Quando falamos de inovação, podemos dividir a atuação em três áreas: pessoas, processos e tecnologias. Por mais que um departamento de futebol necessite sempre de melhoria nos processos e no relacionamento entre pessoas, o foco deste texto serão as tecnologias. Trarei aqui algumas ferramentas relacionadas diretamente com o executivo de futebol e com as áreas que o cercam que, se utilizadas com precisão, podem potencializar o trabalho do departamento.
Tecnologia na análise de desempenho
A área de análise de desempenho é uma das que mais evolui dentro do futebol, com a tecnologia toma conta do setor. Esta área pode ser divida em três segmentos de atuação: foco no próprio time, verificando forças e fraquezas de sua equipe, estudo das equipes adversárias e análise de mercado, que abrange a negociação de jogadores, seja para chegada ou saída de atletas.
Para este trabalho, uma das plataformas utilizadas por clubes brasileiros e pela seleção nacional é a Kin Analytics, empresa com sede no Equador. No evento de encerramento da terceira turma do curso de Executivo de Futebol, realizado em São Paulo em maio desse ano, o FootHub recebeu Ramiro Rangles, Head of Sports Analytics da empresa, para uma palestra que apresentou um pouco mais o trabalho.
A trilha de uso da plataforma da Kin Analytics é dividida em três partes:
– Processar dados crus;
– Obter inteligência para assistir na tomada de decisões;
– Gerar estratégias acionáveis para atingir os objetivos.
A partir disso, são gerados alguns indicadores chave, KPIs, para quantificar o objeto de estudo.
A empresa destaca que atua de forma próxima aos clientes, sejam clubes ou seleções, pois cada um possui seu próprio contexto, com seus objetivos e ideias de jogo. As informações se tornam mais precisas quando aplicadas a partir do conhecimento destas informações, conduzindo a estratégia por um caminho que faça sentido para cada instituição.
Outra ferramenta utilizada é o InStat, empresa de origem russa. Seu principal diferencial são os relatórios, exemplificado na imagem abaixo, oferecidos aos clientes com os dados necessários para que os profissionais absorvam o máximo de informações relevantes. Também é possível citar o WyScout, Hudl e Opta Sports como outras tecnologias utilizadas no trabalho de análise.
Tecnologia na saúde e performance
A indústria do futebol tem movimentado quantias cada vez maiores, sendo o pagamento de salários dos atletas e os valores gastos em contratações duas das principais formas de despesas. Nesse sentido, o tempo que um atleta não está sendo utilizado, ou não está em condições de render seu melhor desempenho, é visto como prejuízo para os clubes, não só esportivo, mas também financeiro.
O desenvolvimento da área de saúde e performance surge como solução para este problema, com as tecnologias auxiliando preparadores físicos, fisiologistas e fisioterapeutas a realizarem seu trabalho. Conversei recentemente com Felipe Rabelo, profissional com passagem pelo Athletico Paranaense e Valladolid-ESP, para auxiliar na montagem desse texto.
Um desafio para a área é que a chegada de novas tecnologias para clubes e entidades dependem de investimento. Nem sempre a realidade da instituição irá permitir que adquirir o melhor aparelho, cabendo aos especialistas na área avaliarem a real necessidade das ferramentas. Felipe destacou três pontos utilizados por ele para decidir se o clube compra ou não uma tecnologia:
- Comprovação científica: aquela tecnologia realmente funciona?
- Custo-benefício: o investimento exigido vale a pena?
- Aplicabilidade prática: é possível aplicar a tecnologia dentro da rotina e cultura do clube?
Esse levantamento se faz necessário em um mercado com cada vez mais soluções disponíveis. A área de saúde e performance foi uma das citadas no texto “Startups e investimentos no esporte ao redor do mundo”, com soluções voltadas para atletas como destaque entre as sportstech.
Para citar um exemplo de tecnologia, a empresa Catapult é uma das mais conhecidas do mercado. A startup australiana possui soluções para todos os elementos do ecossistema de desempenho, desde o rastreamento a partir de wearables até gerenciamento de atleta e análise de vídeo. Jogadores utilizando a ferramenta de monitoramento durante as partidas é uma cena comum no futebol brasileiro.
Tecnologia na logística
A área de logística costuma ser pouco lembrada quando citamos o departamento de futebol, mas é uma das mais importantes em um futebol brasileiro com distâncias longas a serem percorridas e uma quantidade exaustiva de partidas acumuladas em poucos dias.
Uma das tecnologias usadas por clubes de diversas realidades, desde a elite nacional até divisões inferiores estaduais, é a plataforma de gestão da Beatscode, uma startup de Chapecó que atende hoje 26 instituições no mercado do futebol.
A plataforma começou suas atividades em 2016, tendo a Chapecoense como cliente inicial. O foco era a área de logística, com informações como local e hora da apresentação, uniforme de viagem, programação completa, hotel e detalhes do transporte. Tudo isso considerando a tabela de jogos do clube e a programação de treinamentos definida pela comissão técnica.
Com o crescimento da empresa e a chegada de novos clientes, foram adicionados novos módulos na ferramenta, como área de saúde, gestão de pessoas e contratos, de acordo com as dificuldades vivenciadas pelos clubes. Vale ressaltar que, por ser uma ferramenta modular, é possível ajustar quais tópicos serão inseridos no serviço, definindo um produto que esteja de acordo com a realidade do orçamento de cada entidade.
Como falei no início do texto, inovação não é só tecnologia. É, também, pessoas e processos. Todos os profissionais citados neste texto mencionaram que as tecnologias utilizadas e promovidas por eles se tornam inúteis sem pessoas que saibam aplicá-las. Entender conceitos como cultura de inovação, gestão de risco e mindset pode auxiliar no processo de implementar as ferramentas citadas no texto e muitas outras no dia a dia do trabalho do executivo de futebol.
Para saber mais como utilizar isso na prática, convido os leitores deste texto a participarem da quarta turma do curso Executivo de Futebol, com início marcado para 12 de setembro. Entre os conteúdos teremos a aula da Débora Saldanha, gerente de inovação do Atlético-MG e uma das principais referências do mercado. Além dos conceitos propriamente ditos, Débora relata os principais desafios de sua rotina no Galo. Acesse aqui e garanta sua vaga.
Texto de Rodrigo Romano.