
Foto: Nilton Wolff
O Processo de Captação de atletas é hoje um tema muito abordado por todos os clubes, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte. Busca-se a partir deste processo, encontrar talentos que possam fornecer ao clube, retorno técnico (performance individual e coletiva), retorno esportivo (desempenho competitivo) e retorno financeiro (possibilidade de negociações futuras). A grande maioria dos clubes dispõe atualmente de um departamento de captação amplo, composto por uma equipe de profissionais responsáveis por essa busca constante por novos atletas.
Como dito anteriormente no texto sobre a importância da Iniciação nos clubes do futebol brasileiro, a captação nas idades iniciais é fundamental na construção de um futuro atleta, pois a maior parte dos atletas que conseguiram transitar da base para o profissional com sucesso (retorno técnico, esportivo e financeiro), chegaram em seus respectivos clubes, na fase de iniciação. São vários exemplos: Neymar, Rodrygo, Vinicius Junior, Alexandre Pato e mais recentemente Endrick, dentre outros tantos.

Cesar Greco/Palmeiras/by Canon
Neste sentido, cabe aqui fazermos algumas reflexões sobre a captação que faz parte do dia a dia do processo formativo. Ao saber da importância da captação, nas diferentes faixas etárias da formação de base, precisamos pensar sobre a condução e o formato de trabalho em cada contexto. É fundamental entender o contexto de cada clube (filosofia, objetivos, metodologia etc.) e região (ambiente, sociedade, cultura etc.) ao qual está se trabalhando.
Acredito que é muito importante construir processos claros de captação, estabelecendo parâmetros, objetivos e metodologia para a chegada de novos atletas. Vejo como ponto chave a observação de jogos e competições em diferentes níveis e localidades. Porém, de nada adianta, investir tempo e dinheiro, sem possuir uma diretriz de como o atleta observado, será avaliado ou chegará em um contexto totalmente diferente ao qual está acostumado.
Faz-se necessário então, construir parâmetros de avaliação dos atletas, baseados naquilo que o clube busca em termos de perfil, metodologia e política de formação. Além disso, é preciso, preparar o caminho que o atleta irá percorrer em seu processo de avaliação e/ou contratação (via de acesso, período de avaliação, formato de avaliação e os profissionais e áreas envolvidas desde a observação a adaptação e performance do atleta no clube).
Vejo como imprescindível apostar na qualidade dos atletas observados e dos processos de captação, ao contrário de buscar um formato de captação em atacado (quantidade). O excesso de atletas, tende a gerar uma série de problemáticas ao clube, tais como: categorias com muitos jogadores, inviabilizando assim um processo de desenvolvimento consistente (metodologia de treinamento, jogos/competições, equilíbrio de minutagens etc.), dispensas/rotatividade de atletas em grande quantidade, além de dificultar um acompanhamento adequado de todos os profissionais envolvidos na formação, gerando um descontentamento de atletas, familiares e empresários.
Acredito ser fundamental, investir na aprovação/contratação criteriosa de novos atletas, para que o processo seja respeitado e possa atender a todos os envolvidos da melhor forma possível. Ao trabalhar com uma proposta clara e adequada ao seu contexto, os clubes podem oferecer um bom processo de chegada, adaptação (atleta e familiares), continuidade (médio/longo prazo) e desenvolvimento do atleta, a partir dos processos técnicos e metodológicos.
O perfil dos profissionais que trabalham com a captação de atletas é variável, envolvendo ex-jogadores, ex-treinadores e/ou profissionais que se estabeleceram na área a partir da capacitação e experiência. Acredito ser fundamental, que os observadores (scouts) possuam a noção de todo o processo, tendo um olhar sobre a detecção do talento, mas também sobre o processo de adaptação, desenvolvimento e contexto do atleta, onde existirão oscilações e vivências positivas e negativas que terão interferência no seu cotidiano.
Cabe ressaltar a importância da relação de parceria entre as todas as áreas envolvidas. O Departamento de Captação precisa construir uma relação de trabalho forte e recíproca com as demais áreas do clube, especialmente com a área técnica (coordenação e comissões técnicas). Acredito este ser um aspecto crucial para um bom andamento do trabalho nos clubes, pois se não houver reciprocidade e se deixar de lado o ego de cada profissional envolvido, o futuro dos atletas e do clube estará em jogo.
Além disso, como dito anteriormente o contexto social dos atletas, deve ser considerado em todas as faixas etárias. O convívio familiar, a cultura ao qual o jovem foi criado e o contexto social ao qual está inserido fazem parte da formação humana e esportiva do atleta. É fundamental considerar este aspecto no momento da captação e direcionamento aos clubes. Vejo com preocupação, quando se pensa única e exclusivamente no desempenho de campo no momento da observação e encaminhamento do atleta, pois há uma série de fatores que influenciam este aspecto. A formação do atleta, é construída em conjunto na tríade Atleta-Família-Clube, somado ao contexto interno e externo de convívio dos jovens.
Cabe ressaltar, que além de todos os aspectos de captação, adaptação e desenvolvimento do atleta, atualmente temos também as questões gerenciais que envolvem o processo de negociação e chegada do atleta ao clube. Existem intervenientes envolvidos que fazem parte deste processo, tais como: escola/clube de origem, empresários e possíveis parceiros negociais. Neste sentido, o clube e os gestores precisam entender das leis vigentes e estarem preparados para poder atender as demandas negociais e a gestão das pessoas envolvidas.
Por fim, é importante frisar, que acredito claramente que o Talento para o Futebol, é construído e pode ser aprimorado e desenvolvido a partir de um contexto favorável e um ambiente próprio para a formação esportiva e social dos futuros atletas de alto nível. A metodologia de treino, somada ao ambiente e as vivências as quais os jovens são submetidos são fundamentais no desenvolvimento do Talento.
“Não existe Talento, sem Treinamento”
Oscar Schmidt
No próximo texto, abordarei os aspectos metodológicos de treinamento que devem construir junto ao processo de captação, em um projeto de médio/longo prazo, os futuros atletas do clube.

O curso Olhos para a Base inicia hoje e restam poucas vagas, então corra e venha fazer parte da turma 2! Inscreva-se aqui!
Texto de Marcelo Freitas Prestes