelo menos as que foram veiculadas pela imprensa), reclusão ao redor dos familiares.

Na sequência, excluída a saída do Santos, essas atitudes foram sucedidas por retornos ao Palmeiras em 2017 e ao Atlético em 2022. Em ambas as situações estava no auge, com títulos conquistados, com reconhecimento generalizado da imprensa e aficionados, com proposta de permanência , preferiu cindir a relação, porém 6 meses após, acaba retornando, com outro ambiente, já carregado por derrotas e crises internas, e então, não tem sucesso, passa a receber críticas da imprensa e dos torcedores, e apupado nos jogos e responsabilizado nas redes sociais pelos insucessos.

Considero Cuca um dos grandes treinadores brasileiros, julgo-o capaz até de disputar a cadeira que Adenor Bacchi  – o grande Tite – deixará vaga na Seleção Nacional, contudo acho paradoxais suas decisões relativas à condução de sua carreira, mormente quando o futebol brasileiro se organiza, para  ter melhoria na gestão, onde a sequência de trabalho é fundamental para o sucesso e concluo, serem desarrazoadas as reclamações do grande Cuca com as reações do torcedor do Atlético Mineiro com seu atual momento testa do elenco alvinegro.

Confira abaixo o histórico do técnico Cuca ao longo da carreira, elaborado pela equipe FootHub.

Texto de Fernando Carvalho.

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