No futebol ou na vida, todos nós temos mestres inspiradores que abrem nossos horizontes e nos ajudam a pensar fora da caixa. Felizmente, posso dizer que tenho excelentes referências em minha vida: meus pais, Professor Doutor Filipe Casanova (orientador de mestrado/doutorado e amigo) e Steve Sallis. Acredito que a base de referenciá-los não se trata sobre um aspecto específico, mas sim, do conhecimento geral, específico e humano que todos possuem. Me atrevo a dizer que estas sabedorias são tão raras quanto diamantes nos dias de hoje.
Especificamente sobre Steve Sallis, eu o “conheci” quando fiz a primeira licença da UEFA na Escócia, onde tive o prazer de ser aluno dele (infelizmente, as aulas não foram presenciais). Me tocou o fato da aula prender a atenção durante tanto tempo e de forma tão simples. Em tempos de reuniões online, sabemos a dificuldade de manter-se focado em uma aula ou reunião durante tanto tempo e, no entanto, Steve parecendo que estava apenas conversando conosco nos brindou com um conteúdo incrível.
Dizia ele em dado momento: “É legal ser importante, mas mais importante é ser legal” (“Nice to be important, but more important to be nice”) e, ao trazer sua experiência do futebol e da vida, nos convencia verdadeiramente que aquelas não eram apenas “palavras de efeito”, mas que havia coesão entre o que sabemos e a pessoa que devemos ser aos nossos atletas. Não é possível haver um bom profissional em uma má pessoa: um bom profissional sempre estará dentro de uma boa pessoa.
Após este (breve) momento, tomei conhecimento de que havia um livro escrito por ele chamado “Educating Football: How Teachers, Coaches and Parents can Develop a Solutions Mindset for Their Players”. O título por si só já justifica o motivo pelo qual Steve Sallis pensa fora da caixa: englobar professores, treinadores e pais para uma melhor formação dos nossos jogadores. Isto requer uma sensibilidade que, perdoem a minha sinceridade, a grande maioria dos profissionais não está preparado para esta conversa.
Este livro (há apenas em versão inglesa) conta com 280 páginas, 39 capítulos e mais de um milhão de ensinamentos. Sua leitura é leve e é impossível termina-la sem uma outra mentalidade de quando se começou. Baseada na experiência como treinador e professor, Steve traz à luz o que a indústria do Futebol tem se tornado ao longo dos anos e como a educação desportiva ou formal impacta diretamente na formação dos jogadores.
Além disso, expõe a importância da saúde mental da criança desde cedo e o impacto que pais podem ter nesta formação. Sua visão holística sobre o processo de desenvolvimento humano-atlético mostra uma nova forma de viver o esporte, afinal de contas, como ele mesmo diz: do que adianta saber sobre futebol se você não sabe sobre pessoas, psicologia, inteligência emocional, ensino, aprendizagem verdadeiramente eficaz ou mesmo liderança?
Para quem trabalha (ou trabalhou) com Futebol, existem capítulos que dá a sensação de que Steve está descrevendo ex-colegas de trabalho; há histórias de jogadores, treinadores, mestres e pessoas que circulam no futebol de forma despretensiosa, mas o livro ensina igualmente sobre todos estes “personagens da bola”.
Particularmente, um dos pontos que mais me marcou foi quando, ao explanar sobre opiniões e fatos, Sallis mostra uma perspectiva rara em relação ao futebol de hoje no capítulo 35 (“A Teoria da Sorte no Futebol”): “Líderes que lidam com fatos e não com opiniões e emoções são enviados por Deus”. É genial! Obviamente que todos nós temos opiniões e temos o direito a tê-las, porém elas não podem se sobrepor aos fatos. Se pararmos um minuto para refletir, quantas decisões não tomamos pelo fato de estarmos embasados em opiniões e não fatos? Provavelmente vamos nos assustar ao ver que é muito imaginário para pouca veracidade nos dias de hoje.
Cada capítulo poderia virar uma coluna como esta (ou talvez vire?), mas o importante sobre estas linhas se resume na seguinte mensagem: se eu pudesse te dar um conselho diria “não passe por esta vida sem consumir a sabedoria de Steve Sallis” e se você trabalha (ou pensa em trabalhar) no Futebol, é imprescindível conhecer esta personalidade!
Texto de Leonardo Monteiro
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