Engajamento entre os torcedores e uma nova fonte de receitas para o clube. Essas duas características são as principais vantagens que a plataforma Socios.com apresenta aos seus 48 clientes, divididos entre clubes de futebol, basquete, esportes a motor, e instituições de MMA e esports.
Nesta sexta-feira a plataforma faz sua estreia no Brasil, com o Atlético-MG sendo o primeiro clube do país a lançar seu fan token. Este texto surge para explicar como funciona a plataforma, em quais conceito a empresa se baseia e porque clubes do mundo inteiro estão valorizando a tecnologia.
Relacionamento clube e torcedor
Antes de entrar na plataforma propriamente dita, vale destacar o contexto em que o esporte está inserido. Vivemos em um período chamado de ‘Era da Economia da Atenção’, caracterizado por diversas opções de conteúdo e atividades diversas que dificultam nossa capacidade de nos concentrarmos em uma única ação.
Os clubes de futebol também passam por isso, e ter seu torcedor ao lado, consumindo produtos e serviços que tragam receitas para a instituição, não é uma tarefa simples. O desafio destacado no início de 2021 aqui no FootHub, de melhorar o relacionamento entre clube e seus fãs antes, durante e depois de uma partida, se encaixa perfeitamente no objetivo da Socios.com.
Socios.com e seus conceitos
A Socios.com é uma plataforma de votações e recompensas para torcedores baseada em blockchain, fundada em Malta em 2018. Seu objetivo é aproximar os fãs de seus clubes favoritos, utilizando o conceito de gamificação para tanto. Em recente entrevista, Alexandre Dreyfus, presidente da empresa resumiu o conceito da plataforma: ‘Em vez de possuir uma parcela de uma empresa, você possui uma parcela de influência’.
Essa influência está ligada ao novo perfil do torcedor, que se mostra cada vez mais interessado em participar ativamente das ações do clube, seja através da produção de conteúdo, interações nas redes sociais e até mesmo micro decisões relacionadas ao dia a dia de seu clube do coração.
Atualmente possuem contrato com 48 instituições, como Barcelona, PSG, Juventus, Independiente, Atlético-MG, Corinthians e Seleção Argentina, para citar apenas o mercado do futebol. Os torcedores deste clubes podem decidir qual a música será tocada depois do gol, onde o time irá realizar sua pré-temporada e o design de uniformes.
Para utilizar a plataforma, os fãs devem comprar a criptomoeda $ CHZ, que possibilita a participação nas decisões dos clubes parceiros da Socios. As vendas dos tokens acontecem em duas etapas. Na primeira, chamada de Fan Token Offering (FTO), os ativos digitais são vendidos por um valor pré-determinado, em uma quantidade exata.
Em um segundo momento, aqueles que possuem o token ficam livres para negociar suas moedas. Aqui, o preço do ativo flutua de acordo com a oferta e demanda do mercado, provocando variações constantes. Foi o que aconteceu com o token do PSG ao longo desta semana, com a chegada de Messi ao clube francês, como mostra a imagem.
A chegada ao Brasil
Em 2021 a Socios chegou ao Brasil através de dois clubes: Atlético-MG e Corinthians. O Galo fez sua estreia nesta sexta-feira pela manhã, disponibilizando 600 mil fan tokens, chamados de $GALO, por um valor inicial de 5,41 $ CHZ, equivalente a R$ 10,5 para quem desejar influenciar nas decisões do clube. O lote teve sold out em 8 minutos, mostrando que o engajamento do torcedor brasileiro é muito forte. Foi o quarto Fan Token Offering a se esgotar mais rápido entre os lançamentos realizados pela Socios.com.
A primeira votação já iniciou, sendo possível decidir qual o design da braçadeira de capitão utilizada pelo clube nos jogos do clube. No futuro, o material será sorteado entre aqueles que possuem o fan token do Galo.
Foi preciso ainda abrir um segundo lote de $GALO, com mais 250 mil tokens, devido ao limite de tokens disponíveis para compra por usuário. Este segundo lote demorou um pouco mais de tempo, mas também se esgotou. Com isso, a receita do Atlético com os fan tokens foi de US$ 850 mil, metade do valor total movimentada pela iniciativa.
Este serviço caberia no programa de sócio torcedor?
Muitas pessoas, ao analisarem o conceito da Socios.com, poderiam dizer que o serviço deveria ser disponibilizado de graça ou dentro do programa de sócio torcedor, ao invés de ser mais uma coisa para o torcedor pagar. Uma preocupação justa, até certo ponto.
É possível conciliar votações gratuitas e para sócios com um programa de fan tokens. Para usar um exemplo do Brasil, o Atlético-MG finalizou recentemente a segunda edição do Manto da Massa, projeto em que torcedores desenham um novo uniforme para o clube e o vencedor é escolhido em votação gratuita. Em 2021 foram vendidas mais de 120 mil camisas, direcionadas inicialmente para os sócios e na sequência para o público geral.
No entanto, vale ficar atento a quantidade de benefícios que perderiam valor se oferecidos em um grande pacote nos programas de sócio torcedor. A grande maioria dos fãs assinava estes planos pelas vantagens relacionadas com a ida ao estádio. Manter este foco e criar ações, como os fan tokens, pode ser muito mais positivo tanto em engajamento, quanto na geração de receitas.
Quem mais atua neste mercado
Os parágrafos anteriores deixaram claro que a Socios.com é a grande autoridade quando o assunto são os fan tokens. No entanto, alternativas começam a surgir, inclusive relacionadas com o futebol brasileiro.
A CBF lançou recente o fan token da Seleção Brasileira, chamado de Brazilian Fan Token (BFT). A ação foi realizada pela Bitci Teknoloji, uma plataforma da Turquia e aproveitou o potencial da seleção pentacampeã do mundo para vender 30 milhões de BFTs, adquiridos por 13.658 de fãs por 0,50 de euro.
Concluindo, espero ter esclarecido através desse texto algumas dúvidas sobre o recente mercado de fan tokens. Julgo que a área de engajamento com o torcedor é uma das mais importantes para um clube de futebol, mas muitas vezes é deixada de lado. Ouvir a opinião dos fãs e envolvê-los na tomada de decisão torna as ações da entidade mais transparentes, além de trazer dinheiro novo ao clube. Que em breve tenhamos mais clubes brasileiros lançando seus próprios tokens.
Texto de Rodrigo Romano.