A performance dos atletas de futebol, é fruto das vivências as quais este foi submetido durante toda a sua carreira. Iniciando pelas suas práticas enquanto criança e chegando até a fase adulta.
Foto: Site Oficial do Vasco
A Iniciação Esportiva é um período fundamental no processo de desenvolvimento esportivo a longo prazo, relacionando-se com muitos fatores que interferem neste crescimento. Ao pensarmos em um processo formativo no futebol qualificado e condizente com as fases de desenvolvimento da criança/jovem atleta, deve-se visualizar a construção de experiências positivas e diversificadas para a sequência destes no ambiente esportivo.
A correta relação entre a quantidade e a qualidade dos estímulos de treino e competição, serão decisivas no caminho do desenvolvimento do talento. Além disso, acredito que o atleta não nasce com o chamado Talento para o Futebol, quando na verdade os mesmos, são frutos dos estímulos e oportunidades ofertadas a eles, possuindo um contexto social favorável, interesse, gosto pela prática e a inteligência para aproveitar o processo.
Isto é corroborado, por inúmeros autores e referências no assunto, tais como Malcom Gladwell, jornalista e escritor britânico, em seu Livro Outliers e Julio Garganta, renomado pesquisador português em seus estudos e apresentações sobre a temática.
Neste sentido, conforme debatemos no texto anterior, o contexto atual da iniciação esportiva no Brasil, não é um cenário tão favorável ao desenvolvimento do talento. É nesse ponto, que acredito ser fundamental a participação dos clubes de futebol para a evolução deste cenário. É lógico que existem uma série de pontos que precisam ser pensados, tais como: os objetivos e a cultura do clube, a capacitação e atuação dos profissionais envolvidos, a especialização precoce (as crianças não são miniadultos), a mudança no contexto social das famílias envolvidas, a relação com o processo educacional, dentre outros tantos fatores importantes nesta fase.
Porém, acredito ser possível construir um ambiente próprio para a formação de atletas a longo prazo com a participação direta dos clubes. Atualmente, todos os clubes possuem investimentos na fase inicial das categorias de base, onde cada clube possui um formato de atuação. Observando este cenário nacional, creio não existir um único ou melhor formato, pois cada contexto exige uma determinada política de formação, investimento e visão.
Alguns clubes, utilizam das suas escolas de futebol como ponto de partida. Já em outros casos, utiliza-se o Futsal como ponto inicial (característica marcante na Região Sudeste). Na Região Sul, o Futebol 7 (Society) cresceu muito e hoje faz parte do processo de formação dos grandes clubes. Neste sentido, se pensarmos em uma formação adequada, acho que o principal ponto de atenção, está na construção e progressão metodológica, que deve partir do simples para o complexo, do pequeno espaço para o grande espaço, respeitando o desenvolvimento cognitivo-físico das crianças.
Partindo desses pressupostos e considerando o cenário atual da iniciação ao futebol, torna-se fundamental o investimento e o desenvolvimento das crianças nesta fase inicial. É essencial considerar a formação não apenas pelo aspecto técnico ou pelo desempenho atual do atleta, considerando o estágio de desenvolvimento maturacional e o nível de experiência dele. Quais foram as vivências e oportunidades que este jovem atleta já teve? Qual é o contexto em que ele estava inserido? O nível de desempenho atual está condizente com o seu estágio maturacional? Há margem de evolução? São algumas das perguntas importantes a serem realizadas.
Pensando na questão metodológica, faz-se necessário construir um repertório técnico, físico-motor e cognitivo dos jovens, que aliados ao desenvolvimento dos seus aspectos biopsicossociais serão a base do desenvolvimento para o alto rendimento. Como dito anteriormente, não acredito em apenas um caminho ou receita correta. Pode-se utilizar a iniciação esportiva universal, o futsal, o futebol society, o futebol adaptado, o treino analítico, a metodologia sistêmica, cada um tendo a sua importância e sua adequação ao contexto ao qual estaremos inseridos.
Por fim, um fator que cabe ressaltar, diz respeito a precocidade do mercado do futebol mundial. Os atletas já são monitorados desde as idades iniciais e envolvidos em negociações pelos clubes e agentes, muitas vezes antes mesmo de estarem na equipe principal, de terem completado o seu processo formativo ou até de não estarem aptos a transferência (atletas vendidos antes de completarem 18 anos – casos de Alexandre Pato, Vinicius Junior e recentemente Endrick).
Endrick já é jogador do Real Madrid (Cesar Greco/Palmeiras)
Você sabe o que essas vendas possuem em comum? Os atletas citados acima, assim como um percentual aproximado de 70% das maiores vendas de atletas do futebol brasileiro, envolvem atletas que iniciaram a sua formação cedo em seus clubes de origem. Este é mais um ponto importante, que diz respeito a inserção dos jovens no processo formativo inicial dos clubes, sendo proporcionado aos mesmos, estrutura física e material, profissionais capacitados em todas as áreas, exposição a diversas em treinamentos e competições e acompanhamento próximo no que toca a sua formação escolar, social e biológica.
Enfim, acredito que são diversos pontos para discussão e aprofundamento dessa temática no país, mas o que é fundamental, é a importância do olhar e investimento na Iniciação pelos clubes e instituições envolvidas. Nos próximos textos, abordarei de forma mais específica alguns pontos importantes desse processo inicial.
Texto de Marcelo Freitas Prestes
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