O conceito de inovação é algo muito amplo nos dias de hoje. Podemos resumi-lo ao ato de gerar valor para um produto ou serviço de forma diferente ao padrão anterior. No futebol brasileiro, existem diversos casos em que tais padrões são seguidos por dirigentes e jogadores, o que acaba impedindo o desenvolvimento do mercado. Para os próximos anos, utilizar a inovação será questão de sobrevivência aos clubes que pretendem disputar títulos e atrair a atenção de torcedores.
Tendo o conceito de inovação anterior como base, podemos dizer que esta sempre existiu no futebol brasileiro. Ações de marketing esportivo, como estampar marcas no uniforme de jogo, surgem por aqui desde os anos 1980. Na época, era a forma que os clubes encontravam para gerar valor às camisas utilizada pelos atletas, grandes personagens do espetáculo.
O grande problema, no entanto, sempre foi a velocidade com que estas ações eram implementadas. A situação precisaria chegar a um nível crítico para se buscar uma forma nova de realizar iniciativas. Além disso, o tempo necessário para reconhecê-la como parte importante da estrutura era grande, permanecendo assim até hoje. Os resultados das inovações costumam aparecer mais no longo prazo. A cultura do esporte brasileiro, pelo contrário, dá importância apenas aos profissionais que mostram resultados imediatos, ainda que as conquistas não se sustentem por muito tempo.
Estes aspectos mostram que não há, por enquanto, uma estrutura capaz de sustentar e incentivar a inovação no futebol brasileiro. Existem apenas algumas iniciativas isoladas de inovação. O principal exemplo é o departamento de inovação do Atlético-MG. Liderado por Débora Saldanha, parceira do FootHub e professora do curso Jogo da Inovação, o clube mineiro vem há algum tempo liderando as iniciativas no setor, tendo recentemente incluído a Arena MRV como um ferramenta para contribuir com a inovação.
É importante que o problema da falta de estrutura para inovar seja resolvido o quanto antes. Pesquisas apontam um desinteresse crescente no futebol ao redor do mundo e se o esporte brasileiro permanecer atrasado em relação aos demais centros, esse efeito pode ser ainda por aqui. A partir disso, separamos dois pontos que podem ser trabalhados para transformar o mercado de futebol no Brasil um ambiente ligado a inovação:
Inovação como cultura
A inovação deve se tornar algo cultural, uma visão implementada dentro das organizações, independente de um departamento. Estamos vendo alguns clubes criarem departamentos para tratar de inovação, mas esse pensamento deve estar presente nos setores de administração, finanças, marketing, tecnologia e qualquer outro. O importante é que conceitos que guiam essa cultura sejam utilizados. Um deles é o incentivo ao aprendizado. Buscar novas maneiras de resolver os problemas da organização sem medo de errar, pois cada equívoco pode servir para aprimorar o produto. Vemos o futebol brasileiro muito crítico quanto aos erros, criando grandes vilões nas disputas dentro de campo. A consequência disso é o medo da inovação, evitando opiniões contrárias por um lado, mas o avanço por outro.
Inovação na tomada de decisão
Outra barreira significativa, talvez a maior, seja o fato de os profissionais ligados à inovação, que estudam o tema e sabem incentivar o uso dessa prática no dia a dia de empresas, não estarem posicionados nos cargos de tomada de decisões. Para resolver esta questão será preciso contar com o reconhecimento geral do mercado, que impulsionará as pessoas certas aos cargos de liderança. Cabe também aos profissionais que hoje tomam as decisões perceberem as mudanças do ecossistema e buscarem tanto o conhecimento necessário para desenvolver a indústria no futuro, quanto estarem cercados de indivíduos que consigam contribuir para que isso aconteça.
Existe um aspecto capaz de tranquilizar os defensores da inovação quanto ao atraso do futebol brasileiro. Quando seus conceitos são aplicados corretamente, os avanços que surgem como consequência acontecem em uma velocidade capaz de superar os anos de atraso. No momento em que os dois aspectos anteriores forem postos em prática e tivermos os primeiros sinais de um ambiente realmente inovador no nosso futebol, poderemos dizer que estamos na Era da Inovação.
Texto de Rodrigo Romano.