O que a torcida do esporte mais popular do mundo espera que seja comunicado dentro e fora das quatro linhas
O futebol é o esporte mais popular do mundo e, com isso, recebe um enorme destaque na mídia tradicional e nas redes sociais. A cada ano que passa, a visibilidade dos Campeonatos, Ligas e Clubes famosos aumenta e atravessa a bolha esportiva, chamando a atenção de outros nichos.
Com toda esta exposição, o futebol acabou se tornando palco para discussões de temas que não se relacionam somente ao mundo esportivo, fazendo com que a comunicação neste meio passasse por transformações e criasse novas formas de dialogar com o público, a fim de deixar claro quais eram seus propósitos dentro e fora de campo.
Mas, se por um lado a comunicação vem mudando ao longo dos anos, por outro, a paixão dos torcedores pelo futebol se mantém como o componente principal da modalidade desde o início. E, segundo a FIFA, mais de 270 milhões de pessoas escolhem, ano após ano, trabalhar dentro deste setor que continua despertando o interesse de homens, mulheres e crianças no mundo inteiro.
Por aqui o chamamos de Paixão Nacional, mas este sentimento não é exclusividade brasileira.
“You’ll Never Walk Alone” – cantam para o Liverpool
“No me importa lo que digan/ Lo que digan los demás/ Yo te sigo a todas partes/ Cada vez te
quiero más”– cantam ao Boca Juniors
Basta puxar na memória estes e outros cantos das torcidas dentro dos estádios para reconhecer toda esta emoção.
Eduardo Galeano também abordou o tema em um discurso lido na abertura do Congresso de
Esportes Play the Game em Copenhague, Dinamarca, 1997, e disse:
“O futebol ocupa um lugar importante na realidade, às vezes o mais importante dos lugares, embora isso seja ignorado pelos ideólogos que amam a humanidade, mas desprezam as pessoas […] Mas para a realidade de carne e osso, este desprezo não significa nada. Quando enraízam nas pessoas e nas pessoas encarnam, as emoções coletivas se transformam em festa compartilhada ou compartilhado naufrágio, e existem sem dar explicações nem pedir desculpas. Não interessa se a gente gosta ou não, se é para o bem ou para o mal; nestes tempos de tanta dúvida e desesperança, as cores do time são, para muitos latino-americanos dos nossos dias, a única certeza digna de fé absoluta e a fonte do mais alto júbilo ou da tristeza mais profunda. ‘Racing, uma paixão inexplicável’, li num muro de Buenos Aires. E num muro do
Rio, um torcedor do Fluminense rabiscou: ‘Meu querido veneno’.”
Os cantos das torcidas e o discurso de Galeano deixam uma coisa bem clara:
O futebol não seria nada sem os seus fãs!
São eles que passam grande parte da vida demonstrando essa paixão gigantesca pela modalidade, acompanhando o time aos jogos, postando nas suas redes sociais, comprando camisas e itens do Clube e, principalmente, passando esta paixão de geração em geração dentro da família.
Diante de toda essa demonstração de afeto por parte dos torcedores, é natural que também exista uma reivindicação por mudanças e melhorias.
Então, junto com este sentimento de paixão, são eles quem também pedem ao Clube que se
mantenha uma ligação franca entre as partes e uma comunicação clara, mostrando assim quais
são os seus propósitos e planos para o futuro.
O nascimento da união entre paixão e propósito
O futebol acaba sendo palco para muito mais do que espetáculos esportivos e alcança diversos temas e nichos diferentes, ficando claro a importância de se manter uma consistência na comunicação entre fãs e Clube.
Diante deste fato, a união entre Paixão e Propósito, cria uma conexão maior e mais confiança com os torcedores, justamente porque o Clube busca manter posicionamentos claros, abordagem de temas polêmicos e sincronia entre discursos on-line e off line.
O campo de futebol vem se tornando muito mais do que um espaço esportivo e passa a se tornar um cenário que se une a outras categorias do entretenimento como: shows, danças, cinema e, a partir disso, oferece aos seus fãs uma gama de experiências novas e divertidas na área do lazer.
Por outro lado, também tem se tornado um espaço que coloca luz em temas atuais e importantes como, por exemplo, o racismo, machismo e saúde mental, se tornando uma ferramenta poderosa de comunicação de massa.
Isto porque, agora no ano de 2023, a série A do Campeonato Brasileiro alcançou uma média histórica de público com 26.135 pagantes por jogo e, na TV aberta, também ocorreu um recorde na audiência do futebol, no jogo entre São Paulo x Flamengo pela final da Copa do Brasil, foi registrado 31 pontos de média, com 58% de participação sobre o total de televisores ligados durante o período com bola rolando, entre 16h02 e 18h09.
Diante dos números acima, a abordagem dos temas, sejam eles mais leves ou mais desafiadores, precisa demonstrar um posicionamento que esteja em sincronia com os propósitos e a trajetória dos Clubes.
É necessário que haja uma demonstração clara, por parte dos Clubes, de que existe uma disposição em se atualizar e evoluir juntamente com a sociedade e seus temas atuais mas, ao mesmo tempo, também é necessário demonstrar que existe uma consciência sobre a história e que a essência do time não será perdida.
Os fãs do esporte, por serem o maior patrimônio de um Clube, cobram que se mantenha uma concordância de posicionamentos entre o on-line e o off-line, sendo que não há mais possibilidades de que os Clubes usem os meios de comunicação de forma incoerente. Por meio do futebol, temas que antes eram pouco discutidos, conseguem ganhar uma visibilidade enorme e adentrar a casa de um número muito maior de pessoas, se tornando assim uma ferramenta poderosa de comunicação.
O esporte então, passa a ser bem mais do que um espetáculo e uma fonte de dinheiro, ele se torna um espaço onde os invisíveis ainda conseguem se fazer visíveis, gerando uma valorização da modalidade que, ao unir a paixão com um propósito maior, causa impacto coletivo levantando temas e novas maneiras de transformar uma comunidade inteira.
O futebol nunca deixará de ser, predominantemente, um lugar onde o torcedor expressa toda a sua paixão humana, mas tende a se desenvolver cada vez mais e se tornar um instrumento de comunicação que serve a sociedade para além das quatro linhas do campo.
Texto de Jessica Ribeiro
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