Há alguns meses, a Strategy& – consultoria estratégica da PwC – e o portal Valor Econômico divulgaram a 8ª edição do Prêmio Valor Inovação Brasil 2022, que destaca as empresas mais inovadoras do Brasil. Seguindo a linha dos textos por aqui, vejo diversas lições que podemos tirar a partir ações das empresas mais inovadoras do país para tornar o futebol nacional um mercado mais inovador.
Empresas mais inovadoras
Para começar, considero importante elencar os critérios utilizados para definir o ranking. São 5 os pilares que ajudam a definir as empresas mais inovadoras do país:
- Intenção de inovar: estratégia e visão, cultura e valores
- Esforço: recursos, processos estruturas
- Resultados: resultados gerais e específicos
- Citações: reconhecimento do mercado
- Patentes: registros do conhecimento
A partir disso, as dez empresas que abrem a lista de mais inovadoras do Brasil estão destacadas na imagem abaixo. Na sequência do texto, separei algumas delas para mostrar comportamentos importantes para instituições que desejam atuar no meio da inovação, incluindo aqui clubes de futebol, federações e outras entidades do esporte.
Lição #1: A inovação é um trabalho de longo prazo
“Atitude inovadora é aquela que atende às necessidades do consumidor no presente com os olhos voltados para a construção de um futuro melhor.” A partir da frase anterior, destacada na capa do site da empresa, é possível dizer que a inovação faz parte da história da Nestlé, empresa mais inovadora do Brasil. Diversos produtos surgiram com o objetivo de resolver problemas do público consumidor.
Nos últimos anos, a prática de inovar vem sendo trabalhada com mais força. A Nestlé possui uma área de inovação desde 2016, que considera três pilares de atuação: qualidade do produto, experiência personalizada e sustentabilidade. Assim, surgem novos produtos e novas formas de entregá-los aos consumidores, buscando um relacionamento cada vez mais próximo com estes.
Foram necessários mais cinco anos para que, em 2021, surgisse o Panela, iniciativa de inovação aberta da Nestlé, que busca um relacionamento com startups para auxiliar a empresa em suas atividades. Em agosto de 2022, houve a transformação do Panela em um hub físico, mostrando que existe espaço para crescimento. Toda essa jornada deixa claro que a inovação é um trabalho de longo prazo. A Nestlé teve calma de trabalhar a inovação, evoluindo seu programa nos momentos certos. Possuir este tempo é a grande dificuldade do futebol, que precisa entregar resultados o quanto antes para mostrar que a ideia realmente funciona.
Lição #2: Tenha uma estratégia de inovação
A Vale, segunda colocada no ranking, nos mostra a importância de ter uma estratégia de inovação, que direcione as ações da empresa para um único caminho. No esporte, ainda estamos em um momento de ações pontuais de inovação, sem que exista algo maior por trás. Em nosso exemplo, a empresa definiu dois pilares principais para trabalhar sua inovação:
- Proteger vidas;
- Jornada de aprendizagem;
- Mudança climática;
- Progresso social;
- Diferenciação de mercado.
Podemos elencar algumas ações que colaboram com os tópicos. Uma delas é a utilização de tecnologias com inteligência artificial para operar a distância ferramentas que auxiliam no processo de eliminação de barragens a montante, aumentando a segurança da equipe que realiza a atividade. Também são utilizados robôs em outras áreas com o intuito de tornar a empresa um ambiente de menor risco para os funcionários.
Analisando os produtos físicos, a Vale produz itens como o briquete verde e a areia sustentável, que colaboram com a sustentabilidade e a economia circular. Colaborando com isso, o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento da empresa reforça o compromisso, com US$ 549 milhões investidos em 2022, equivalente a 1% do faturamento total da empresa.
Lição #3: Conheça o mercado que atua
A Embraer é a terceira empresa mais inovadora do país. Este resultado veio, em partes, pelo conhecimento do mercado em que empresa atua, antecipando tendências e possibilitando um lucro maior ao sair na frente de concorrentes.
“O que chamamos hoje de avião vai ser uma coisa muito diferente no futuro. Os próximos 20 anos vão ser revolucionários para a indústria da aviação, e nossa missão é reinventá-la.” As duas frases foram ditas por Daniel Moczydlower, vice-presidente de inovação da EmbraerX, subsidiária da Embraer voltada para o mercado de inovação. Pensando na indústria do futebol, estamos em uma situação semelhante. Uma aproximação com a indústria do entretenimento, novas formas de transmissão das partidas, iniciativas de web3 e diversas outras tecnologias irão transformar o mercado, e será preciso atenção dos principais agentes esportivos.
