No último texto publicado, trouxemos algumas pequenas problematizações a respeito da utilização do feedback dentro do processo de desenvolvimento de atletas no futebol e como as suas diversas manifestações podem ter reflexo direto na qualidade do que se é aprendido e no que se torna capaz de executar.
Hoje, tentarei dialogar com você trazendo informações já bastante debatidas e difundidas dentro da área do desenvolvimento e aprendizagem motora.
O ponto inicial para a nossa discussão é o atleta. Sendo assim, é importante considerar a característica do aprendiz, ou seja, quem é esse atleta? Qual estágio de desenvolvimento e de aprendizagem que ele se encontra? Qual o tipo de motivação ele possui para estar dentro daquele ambiente?
Parecem perguntas triviais para um país que culturalmente tem o futebol como esporte mais praticado de maneira formal e informal, mas são questionamentos que, por vezes, passam despercebidos ou são desconsiderados no momento de construção de uma ideia, utilização de métodos de treinamento no dia a dia, construção de processos avaliativos e a avaliação desses indivíduos ao longo da carreira.
Considerar o erro como um fator determinante para o aprendizado de qualquer habilidade também precisa ser algo claro para treinadores e professores, principalmente nas fases iniciais da prática. Vamos a um exemplo prático:
Tipos de feedback
Um atleta que realiza um exercício de finalização a gol, conseguirá através de cada execução ou situação perceber de maneira interna o que precisa melhorar para conseguir obter o êxito neste exercício. Nesse sentido, podemos referenciar esse tipo de análise interna como feedback intrínseco, onde a informação obtida pelos próprios sentidos surge como consequência natural da produção do movimento e tem característica crônica, ou seja, com o passar do tempo a qualidade do movimento será aprimorada e naturalmente os erros serão diminuídos.
Já o feedback extrínseco é toda e qualquer informação fornecida de maneira externa podendo ser caracterizado por ações como comentários de treinadores, pais, amigos, torcida ou até mesmo filmagens de análises táticas. Esse tipo de feedback pode ser dividido em duas categorias: em conhecimento de resultado e de performance. O conhecimento de resultado geralmente é percebido pelo atleta logo após o ato executado e tem relação direta com o feedback intrínseco: o que eu fiz e o que eu deveria fazer? O conhecimento de performance geralmente é fornecido por terceiros de maneira externa, voltado para o movimento e auxilia a interpretar a qualidade do movimento. Pode ser encontrado na literatura como conhecimento cinemático ou feedback cinemático.
Agora que já entendemos de maneira conceitual os tipos de feedback, vamos a reflexão através de exemplos práticos e em seguida, as perguntas gerais a respeito da importância dessa ferramenta.
Vamos lá, você enquanto gestor, coordenador, treinador, preparador, analista ou até mesmo colega de equipe já parou para refletir sobre as informações que envia para os seus atletas quando eles estão realizando uma ação em treinamento ou em jogo, seja de maneira individual ou coletiva? Tire um tempo para pensar na qualidade e quantidade de vezes que tentou passar uma instrução e relembre a maneira como esses atletas corresponderam logo em seguida. Eles conseguiram realizar a ação imediatamente? Melhoraram em seguida? Ficaram nervosos? Você estava nervoso? Você foi claro?
Agora vamos as perguntas: O que devo considerar para melhorar a qualidade do feedback?
Três fatores são muito importantes: Complexidade da Tarefa (exercício ou bloco de exercícios), a experiência dos executantes (iniciante, especializado, nível de performance) e o ambiente onde essas atividades são desenvolvidas.
Quer dizer, se na fase inicial do desenvolvimento atlético eu aumento a complexidade de um exercício durante o treinamento e os meus atletas possuem baixa experiência dentro dessa lógica, naturalmente precisarei dar mais feedbacks. Já no caso contrário, quando a complexidade da tarefa permanece elevada e meu grupo de atletas possui vasta experiência, o mais adequado é a quantidade desse feedback diminua enquanto a sua qualidade esteja mais relacionada a aspectos mais gerais.
Em uma sessão de treinamento, tente pensar sobre o seu planejamento e o que você espera e tem como objetivo dentro do exercício e dentro da sessão. Qual o nível da complexidade da tarefa e qual é a qualidade e quantidade de experiência que esse grupo de atletas possui para realizá-la? Tendo isso em consideração, você terá a percepção prática de como feedback de mais ou feedback de menos pode ser prejudicial para um atleta ou um grupo.
Por que preciso considerar esse tipo de situação no meu treinamento ou durante uma partida?
A resposta é simples, mas não menos importante. A utilização inadequada dessa ferramenta pode comprometer fatores como assimilação do conteúdo, motivação para a prática, sobrecarga de informações que dificultam a manutenção da atenção a tarefa e a capacidade de tomar boas decisões em um jogo ou treinamento, sobretudo pela possível potencialização de estados ansiedade, nervosismo, estresse e diversos outros que podem afetar instantaneamente o que se é pretendido.
Saber utilizar as inúmeras ferramentas que outras áreas de estudo trazem para potencializar o aprendizado pode auxiliar positivamente os profissionais que atuam direta ou indiretamente com atletas em diversos escalões esportivos, aumentando o leque de possibilidades que por sua vez, podem trazer mais rapidamente a chegada estruturada aos objetivos estipulados pelos projetos esportivos em que esses profissionais e atletas estejam inseridos.
Texto de Raíssa Jacob.