Faz alguns anos desde a primeira vez que eu ouvi Tim Maia. Não consigo lembrar exatamente como eu cheguei ao catártico momento em que aquela voz tomou minhas emoções da forma que quis. O fato é que marcou. Marcou e não foi pouco porque eu quis conhecer o artista consequentemente a pessoa que me fez sair do prumo com seu talento.
Fucei o que deu. Todos os álbuns que encontrei na internet. Ah, internet, obrigado por tanto! O ótimo filme que reproduz um pouco do que foi a … e pouco compreendida história do “Síndico”. Tudo o que Tim viveu até chegar à glória e após ela também, pois se tem algo que ele fez foi viver.
Foi uma vida cheia de excentricidades, como nos aponta o senso comum sobre a existência de quase todo gênio que nos deu a honra de ocupar o mesmo astro que nós, meros e admirados mortais. A complexidade dele é tão grande como o legado que deixou, mas especificamente uma questão me trouxe para este texto.
Este que não é nenhuma análise sobre a queridíssima Música Popular Brasileira. É mais um devaneio. Tal qual a de adentrar a algo que não é história, não é doutrina, não é ciência, seita ou religião. É uma cultura que Tim Maia seguiu, por pouco tempo, é verdade, mas que gerou um dos trabalhos mais geniais da música brasileira.
A Cultura Racional visa nos ligar com o nosso mundo de origem através da força imunizadora racional. Até os alienígenas são postos na história. Desmistificar. Purificar. São algumas das principais bandeiras do livro que mudou a vida, ou melhor, dois anos da vida do cantor. O fez mais calmo, equilibrado, simples. O fez menos Tim Maia. Ainda Gênio.
Universo em desencanto (leia o livro!). É o livro base para toda essa experiência posta em canto por Sebastião. Foi um flerte com a racionalização. Do jeito extravagante dele, como quase tudo que esteve ao seu redor, entretanto tão comum quanto estar tocando um pagode na minha residência em uma sexta qualquer. Já me coloquei na estória, me mantenho. Eu mesmo tenho pretensões racionais que não passam do que são. Flertes.
Não entender, por vezes, é privilégio. Há coisas que não precisam ser racionalizadas, simplesmente acontecem. Aceitar, diria o jargão popular, dói menos. É conhecer o inconcebível. Aquilo que está além de nós e nos leva além. Como dois gols, nos últimos minutos de uma partida de Champions, contra o favorito City do Guardiola, né Rodrygo?
Rodrygo e o Real Madrid, por certo, chamam o incógnito de meu bem. Levam pra passear pelos campos, a encontrar com os deuses do futebol e suas aleatoriedades mais previsíveis. É o chute errado que entra no lugar certo, o passe que atrasa, mas permite que esteja no lugar certo para cabecear a bola até o fio do barbante. Foi assim hoje e parece ser sempre assim com os merengues.
Até o homem-da-vida alemão, Toni Kroos, se rendeu à quimera constante que ronda o Santiago Barnabeu em noites de grandes jogos, sobretudo na Liga dos Campeões. Você pode explicar racionalmente a calma de Camavinga sempre que entrou nos momentos difíceis, o protagonismo anímico de Benzema, a vitalidade de Valverde, a estratégia de Carleto, o papel de Vini, a estrela de Rodrygo. Enfim…
Tudo isso entra em campo, mas tem algo mais. Algo que não precisamos saber o que é. Aleatoriedade? Intuição? Instinto vencedor? Tudo isso junto? Talvez. A verdade é que não importa o que falamos ou pensamos. O universo madridista está sempre em encanto. Assista o jogo!
Texto de Pedro Heitor, de Los Futebólicos.