Se tem um assunto badalado no mundo do futebol hoje em dia, certamente as licenças estão entre os principais. Licença CBF, ATFA, UEFA, AFC… enfim, são inúmeras! Estas licenças têm importância vital para a carreira dos treinadores de Futebol, pois elas fazem uma espécie de escalonamento na formação de técnicos e dão a eles, de acordo com o seu grau, a possibilidade de exercer uma determinada função em um clube.
Estas licenças foram criadas com o intuito de fornecer formação para futuros treinadores e, ao mesmo tempo, criar para qualificar um indivíduo como profissional do futebol. Isto não significa que ter uma determinada licença te faz mais competente que alguém que não tenha qualificação, mas o critério estabelecido, em teoria, faz pensar sobre o estudo e o desenvolvimento do treinador em relação ao esporte, evitando que fiquem estagnados e, por consequência, perca a essência do Futebol. O fato é que esta discussão está longe de terminar.
Embora existam licenças das mais diversificadas possíveis, não é de se estranhar que haja uma grande procura pela Licença UEFA, afinal de contas, profissionais que possuem esta qualificação estão habilitados a trabalhar em todo o mundo. O contrário não é verdadeiro, uma vez que não há equivalência de praticamente nenhuma outra certificação para a licença UEFA.
Em primeiro lugar temos que entender que a UEFA é uma confederação assim como a CONMEBOL. Vamos traçar um paralelo: a Licença CBF é similar à Licença AFA? Obviamente que não! As duas possuem métodos próprios e características em relação a tempo, conteúdo e objetivo bem distintas, MAS … ambas são licenças CONMEBOL. Da mesma forma, as licenças UEFA não são obtidas todas da mesma maneira, variando entre cada federação de futebol. Por exemplo: em 3 anos é possível tirar todas as licenças UEFA na Espanha ou na Escócia, enquanto as de Portugal figuram entre as mais longas da Europa, com quase 10 anos entre aulas, estágios e tempo de prática profissional.
Focando propriamente na licença UEFA portuguesa, há dois caminhos para a obtenção desta certificação: uma pela via acadêmica e outra pelas Associações de Futebol. Pela via acadêmica, o estudante que se formar em determinadas instituições (exemplo: a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto…) pode obter os níveis I (UEFA C) se concluir a graduação em Ciências do Desporto com ênfase em Futebol, e nível II (UEFA B), concluindo o mestrado em Treino de Alto Rendimento com ênfase, também, em Futebol. Enquanto isso, quem não tiver via acadêmica, tem de se inscrever através das Associações de Futebol (Lisboa, Porto, Braga, Évora, Algarve, etc…) para completar os cursos de treinadores.
Neste caso, cada nível é composto por três partes distintas: Geral, Específica e Estágio. Entre aulas e estágios, cada etapa leva de 6 meses a 1 ano. Após este momento de conclusão da licença, não se pode dar entrada imediatamente para o próximo nível, mas sim, deve estar 1 ano registrado como treinador em algum clube para, só então depois (de completar esse período como treinador UEFA C), se registrar na UEFA B e começar novamente a fazer as etapas gerais, específicas e o estágio. Os tempos são praticamente os mesmos.
Quando nos referimos às licenças UEFA A e Pro, a conversa é diferente. Nestes casos, alguns treinadores são convidados pela Federação Portuguesa de Futebol, não podendo ninguém se inscrever até ser chamado pelos responsáveis desta instituição. Recentemente, se formavam cerca de 30 treinadores UEFA A por ano e cerca de 20 treinadores UEFA Pro a cada 2 anos, ou seja, um grande número de treinadores – em prática profissional – não conseguem as licenças exigidas para exercer suas funções junto a escalões mais altos.
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Não à toa, a grande maioria dos treinadores recorre às licenças fora de Portugal para conseguir esta qualificação (Espanha, Escócia, Inglaterra, País de Gales, etc…). O próprio José Mourinho obteve as suas qualificações em terras escocesas. Em países como estes, a desburocratização vira quase regra, uma vez que existe a possibilidade de completar cada nível em menos de um ano. Se é melhor ou pior? Não é propriamente esta questão, mas ficam aqui os questionamentos: por que não se unificam as licenças ou se começa a ter um meio-termo para obter equivalências? O que há em determinadas licenças que não há em outras? Se a proposta da licença é dar uma boa formação, quem garante que dar mais tempo de curso é mais efetivo?
O que será preciso para reconhecer que um treinador pode ser competente, independente da sua nacionalidade? Seria receio de abrir o mercado e, por consequência, deixá-lo mais competitivo, tal e qual aconteceu no Brasil? Do ponto de vista prático, é impossível um treinador sobreviver no mercado internacional se a cada vez que for a um país diferente, tiver de tirar novas licenças.
Texto de Leonardo Monteiro.