Vivendo a realidade portuguesa do futebol, o que mais vejo são comentários acerca de treinadores lusos em atividade nos clubes do Brasil. Obviamente que há um orgulho em se sentir português quando seus técnicos (aqueles que são mais odiados em qualquer lugar do mundo quando há tempos de crise) fazem um bom trabalho fora de seu país de origem. Porém existe algo que parece transcender por aqui. Os comentários acerca de portugueses que atuam fora, independentemente do cargo, são sempre positivos (ou se corre mal é justificado por um fator externo). E isto não tem nada de errado! Muito pelo contrário!
Estão certíssimos em entender o futebol de forma global e não responsabilizar o treinador “A” ou o jogador “B” por seus eventuais fracassos em jogos. É completamente impossível vermos críticas ao português que trabalha fora de seu país!
Quando mudamos de contexto e observamos o Brasil, começamos a entender porque perdemos um pouco (ou muito) do espaço. Nunca foi por falta de qualidade, mas sim, pelo fato de que tendemos sempre a criticar antes mesmo de esperar o processo começar. O maior exemplo disso que podemos encontrar é quando Abel Ferreira disse no programa Roda Viva (21/03/2022): “a qualidade do treinador não tem nem nacionalidade nem idade. Há bom treinador brasileiro […] e também há treinador português fraco”. É muito interessante vermos um estrangeiro dando valor ao brasileiro mesmo que nós mesmos não façamos isso!
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Tudo isto para expressar que, por trás deste fenômeno futebol, existe uma cultura associada ao esporte e à sua competitividade. O tempo, a infraestrutura e o material humano são determinantes para o sucesso de um treinador. Podemos ver clubes brasileiros que jamais venceram um “Brasileirão” querendo que as suas comissões técnicas deem jeito de, logo ao princípio do campeonato, se posicionar no G4. Caso contrário, em cinco rodadas já correm o risco de ser demitidas e interromper um trabalho que poderia render bons resultados se tivessem mais tempo. Às vezes esta lucidez parece faltar na nossa gestão, sucumbindo bons treinadores às pressões que não ajudam a cultura do clube e a cultura esportiva de um país.
Ainda assim, vemos excelentes treinadores que buscam seu lugar ao sol, mas que o mercado não absorve, infelizmente, na sua grande maioria. Treinadores de qualidade que trabalham nas categorias de base de clubes brasileiros. O que acontece? Na primeira hora que podem, buscam carreira internacional. Procuram países como Portugal, China, Estados Unidos, Colômbia, Bolívia, mundo árabe ou qualquer outro lugar que apresentem aquelas três condições de trabalho (tempo, infraestrutura e material humano) para dar continuidade ao processo que um dia foi interrompido no Brasil.
Podemos ver que a escola de brasileira de treinadores é excelente (tanto quanto ou até melhor que muitas europeias, sem demagogia) e a busca por conhecimento do jogo e do treino se tornaram conteúdos-alvo de treinadores que procuram a excelência dentro da sua profissão.
O treinador brasileiro é tão bom quanto qualquer outro. Não é nacionalidade, é comprometimento com o esporte! E isto nós temos de sobra, basta olhar para a nossa formação! Somos bons, só precisamos acreditar e incorporar esta ideia!
Texto de Leonardo Monteiro.