Compartilhar é um dos verbos mais atuais, salvo engano. Com a velocidade da transmissão de informação não descarto esse ser meu primeiro erro de avaliação. Azar, comunicar aposto que segue firme e forte no topo da lista. Puxando a brasa para o meu assado então, compartilhar conteúdo ligado à comunicação é algo que não se perde com o tempo. E nos atuais, a paixão clubística nunca ocupou tanto espaço nos veículos como agora. Refletir sobre esse tema é algo que o FootHub me proporciona. Sou entusiasta da marca desde sua criação, pois o simples fato de reunir áreas diferentes do futebol em um mesmo local faz os olhos brilharem. A título de provocação já adianto àqueles que costumam consumir 140 caracteres, concordam com o VAR somente quando favorece seu clube ou não toleram o contraditório, podem buscar outro caminho. Agradeço de antemão terem terminado de ler o primeiro parágrafo.
Na era da tecnologia, de programas táticos superdesenvolvidos, de algoritmos, de métricas, de cálculos e gráficos, de registros inequívocos da performance de um atleta durante o treino e os jogos, ainda me pergunto porque, dentre tantas outras atribuições modernas, a gestão de pessoas é apontada há algum tempo como uma característica, se ainda não essencial, mas já diferencial no currículo de dirigentes e treinadores de futebol. A resposta, venho matutando desde que estive dez anos imerso no vestiário de um grande clube, pode estar não nos números e cores em destaque ao lado do nome de um jogador avaliado, mas justamente em quem trabalha com eles: as pessoas e não as máquinas, claro.
Com o passar do tempo, tenho convicção de que essa virtude pode e deve se estender aos líderes do grupo e até a qualquer outro profissional do escopo multidisciplinar que compõe o espectro daqueles que transitam entre os principais personagens da bola: os jogadores. São eles o início e o fim para quem todos trabalham, mas nesse caminho, é imprescindível fazer com que todos ali – principalmente eles diariamente expostos – entendam não os conceitos técnicos e científicos, óbvio, mas a razão de existir de cada departamento que os abastece. Fatores humanos e relações interpessoais fortalecem o trabalho em um vestiário de futebol. Fortalecer cada departamento, portanto, concluo seja alicerçar a empresa que corre de chuteiras.
No futebol, a ciência e o empirismo tabelam cotidianamente. Dependendo do resultado dos 90 minutos um tira sarro com o outro em um exercício lúdico de como o desfecho daquilo que é pensado e trabalhado na semana importa bem mais do que o processo em si. Ao contrário do que diz a música de Jorge Drexler: “Amar la trama más que el desenlace”.
Todo mundo dentro e fora de campo torce para um time. Quem joga em grande maioria não torce para o time que veste a camisa. O contrário, os de fora todos torcem para aqueles que não torcem para seu time, mas que jogam por ele. Parece uma simples obviedade, mas não é. Valorizar o sentimento do torcedor é algo que deve ser feito diariamente.
Não pela questão financeira das relações no futebol, mas por este cutucão, é possível iniciar a partir daqui uma ideia de como melhorar a relação entre torcedores e personagens do futebol. O advento das redes sociais e o alcance por elas produzido, a meu ver, distorcem a realidade que está posta. Se é verdade que um fã pode se comunicar diretamente com seu ídolo por um direct ou marcando sua @ em determinada rede, a cobrança do torcedor comum não é vista com bons olhos por quem é cobrado.
Nesse momento é que o jornalista deve sublinhar seu papel perante a sociedade. E bom lembrar, o futebol pode estar distante, mas não à margem desta. É ainda o jornalista o responsável por aproximar as pessoas dos personagens. De que forma? Contando suas histórias de vida, contextualizando suas conquistas e fracassos, os instigando, os provocando etc. Em última análise, é com ferramentas e habilidades jornalísticas que se humanizam os heróis e vilões.
Compreender que esse papel é e deva ser cumprido por alguém que torce por um time – momentaneamente não o seu – é fundamental para o bem-estar de todos os envolvidos. Há em prática um fenômeno dos jornalistas declarados. É cedo para avaliar a consequência e os reflexos dessa tomada de decisão na esfera de quem produz como da de e quem consome um conteúdo de quem abertamente toma partido e incorre no risco de colocar no mesmo patamar o amador e o profissional. Há quem faça isso sem esforço, registre-se.
No Rio Grande do Sul, historicamente um estado dicotômico, escrever, opinar, noticiar algo que desagrade o lado vermelho é estar pintado de azul. Do mesmo modo, ir contra o azul é ter respingos de vermelho na atividade profissional. Estive uma década como assessor de imprensa do Grêmio e trabalhei com inúmeros colorados em todos os setores possíveis do clube. Todos sempre tiveram respeito pela “escolha”, mas raramente vi com o mesmo grau de tolerância a aceitação de alguém da mídia do caráter profissional de quem pode ter uma cor predileta.
A paixão clubística é algo ainda não digerido no mundo do futebol e, portanto, talvez seja a hora de colocar esse tema para debate com sede maior de reflexão. Trocando experiências, lendo a respeito e por fim, compartilhando conteúdo. Se é isso que o FooHub está propiciando neste momento em que nunca tivemos tão expostas, não é hora de baixar o olhar quando o treinador pergunta quem quer bater o pênalti. É hora de pegar a bola, correr para a marca da cal e assumir responsabilidade. Há sempre alguém nos observando.
Para onde a bola vai pouco importa. Quem chegou até aqui no texto tem a mesma motivação de quem o escreveu. Somos todos torcedores e o que nos diferencia é o que fazer com o que sentimos pelo clube que torcemos.
Texto de João Paulo Fontoura.