Atualmente, torcedores de futebol esperam dos seus clubes de coração mais do que 90 minutos de jogo uma ou duas vezes por semana. A expectativa vai muito além e, sendo assim, para gerar relacionamento com seus fãs, clubes estão cada dia mais voltando seus esforços para gerar conexão que vão além das quatro linhas e do tempo de jogo. Bastidores, dados, vida pessoal dos atletas, valores do clube, tudo isso é bem-vindo neste momento.
Nesse novo contexto, clubes deixaram de ser associações/empresas estritamente esportivas e passaram a ser canais de mídia e entretenimento, geradores de conteúdo. Tanto do ponto de vista esportivo como de negócio, entender essa realidade e se adaptar a ela é essencial.
A tecnologia e inovação são fatores essenciais nesse processo. Inteligência e estratégia no uso das plataformas digitais têm feito muita diferença nesse caminho em busca de gerar conexão com os fas/torcedores. Clubes têm contado cada vez mais com inovações focadas em gerar experiências significativas e marcantes. O uso de NFT – Non Fungible Token, chips aplicados em camisas e que dão acesso a experiências diferenciadas, QR codes, desenvolvimento de plataformas/aplicativos próprios, são alguns exemplos.
Conceitos até pouco tempo restritos aos ambientes corporativos hoje são vistos e aplicados ao ambiente do futebol com foco no entretenimento. BI – business intelligence, é um exemplo nesse sentido. Saber captar os dados certos e fazer o uso com inteligência e estratégias faz parte da rotina dos clubes organizados e voltados para o novo momento do futebol. Uma boa estratégia de entretenimento está pautada no conhecimento que se tem sobre o público expectador, suas expectativas, características, potencial de consumo, perfil comportamental, etc.
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Alguns clubes do Brasil contam com profissionais voltados para a inovação. Isso também pode ser entendido como um movimento claro sobre a mudança de perspectiva e a necessidade de avançar na direção de criar experiências relevantes aos torcedores, assim como ampliar as possibilidades de negócios. Termos como fan-centricity e fan engagement apontam nessa mesma direção.
Colocar o fã no centro, pensar em formas de se comunicar com ele gerando emoção, relacionamento verdadeiro, experiências significativas, pode fazer a diferença para o clube, não somente sob o ponto de vista do futebol, que precisa do expectador para que todo o resto faça sentido, mas também sob o ponto de vista do negócio. Oportunidades de geração de novas receitas, expansão de atuação de mercado, valorização da marca do clube surgem a partir da conexão gerada entre o clube e seus torcedores.
Portanto, o futebol como entretenimento abre possibilidades para a geração de receita de clubes e atletas. Por exemplo, para organizações patrocinadoras, as possibilidades de ativações de suas marcas em contextos que envolvem a paixão do torcedor, adicionadas a uma estrutura que possibilita conexões relevantes com esse público, representam possibilidades de retornos muito mais significativos se comparados com a era anterior a essa, onde patrocínio significava compra de espaço em uniforme e placas do estádio.
Na era do futebol como entretenimento, as possibilidades de negócio vão muito além. No entanto, o ponto de atenção para clubes e atletas é: a expectativa dos torcedores/fãs naturalmente tem se ajustado às suas novas experiências dentro e fora do futebol e, portanto, estão cada dia mais altas. É preciso manter a evolução a passos largos na direção da profissionalização da gestão no futebol, assim como no uso de ferramentas que viabilizem a melhor experiência do torcedor com o seu clube de coração. O papel do atleta no “futebol entretenimento” é essencial. Sua marca pessoal e sua atuação frente ao clube são partes do elo entre clube e torcedores. Esse é um tema que ainda precisa de evolução em seu entendimento. Daria um debate exclusivo e extenso, então, deixo aqui aberto para o próximo artigo.
Texto de Ana Teresa Ratti.