Muito se fala sobre este tema atualmente; praticamente todos os dias traçamos paralelos entre Futebol e Tomada de Decisão. Decisões boas, decisões ruins, decisões certas, decisões erradas… são inúmeras qualificações que ouvimos para cada movimento do jogador. É, sem dúvida, um tema pulsante! Mas afinal: o que é a tomada de decisão? Como poderíamos compreender a essência desta expressão?
Decidir faz parte do mundo dos Seres Humanos, é inerente à sua existência, pois é o ato de escolher entre duas ou mais opções. Especificando para o Futebol, tomar uma decisão se dá a partir do momento em que o jogador, na sua infinidade de possibilidades, decide com a maior eficácia possível o que a situação de jogo (ou treino) pede.
Dizer que a tomada de decisão pode ser concebida em termos de polaridades (certo e errado, por exemplo) é um tanto quanto “incorreto”, pois, se o jogador tem diversas possibilidades de ação, algumas são mais eficazes do que outras, ou seja, algumas decisões podem solucionar problemas (e tem maior probabilidade para tal) enquanto que outras escolhas não teriam o mesmo impacto. Portanto as decisões, dentro da sua subjetividade, obedecem a graus de eficácia e eficiência. E o que seriam estes graus? Quando falamos sobre eficácia, estamos no plano do resultado final (significativo ou não); já a eficiência, se relaciona ao processo como um todo (conseguir o melhor gesto motor com o menor esforço possível, por exemplo).
Por falar em processo, não podemos esquecer que tomar uma decisão é composta de três etapas: análise, escolha e ação. Vamos por partes!
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A análise significa que, quando o jogador é exposto em um determinado contexto, antes de decidir, ele mapeia o terreno de jogo, absorvendo algumas informações (companheiros, adversários, bola…), o que gera algumas opções (passar, conduzir a bola, finalizar…) para dar prosseguimento na jogada. Esta é a primeira parte do processo.
Quando estas possibilidades são geradas e conscientizadas pelo jogador, ele busca, na sua memória processual, a decisão mais assertiva e escolhe o que fazer. Este é o segundo momento do mecanismo decisional.
A seguir, vem a ação propriamente dita, mas não se engane em pensar que este momento é meramente motor. Esta etapa do processo decisional tem um teor cognitivo considerável, pois a forma como se coloca em marcha o movimento é dependente de fatores técnicos que estão diretamente ligados ao córtex pré-motor. Esta área cerebral determina o gesto que iremos fazer. Vamos dar o exemplo do passe: quantas possibilidades eu tenho em um passe? Dar o passe no pé do companheiro de equipe ou na frente dele, em movimento? Rente ao chão ou em forma de parábola? Com ou sem efeito/curva na bola? Todos estes aspectos técnicos são decisionais também e justificam o porquê desta terceira etapa não ser “meramente motora”.
Para um primeiro momento, já há um certo conteúdo. Podemos ver que entender a raiz do tema “tomada de decisão” é um tanto quanto complexo e não é assim tão fácil dizer que um jogador acertou ou errou uma decisão. Para este tema que se desenvolve com uma certa velocidade (mas ainda de forma inicial), notamos que precisamos dar “um passo atrás para depois darmos dois à frente” e é justamente essa minúcia que se põe em questão dentro do estudo decisional.
Texto de Leonardo Monteiro.