No mundo da moda é normal observarmos tendências que fizeram sucesso no passado voltando à tona no presente e ocupando os lugares de destaque na passarela. Diversos são os motivos para que este fenômeno aconteça, exigindo do estilo que se adeque e ao mesmo tempo influencie os valores sociais, culturais e comerciais estabelecidos no momento.
Assim como na lógica acima, muitos aspectos do futebol têm se desenvolvido ciclicamente, ou seja, seguindo um curso não linear em que conceitos e modelos que imperaram no passado possam ser reutilizados com sucesso em épocas diferentes na busca por vantagens em cada fase do jogo, principalmente sabendo que elas se relacionam diretamente, dado que as equipes bem treinadas atacam se organizando na defesa e se defendem preparando para atacar.
Um aspecto importante e de grande influência para o jogo foi o desenvolvimento físico dos jogadores, com o avanço das estruturas técnicas que envolvem o departamento médico, fisiológico e físico de tal forma que os atletas passaram a percorrer maiores espaços em tempos reduzidos. Logo, emergiram vários modelos pensados para funcionar a partir dessas mudanças.
O de maior sucesso evidencia-se na figura de Pep Guardiola e que refletiu na Seleção Espanhola, consistindo no fato de que os espaços passaram a ficar mais escassos, surgindo a necessidade de ocupar racionalmente os setores, controlando a bola e o ritmo da partida, tanto para defender como para atacar. Assim, a safra de atletas mais técnicos conseguia se destacar em meio à fisicalidade do jogo. Dessa forma, se estabelece a posse de bola como a ideia dominante por muito tempo.
O domínio deste modelo e a dificuldade em confrontá-lo fez com que muitos dos maiores agentes da bola pensassem em antídotos para esse fenômeno tão eficiente. É daí que ressurge um conceito bem importante, popularizado no Carrossel Holandês de Rinus Michels e aperfeiçoado por Arrigo Sacchi no seu também famoso Milan. Assim como toda mudança de paradigma, o pressing e a pressão surgem como antídotos em relação ao conceito dominante da posse.
A pressão consiste na ação individual de coagir o portador da bola, ou seja, forçar para que ele aja de acordo ao que se quer o defensor, reduzindo o espaço de jogo. Já o pressing é caracterizado pela ação coletiva de reduzir o espaço, o tempo e as referências no campo daquele que possui a bola, visando roubá-la, impedir a progressão do adversário e induzir ao erro ou às zonas menos perigosas do campo. Além disso, protege espaços relevantes fora da jogada com coberturas defensivas e movimentação da linha defensiva com relação a bola ou ao jogador.
O local do campo e o momento que o pressing é acionado vai depender da filosofia de cada treinador. No alto nível do futebol mundial, cada dia mais percebemos o conceito sendo aplicado nas proximidades da área adversária, tendo como objetivo roubar a bola próximo do gol da equipe enfrentada, ou seja, defendendo em preparação para atacar.
Há de se destacar, por exemplo, nomes influentes desta ideia, principalmente na figura de Jurgen Klopp, treinador do Liverpool, campeão da Premier League na temporada 2019/2020. O alemão se evidencia pela eficácia na utilização do “gegenpressing”, termo em alemão que define a contrapressão, isto é, a utilização do pressing logo após a perda da posse de bola. Sendo assim, mesmo não possuindo a bola, os times conseguem participar ativamente do jogo, forçando o adversário a agir e não só esperando a tomada de decisão dele.
O jogo é vivo, dinâmico, soberano e impõe a seus agentes que atuem na prospecção de ideias que tenham sucesso prático. Michels, Sacchi, Guardiola, Sacchi, neste meio tempo Mourinho, Ancelloti, Ferguson, Felipão, Del Bosque, diversas ideias já dominaram o cenário futebolístico e, afinal, qual será a próxima? Logo veremos.
Texto de Pedro Heitor do Los Futebólicos.