Muitas vezes me perguntei como alguém conseguia ingressar no mercado esportivo, principalmente no futebol, que tudo parecia tão fechado e para poucos que, na sua maioria, tinham privilégios ou nasciam em famílias que já tinham uma história no esporte e isso tornava esse ingresso mais fácil. Há alguns anos venho conversando com muitas pessoas apaixonadas por esporte, porém que não atuam no segmento, e percebi que essa dúvida muitas vezes limitadora e frustrante não era só minha.
Então, passei a estudar com relativo afinco sobre a indústria esportiva, sistema educacional e temas que permeiam o autoconhecimento. Cheguei a uma conclusão que, para mim, parecia bastante óbvia, mas que faltava uma base mais sólida de informações para que pudesse compartilhar. Bem, no meu modo de ver existe um bloqueio ao qual denominei “Bloqueio do Mercado Esportivo” que faz com que pouquíssimas pessoas cogitem seguir uma carreira nesse mercado, justamente por pensarem que é uma indústria muito fechada, elitizada e de pouquíssimas oportunidades.
Antes de seguir quero apenas abrir parênteses para explicar melhor um dos motivos pelo qual é pouco comum, na minha visão, estudantes optarem por seguir carreiras relacionadas com o esporte. Nós, desde pequenos somos ensinados que a vida segue um padrão: nascemos, vamos para o colégio, prestamos vestibular, logo nos formamos, entramos no mercado de trabalho, aí vem o alívio da aposentadoria e depois morremos. Fim.
Um pouco forte não é mesmo? Embora possa parecer exagerado foi assim que a minha geração foi educada e ainda vejo muito disso acontecer por aí.
Não cabe apontar culpados, mas é triste ver como a educação continua, no geral, seguindo os mesmos padrões da época da revolução industrial, ou seja, que tenta nos colocar numa fôrma, por isso, ao final de tudo saímos “formados”. No entanto, essa educação de mentalidade atrasada não nos prepara para resolver os problemas atuais do mundo e isso faz com que as possibilidades de caminhos a serem seguidos pelos jovens sejam limitadas ao invés de ampliadas.
Por exemplo, no momento em que eu deveria escolher que curso prestar no vestibular existiam as áreas de humanas, exatas e da saúde. Sempre gostei muito de esportes, porém ele sempre foi diretamente ligado a área da saúde – no máximo o jornalismo se relacionava com o tema – e como não me identificava jornalismo, nem com a área da saúde e muito menos com exatas decidi fazer administração de empresas e acabei me afastando do esporte durante anos, pois na administração você tem caminhos que te levam basicamente para finanças, marketing ou RH.
Pois bem, hoje trabalho no mercado esportivo e posso falar com a visão de quem vive o dia-a-dia dessa indústria que realmente é um mercado que aparenta ser mais fechado, mas que ao mesmo tempo cresce cada vez mais e abre novas oportunidades para quem quer fazer a diferença. Fazer diferença, essa é uma característica muito presente de quem trabalha nesse mercado e ingressou por meios “tradicionais”.
Há algo em comum entre todos que hoje atuam de forma destacada no esporte, sem exceção esses profissionais se qualificaram muito para entrar na indústria e possuem algo que só quem realmente tem um propósito claro consegue ter, persistência e resiliência. Não raro escuto histórias de alguém que
enviou centenas de e-mails para conseguir uma entrevista, insistiu com diversas pessoas para ter uma oportunidade e assim por diante. Pergunta: alguém faria isso para trabalhar com algo que não está alinhado com sua missão de vida? Improvável não é mesmo?!
É evidente que em países da Europa e nos EUA a indústria do esporte é muito mais desenvolvida e por isso existem centenas de universidades que oferecem cursos focados no mercado esportivo e especializações em diferentes áreas do mesmo segmento. No Brasil, embora haja um movimento bastante forte acontecendo nos bastidores, ainda são raras as opções para quem quer focar seus estudos no esporte e que não seja ligado a área técnica, como por exemplo a preparação física.
Apesar de tudo isso que relatei anteriormente o propósito desse texto é mostrar que vivemos, ao que tudo indica, o melhor momento da história para sermos quem quisermos ser e trabalhar na indústria do esporte é uma possibilidade real para qualquer pessoa que quiser fazer a diferença nesse mercado tão desafiador. Vivemos o que podemos chamar de “Era Pós Digital”, pois hoje a tecnologia e o digital são extremamente normais e parte do nosso dia-a-dia e nessa nova era as possibilidades para se desenvolver soluções disruptivas e criativas que possam ajudar a indústria do esporte a entregar produtos de maneira diferente e a gerar mais impacto na sociedade são cada vez maiores. Clubes, federações e empresas ligadas a essa cadeia estão sedentas por novas soluções, o ecossistema de Startups voltadas ao esporte está crescendo rapidamente e o mercado que chamamos de Sports Tech está apenas começando no Brasil. Enquanto nos EUA, Europa, Ásia e até mesmo o Oriente Médio liderado por Israel já despontam como os líderes no setor de tecnologia ligada ao esporte.
Na minha visão e de acordo com vários autores sobre o tema inovação, a nova economia e a forma exponencial como o mercado vêm se comportando nos dá indícios de que estamos vivendo o período de maior oportunidade para empreender, inovar e fazer a diferença no esporte. A inovação está se tornando o maior vetor de transformação capaz de fazer com que o esporte no Brasil seja mais profissional, democrático e protagonista de grandes impactos positivos em nossa sociedade. Creio que realmente o “Bloqueio do Mercado Esportivo” existe, porém, a coragem ser quem somos e o inconformismo de vermos a situação em que as más lideranças deixaram nosso mercado é o combustível ideal para que o esporte brasileiro sofra a transformação necessária e se desenvolva na sua máxima potência.
Para quem ainda se pergunta qual é melhor forma de entrar na indústria do esporte, principalmente do futebol, entendo que o caminho da inovação e tecnologia estão ainda por ser pavimentados, por isso, há inúmeras oportunidades nessa área que está apenas começando a se desenvolver no Brasil.
Texto de João Pedro Castilhos.