– Eu vejo treinamentos.
– Com que frequência?
– O tempo todo.
O diálogo baseado no filme “O Sexto Sentido” nada mais é que uma analogia para que se compreenda o trabalho do analista de desempenho no dia a dia de um time de futebol. Quando falamos de análise de desempenho, a maioria das pessoas correlacionam somente os dados do jogo. Porém, o que mais vemos são as imagens, seja ela de treinamentos ou de jogos. Por isso, vamos falar hoje sobre o processo de análise de uma equipe.
Primeiro é preciso entender as ideias e o modelo de jogo do treinador que está a frente da comissão técnica. Assim, se faz um planejamento dentro do processo de análise do que realmente acrescentará, ou seja, quais informações vão contribuir para a equipe.
Começamos tentando compreender o perfil dos atletas de uma equipe. Engana-se quem imagina que o processo de análise envolve “somente” a parte tática, técnica ou física. Precisamos analisar e entender o aspecto psicológico também.
É neste aspecto que identificamos como lidar com o atleta. É a característica onde precisamos ter mais cuidado para saber como extrair a melhor performance dele. Afinal, é desta maneira que ele vai poder contribuir diretamente com o modelo de jogo implementado. É importante saber como ele assimila as informações.
Análise do dia a dia
Agora sim, vamos falar sobre como é o dia a dia do analista na percepção de análise da própria equipe. Primeiramente, todos os treinamentos são filmados para que seja possível observar todos os detalhes do que acontece.
Como auxiliar e analista, eu tenho a possibilidade de ficar dentro do campo para observar e construir um trabalho em conjunto com o treinador. Eu dou as informações em tempo real para o técnico que tem um modelo de jogo bem definido e para cada situação e cada adversário (ainda vamos falar sobre isso aqui no FootHub). As correções são feitas ali mesmo, no momento da execução.
Ao chegar no clube, eu assisto o treinamento mais uma vez em vídeo para ver, de maneira geral, algum detalhe que possa ter passado despercebido. Afinal, não é possível um profissional ver tudo o que acontece durante o treino. É nesses momentos que o nosso sexto sentido (de novo ele) aparece, pois relembramos das situações e nos damos conta do que pode ter acontecido ou o que, poderia acontecer.
Se tiver algo que chame a atenção – positivamente ou negativamente – este trecho é recortado e enviado para o treinador. Neste caso, avaliamos como podemos conversar com cada atleta ou com o grupo de forma geral, conforme as necessidades de informações.
O importante é analisar e pensar nos objetivos que pusemos naquelas sessões. Estamos evoluindo ou não? Precisamos mudar nossa estratégia de treinamento para alcançar o nosso modelo de jogo? O nosso treino surgiu o efeito que gostaríamos? Deste jeito conseguimos identificar quais correções são necessárias para alcançarmos os nossos objetivos.
O dia a dia de um analista é de muita observação e avaliação. Com jogos quarta e domingo, precisamos sempre projetar a análise do próximo adversário. A gente debate entre a comissão técnica (treinador, auxiliar, analista e demais membros) para montar o processo de treinamentos daquela semana.
De acordo com o modelo de jogo do treinador, é montado um “treinamento base”. Com duas partidas na semana, a ênfase é na característica do adversário, até porque, o modelo de jogo do treinador já é conhecido de todos. Por isso o treino é montado em cima da estratégia do jogo que vamos propor durante a partida.
Na minha atual comissão técnica, sob o comando de Dyego Coelho, separamos o pré-treino em dois momentos: um defensivo e outro ofensivo. Sem esquecer, é claro, do trabalho de bola parada antes de cada partida para que a gente possa chegar mais bem preparado. Como analista e auxiliar, estas informações são passadas aos atletas no treino da segunda durante o próprio processo de treinamento. De acordo com a informação que o atleta precisava captar, de maneira objetiva.
O time titular trabalha do jeito que gostaríamos de jogar e o segundo time reproduz os movimentos do adversário. São informações setorizadas para que eles possam compreender e estarem preparados para o jogo. Depois de toda a preparação, estamos prontos para o jogo.
Mas a análise do jogo é assunto para mais um texto. E, quanto ao processo de treinamentos, sim, como no filme, o tempo todo.
Texto de Michele Kanitz.