O Barcelona é o clube esportivo mais inovador do mundo. Isso que aponta o ranking elaborado pela Sports Innovation Lab, que elenca as 25 instituições esportivas mais inovadoras do mundo, considerando clubes de futebol, bem como franquias dos quatro principais esportes dos Estados Unidos.
Metodologia
Como o ranking é definido? O relatório tem uma metodologia própria para determinar quem são os mais inovadores do ecossistema esportivo, tendo como princípio avaliar apenas o que pode ser mensurado. Por isso, foram separadas três métricas pela equipe da Sports Innovation Lab, que, unidas, foram o indicador necessário para classificar os clubes:
- Diversificação de receitas
- Agilidade da organização
- Aplicação de tecnologia
O primeiro critério fala sobre a diversificação de receitas, como os clubes podem ir além das fontes de receitas tradicionais, caso de venda de ingressos, negociação de direitos de transmissão e patrocínios. Alguns dos exemplos citados como forma de realizar essa diversificação são: arenas multiuso, plataformas próprias de OTT e modelos diferentes de estrutura organizacional.
O ponto seguinte aborda a agilidade na organização, mostrando visão de futuro, desenvolvendo novas habilidades em seus funcionários e tendo contato com outras indústrias para buscar o melhor capital humano para a organização. Iniciativas como programas de aceleração, setores de análises de dados e desenvolvimento de talentos têm forte peso neste quesito.
A última métrica utilizada é a aplicação de tecnologia, que, no caso do estudo, é voltada para o entendimento do comportamento dos torcedores. Aqui, o report traz 10 pontos centrais, ilustrados no gráfico em formato de radar abaixo, que compõem o índice.
O relatório ainda faz questão de ressaltar que eles estão medindo apenas a inovação das equipes. Questões como o modelo de negócios do clube, resultados de campo ou quadra e a saúde financeira não estão inseridos no ranking.
Principais destaques
Após o entendimento da metodologia, vamos entrar no relatório em si, com uma visão mais detalhada dos cinco primeiros. Como já foi dito, o ranking é liderado pelo Barcelona, seguido por Real Madrid, Arsenal, Manchester City e Philadelphia 76ers fechando o top 5.
Conheça seus fãs
Um dos pontos principais que fez o Barcelona subir três posições até o topo do ranking, na comparação com o ano anterior, foi seu relacionamento com seu torcedor. O clube montou uma estratégia digital ainda antes da pandemia, criando um ecossistema com foco total no torcedor global do Barça.
Uma das principais inovações dessa estratégia é o pilar de FRM, como visto no gráfico a seguir. FRM é a abreviação de Fan Relationship Management, uma versão voltada para o futebol dos programas de relacionamento com o consumidor, CRM. Este tipo de solução tem como objetivo concentrar os dados dos torcedores em uma única plataforma, auxiliando na análise e no desenvolvimento de produtos e serviços de acordo com as preferências dos fãs.
Esteja ligado com a educação
Se você leu o texto “Daqui para frente, todo o clube de futebol será uma escola” sabe que o FootHub acredita no potencial da educação relacionada ao esporte. Esta relação é um dos motivos que mantem o Real Madrid na segunda posição da lista. O clube da capital espanhola possui parceria há alguns anos com a Universidad Europea, criando assim a Escuela Universitaria Real Madrid.
O programa é focado em cursos de pós-graduação, com cursos em diversas áreas do esporte como direito desportivo, marketing e comunicação, biomedicina e atividade física e saúde. Iniciativas como esta facilitam o aprendizado e o desenvolvimento contínuo dos profissionais da indústria, cada vez com mais capacidade para buscar novas soluções para os problemas encontrados.
Tenha sua plataforma de OTT própria
O Arsenal não vem sendo o clube inglês de mais sucesso dentro de campo nos últimos anos, mas no caso da inovação, a instituição tem seu destaque. Um dos motivos que colocam o clube na terceira posição é sua plataforma própria de OTT, chamada de Arsenal Player. A plataforma disponibiliza conteúdos em diferentes formatos e durações, como os próprios jogos do clube, inseridos no dia seguinte à partida, bastidores, entrevistas e highlights.