Voltando ao caso da empresa de aviação, alguns aspectos em relação a visão de futuro podem ser destacados. O primeiro deles é a preocupação com o meio ambiente, buscando realizar operações neutras em carbono até 2040, por exemplo, além do investimento em pesquisa para tecnologia de baterias elétricas para as aeronaves.
A inovação mais impactante, com previsão de lançamento para 2026, são os eVTOLs, os veículos aéreos da Embraer, produzidos pela subsidiária Eve Holding Inc. A empresa do setor estreou na Bolsa de Valores de Nova York, tendo como foco o mercado de mobilidade aérea urbana, com potencial de US$ 760 bilhões. Fala-se até na expectativa de Eve alcançar o tamanho da Embraer em um período inferior a 10 anos, transformando-se no principal negócio da empresa.
Lição #4: Pesquisa e desenvolvimento como chaves para inovação
Na quinta posição do ranking desenvolvido em parceria entre Strategy& e Valor Econômico está o Hospital Albert Einstein, localizado em São Paulo. Um dos principais destaques na estratégia de inovação da entidade é o setor de Pesquisa e Desenvolvimento, uma aproximação com o meio acadêmico que faria muito bem ao futebol nacional.
Os estudos estão inseridos na estrutura de inovação do Einstein através do Health Innovation Tech Center. Seu trabalho inclui a prospecção tecnológica, preparação de projetos, captação de recursos, pedidos de proteção e comercialização de tecnologia. Além disso, o centro de tecnologia avalia projetos externos com potencial de serem concebidos pelo hospital ou por parceiros, como instituições/empresas, universidades e startups.
Ainda neste setor, o Einstein inaugurou em agosto de 2021 seu mais novo centro de ensino e pesquisa, com investimento de R$ 700 milhões. São cinco andares focados nos dois pilares, oferecendo laboratórios multiplataforma, 21 salas de aula, auditório e espaços dedicados aos alunos e professores. Além disso possui áreas específicas para inovação e big data analytics, que interagem com o restante da estrutura.
Lição #5: Abrace a inovação aberta
A iniciativa de inovação da Ambev, nona empresa mais inovadora do país, tem dois focos importantes para qualquer empresa: a preocupação com o cliente, buscando soluções que antecipem suas necessidades, e os colaboradores, que têm abertura e autonomia para propor e implementar soluções criativas, assumindo riscos de seus projetos.
Para impulsionar essa estratégia, a empresa utiliza a inovação aberta, se relacionando principalmente com startups para solucionar desafios internos e externos. a Ambev leva em conta a urgência da oportunidade e os ativos disponíveis na empresa para definir se resolve aquele problema internamente ou busca parcerias com startups.
Essa abertura seria muito bem-vinda aos clubes de futebol e demais entidades do esporte, principalmente quando pensamos na dificuldade de as estruturas do mercado esportivo buscarem soluções em um dia a dia muito voltado para o curto prazo.
Para facilitar a conexão, a Ambev disponibiliza um canal de inscrições para startups que desejarem se conectar com a empresa em seu site. São nove áreas de interesse, considerando temas como logística, experiência do consumidor, sustentabilidade e meio ambiente e novos produtos, sendo possível se conectar com startups de diferentes estágios. O sucesso desse processo ainda incentiva a inovação nos outros setores da empresa, auxiliando na criação de uma cultura de inovação.
Para cada realidade, uma verdade
Ao longo dos últimos parágrafos, pude trazer diferentes exemplos de como implementar iniciativas de inovação em uma grande empresa. Antes de terminar o texto, considero importante fazer um alerta, a partir de uma frase muito usada por Fernando Carvalho e que foi inclusive tema de um texto dele por aqui.
“Para cada realidade, uma verdade”. O que isso significa? Cada setor, cada empresa, tem realidades específicas que devem ser consideradas na hora de criar uma estratégia e definir ações. O futebol possui uma forte cultura que precisa ser levada em conta na hora de buscar inovações para o mercado. A partir das lições acima, e considerando o contexto do esporte, vejo que temos um potencial incrível para inovar. Quem sabe em alguns anos não temos um clube de futebol presente no ranking?
Texto de Rodrigo Romano.