fada do skate
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A fada do dente de prata

Eu tinha menos de 13 anos de idade nos anos 1980 quando o filme De volta para o futuro despertava uma vontade juvenil: ir de skate para o colégio me segurando no para-choque de um ônibus como fazia o adolescente Marty McFly interpretado por Michael J. Fox na ficção. O passar do tempo muda as perspectivas, principalmente a do medo diante dos riscos. Eu não consegui assistir ao vivo a final da nova modalidade olímpica. Não tive coragem para ver uma guria de 13 anos descendo em alta velocidade por um corrimão.

Quando acordei na segunda-feira pela manhã, a primeira coisa que fiz foi pegar o celular para ver se a Rayssa Leal tinha ganho o ouro. O tempo de rodar o vídeo com a performance seguida do discurso de uma criança foi o que durou a frustração adulta.

“Eu estava me divertindo, vivendo o momento mais especial da minha vida. Quando eu estou animada, fico brincando, me divertindo e dançando”, foram algumas das palavras da guriazinha que momentos mais tarde faria a medalha no peito combinar com a cor do sorriso no rosto.

Gosto tanto de Olimpíada e mesmo assim até hoje nunca despertou em mim a vontade de me fazer presente nesse evento espetacular. Nem como torcedor nem como jornalista. Lógico, que essa vontade também esconde minha incapacidade profissional de me imaginar estar lá fazendo esse tipo de cobertura.

Do conforto da minha casa, chorei com o Maurício pulando no colo do irmão gêmeo a arquibancada no ouro inédito do vôlei masculino, quase morri torcendo para a Paula e Hortência contra as americanas, saboreei o Dream Team de Jordan e Johnson, dei risada com as falhas do Dida e do Roberto Carlos porque imaginava o Arilson, de casa e o Danrlei, do banco, assistindo aquelas trapalhadas cômicas contra a Nigéria.

Em outras edições, cantei o Brasileirinho com da Daiane tempos depois do “Sydney, vamos lá”, sofri anos com Márcia Fu, Leila, Virna até chegar a geração de Fabi, Jaqueline, Fernanda Garay e Sheila, acompanhei o 19×24 contra a Rússia. São muitas as lembranças de choro à distância, com o perdão do trocadilho ao recordar o ouro da Maurren Maggi, em Pequim.

Distante sempre foi meu lugar. O conforto do sofá, no entanto, é uma baita oportunidade. Pois dele tenho acesso ao Ernesto Paglia, agradável voz de erres destacados, a sobriedade do Marcos Uchôa, o texto do Pedro Bassan, a categoria dos Andrés Plihal e Kfouri, todos eles junto ao carisma e talento da nova geração, em especial a feminina, formam um cardápio saboroso.

Pois é feminina também até agora a imagem mais tocante das Olimpíadas de Tóquio, pelo menos para os brasileiros. A Fadinha materializando seu sonho andando de skate do outro lado do mundo é uma realização, creio eu, imensurável. Tenho até hoje no queixo a cicatriz de três pontos por tentar me aventurar a andar sob quatro rodinhas. Na época uma frustração do tamanho de não saber até hoje nem assoviar e nem piscar um olho. Hoje, porém, uma doce lembrança de um passado que não volta mais. Tempos em que eu estava apenas me divertindo.

Texto de João Paulo Fontoura.

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