Em recente entrevista, John Dollin, Gerente de Produto do Arsenal, destacou a importância da plataforma: “70% da audiência online do Arsenal é originária de fora do Reino Unido, e eles nem sempre têm acesso a partidas, por isso é crucial que desenvolvamos uma programação que podemos compartilhar com nossos detentores de direitos de transmissão e em nosso site, aplicativos e canais sociais antes, durante e depois da partida para mantê-los atualizados.”
Um dono para diversos clubes
O Manchester City é o melhor exemplo para falar dos multiclubes. O time inglês é o principal nome do City Football Group, que reúne 11 clubes comandados por um mesmo dono, com dois modelos diferentes. Em 6 deles o grupo é o acionista majoritário, e no restante serve de apoio através do conhecimento na indústria. A inovação surge, neste caso, da possibilidade de aumentar o repertório, trocando experiências com profissionais de diversos pontos do mundo. Voltando para o ranking como um todo, 17 das 25 instituições possuem um dono que comanda outros clubes, incluindo o Manchester City.
Programas de aceleração
Fechando os cinco primeiros, surge o Philadelphia 76ers, franquia da NBA, a primeira instituição além do futebol do ranking. Os americanos são destaque no tópico agilidade da organização, que, entre outros fatores, considera a existência de programas voltados para inovação, caso do Sixers Innovation Lab.
O laboratório de inovação dos Sixers é comandado pelo mesmo dono da franquia, a empresa Harris Blitzer Sports & Entertainment, e tem como modelo de negócio investir em startups em estágio inicial do setor de esportes, esports, mídia e entretenimento que estão buscando crescimento. A ligação direta com a franquia de basquete acaba auxiliando no momento de validar as soluções que as empresas estão construindo, por parte do laboratório. Para o time de Philadelphia, a proximidade com estas soluções pode encurtar caminho para resolver diversos problemas internos.
Mais números relevantes
O documento traz alguns destaques pontuais que chamam atenção e podem servir de métrica para clubes do Brasil que busquem construir uma estrutura inovadora em sua organização. Para começar, 40% dos clubes são de futebol, número que era de 56% no mesmo ranking em 2021. Este dado demonstra, principalmente, que outros esportes possuem uma capacidade maior para acompanhar os avanços de tecnologias em diversos setores.
35% dos clubes analisados para a elaboração do relatório jogam em arenas que possibilitam mais de uma forma de uso. Estão inseridos aqui os estádios norte-americanos, sendo alguns deles recém construídos, e que nascem com uma tecnologia muito mais avançada que as arenas e estádios da Copa de 2014, por exemplo. É o caso do Los Angeles Rams, com o SoFi Stadium, considerado o estádio mais moderno dos Estados Unidos.
Um dos itens citados anteriormente é a existência de um setor de análise de dados na estrutura organizacional dos clubes. Segundo a pesquisa da Sports Innovation Lab, 46% dos clubes analisados possuem um setor ou profissional voltado para a área. É importante ressaltar que este cargo pode estar vinculado ao futebol, com análises do que acontece dentro de campo ou fora dele, nas áreas de patrocínios ou relacionamento com o torcedor, por exemplo. Ainda que fora do ranking, o Atlético-MG é um dos clubes que possui este setor, com o CIGA (Centro de Informação do Galo), em parceria com a empresa StatsBomb.
O futuro
Para finalizar, uma das frases da última seção do report merece ser citada: a inovação, por definição, não para. Por conta disso, esse ranking irá variar de forma muito rápida, conforme novas práticas e ideias que nem conhecemos ainda forem surgindo. Isso nos deixa ainda mais ansiosos para o ano que vem. Quem será eleito o clube mais inovador do mundo?
Texto de Rodrigo Romano.