O futebol ainda pode ser lúdico, mágico e encantador, mas é impossível fechar os olhos para a sua transformação em um produto de mídia com uma cadeia de valor complexa e cheia de nuances, que, por vezes, podem parecer duras demais frente aos amantes do chamado “futebol raíz”. Com virada do século, o futebol como negócio foi ficando cada vez mais evidenciado e se originou, também, a necessidade de criar, na gestão, mecanismos para diminuir o abismo entre os times endinheirados e os nem tanto.
Que o diga o futebol brasileiro, aclamado pela sua competitividade, mas que só teve – depois da implementação dos pontos corridos – campeões da região Sudeste e apenas 2 clubes fora da região Sul-Sudeste classificados para a Copa Libertadores (Via Campeonato Brasileiro) ao longo dos últimos 19 anos.
Não é coincidência que as regiões mais fortes economicamente demonstrem tamanha disparidade, pelo contrário, isso é perfeitamente compatível com o choque realidade trazido pelo futebol-negócio. E não é somente no Brasil que essa questão veio à tona.
Assim como nós, os turcos são apaixonados por futebol e têm na sua capital Istambul o coração financeiro do país, com um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 683 milhões, e que também abriga os maiores clubes e torcidas, reconhecidas em todo o velho continente tais como Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas.
Desde a criação Super Lig, na temporada 01/02, apenas dois clubes de fora de Istambul venceram o campeonato: O Bursaspor, de Bursa (4º PIB da Turquia – $90 Mi), na temporada 09/10 e o Trabzonspor, de Trabzon (25º PIB – $17 Mi), em 21/22.
No vídeo acima, a festa fantástica da torcida do Trabzonspor comemorando o sétimo título turco nas ruas de Trabzon ao final da temporada passada, que deu fim a um jejum de 38 anos desde a última conquista do clube.
O contraponto entre a frieza dos caracteres aqui presentes e as imagens que nos aquecem ao ver o vídeo é justamente do que o futebol precisa hoje em dia. Uma sintonia fina entre razão e emoção, uma conexão difícil e com linhas tênues, que nos fazem ir do “céu ao inferno” em segundos, mas que vira e mexe se apresentam para que possamos dizer: Não é só futebol!
Texto de Yuri Silva, do Los Futebólicos.