Quem assiste ao documentário da vida do sambista Paulinho da Viola se impressiona com algumas revelações da intimidade do compositor. A habilidade com a marcenaria é a maior delas. Paciência e parcimônia, extraídos do trabalho com a madeira, parecem ser alguns dos pilares que sustentam a pacata figura do ilustre vascaíno. Essas duas virtudes estão presentes também na vida de quem trabalha com o futebol. O esporte pelo qual o brasileiro é apaixonado se desenvolve, pelo menos nos grandes clubes, em um ambiente tenso, perigoso, atraente, próspero e que desperta ações e reações que fazem com que conheçamos algo novo de nós mesmos a cada dia.
Futebol não mexe com madeira. Mexe com pessoas. E lidar com pessoas de cargos, formações, classes sociais, temperamentos, gênios, personalidades, currículos e ambições completamente diferentes no mesmo ambiente não é fácil. O coração de um clube de futebol é seu vestiário. Ali estão dirigentes, jogadores, treinadores, médicos, roupeiros, massagistas, preparadores, fisioterapeutas, advogados, nutricionistas, etc. Além deles, todos os ingredientes que os constituem pessoalmente também estão misturados. Acrescente a tudo isso uma bela dose de emoção, despertada todas as quartas e domingos, e imagine o que sai desse caldeirão.
Inserido nesse cenário está o assessor de imprensa. Um jornalista que enxerga tudo aquilo que quem está de fora do vestiário gostaria de enxergar. Que sabe boa parte daquilo que imprensa e torcida gostariam de saber e que ninguém ali de dentro quer que saia para fora. Não à toa, o vestiário é considerado “sagrado”. O assessor de imprensa diariamente se vê diante de circunstâncias delicadas. Não que os demais profissionais não sejam colocados em encruzilhadas também. Ocorre que a maioria das ações do assessor têm consequência externa. Ele trabalha para quem o paga, o clube, mas o fruto de suas decisões ganha a esfera pública. Decisões que podem ser a simples escolha de quem irá conceder entrevista coletiva, de contar ou não contar para o treinador o motivo de fulano de tal estar descontente com a reserva ou então dividir com o presidente algumas angústias internas. Enfim…
O futebol não dá trégua. A espera por tomada de decisões inexiste. Os fatos te atropelam e por isso é preciso tentar estar à frente deles, se antecipar a crise, imaginar as consequências de uma notícia ou de uma derrota, estar preparado para ela e enfrentá-la quando ela chegar. Com calma e parcimônia porque assim que a crise for superada, o tempo vai passar. E quando menos se espera, chegará outra. Peço emprestado então a definição de Paulinho da Viola para definir o quão corrida é a vida de um assessor de imprensa: o meu tempo é hoje!
Texto de João Paulo Fontoura.