O epílogo de um grande certame de futebol, como a Copa do Catar, que foi espetacular em todos sentidos, deve conter os mais destacados profissionais que dele participaram. Animo-me portanto a trazer a minha opinião sobre os onze melhores, o atleta revelação, o melhor jogador da competição, melhor treinador , o melhor árbitro.
Começo pelo arqueiro Martinez da Argentina, que atua no Aston Villa, fundamental para o triunfo alviceleste, não só pelos pênaltis defendidos nas decisões derradeiras, mas também por sua participação nos jogos, com defesas extraordinárias, que ficaram para os anais de copas, como as cometidas contra Austrália e na final contra a França, no undécimo antes do fim do jogo, ao defender com o pé o chute do gaulês Kolo Muani. Defesa tão extraordinária, pelo seu efeito, como aquela de Gordon Banks na Copa de 1970 em cabeceio do Rei Pelé, todos lembram.
Escolhi a seguir lateral direito Hakimi da surpreendente Seleção de Marrocos, nascido em Madrid mas filhos de marroquinos, que preferiu atuar pelo escrete da terra dos pais.Trata-se de lateral vigoroso, intenso, forte na marcação e apoiador consciente, sendo constante fator de desequilíbrio ofensivo em favor do seu time. Atua no Paris Saint Germain, onde também tem tido ótimas atuações.
Marrocos trouxe um sólido esquema defensivo, apresentou muitos destaques, um deles o zagueiro El Yamiq que atua no Real Valladolid da Espanha, ágil, rápido, bom cabeceio, foi um dos fatores para sua equipe ter sofrido poucos gols, ter chegado às semifinais da competição de forma surpreendente, e apresentando tanta robustez no seu terço inicial de campo.
Jogador do Bayern de Munique, o Upamecano teve ótimo desempenho na Seleção Francesa, vice-campeão mundial. Bom cabeceio, saída de bola vertical, velocidade, ótimo no confronto individual, no meu sentir, escolha indiscutível.
A Seleção Holandesa contribui para minha escolha dos melhores com o lateral esquerdo Blind, atualmente atuando no Ajax de Amsterdam, jogador múltiplo, que atua como zagueiro esquerdo, como volante e na posição para qual o estou escolhendo. Ótimo marcador, consciência tática plena, bom cruzamento, presença constante no ataque com jogadas consequentes, foi um dos destaques do seu esquadrão.
Para tornar-se um dos grandes diferenciais do seu time e de toda a competição, Enzo Fernández, meu volante escolhido, ingressou no time apenas na segunda rodada contra o México, em meio a partida e desde já constitui-se em expoente. Marca e joga, é rápido, serve de desafogo dos companheiros na zona conflagrada do meio campo, arremata muito bem de fora da área, intenso na pressão do homem da bola e na movimentação pós retomada.
Alexis Mac Allister, tem no sangue o futebol, filho de Carlos Mac Allister, lendário lateral esquerdo do Boca Juniors argentino, onde também começou. Atualmente atua como meia Brighton inglês, trazido por Lionel Scaloni para uma posição mais recuada, como um meia volante, ora jogando ao lado de Enzo Fernández, ora atuando lateralizado pela esquerda, como forma de rechear o meio campo. Foi soberbo ao longo da copa por sua entrega, sempre criativo, obstrutivo, intenso, tanto defendendo como atacando. Jogador múltiplo.
Pela atuação contra o Brasil em especial, mas por seu desempenho durante toda a competição Luka Modric, player do Real Madrid, tem espaço no melhor onze a ser escolhido, por repedir desempenhos que há mais de 15 anos apresenta. Condutor e líder de todas as ações da Seleção Croata, seja defensivas sejam ofensivas, coordenando a posse de bola utilizada por seu time, no mais das vezes como forma de defender-se -( como contra o Brasil)-, armando rápidos contra ataques ou compactando sua retaguarda. Foi mais uma vez brilhante.
Durante todos os jogos, menos na final contra a Argentina, Antoine Griezmann foi melhor jogador francês, participando coletivamente das ações de seu time. Marcador, criativo, assistente, bola parada invejável, intenso lá e cá. Foi digno representante da escola de Diego Simeone no Atlético de Madrid, clube onde joga. Na final esteve apático, sem o mesmo espírito que marcou atuações anteriores, mas não suficiente para retirá-lo de minha escolha.
As opções feitas até aqui, com atletas de muito vigor e intensidade, afora qualidade pessoal de cada um, com 4 jogadores muito táticos no meio campo, ao mesmo tempo marcadores e construtores, visando dar suporte a dupla de ataque que ficaria, como ficou na Copa do Catar apenas com as tarefas ofensivas,. Chego então ao atacante múltiplo, Kylian Mbappe que logo logo se tornará melhor jogador do Mundo. Hábil, potente, velocidade da luz, bom cabeceio, qualquer adjetivo será menos para defini-lo. Teve singular desempenho na Copa do Catar, chegando a façanha de anotar 3 gols na final, insuficientes porque do outro lado, havia o extra terrestre que a seguir será nomeado.
Lionel Andrés Messi Cuccittini, ingressa na minha seleção, por ter sido o melhor jogador da Copa do Catar, por ser o melhor jogador do planeta nos últimos 15 anos e por ser, depois de Pelé, o melhor jogador do Mundo de todos os tempos. Simplesmente isso. Descrever as qualidades e atributos de Messi seria “chover no molhado”, ele já é superlativo por natureza. Nessa Copa do Catar foi outra vez desequilibrante.
Chego aos destaques individuais iniciando pelo próprio Messi, melhor jogador da copa, despiciendo elencar razões para a escolha.
Então surge Julian Alvarez como grande destaque jovem do certame. Criado na Canteiras do River Plate argentino, hoje no Manchester City disputando espaço com Haland como atacante central, Julian foi grande destaque portenho no Catar, tendo ingressado na equipe em meio a competição como “reemplazo” a Lautaro Martinez. Veloz, goleador, marca saída de bola adversária permitindo liberdade a Messi, pressão constante no volante adversário, assistente exímio- ( gol de Di Maria na final surgiu de seu milimétrico passe)- , foi fundamental para o título alviazul. Chamo atenção também para o jovem inglês Bellingham, volante de campo todo, como destaque secundário.
Finalmente, o treinador que melhor entregou no Mundial do Catar, função para a qual não poderia escolher outro senão Lionel Scaloni, campeão mundial argentino. Jogador de carreira exitosa iniciada no Newell’s Old Boys, passando por Estudiantes, depois da fase europeia, com muito destaque no melhor La Coruña de todos os tempos, com passagem no inglês West Ham, nos italianos Lazio e Atalanta, sempre com destaque. Além disso, integrou seleções de base e principal da Argentina, sendo sempre um pupilo de José Pekerman que o considerava demais.
Como auxiliar, tornou-se integrante da equipe de Jorge Sampaoli que treinou a seleção principal em 2018 na Rússia, assumindo interinamente após isso e permanecendo até 2019, quando foi efetivado. Conquistou a Copa América em 2021, vencendo o Brasil na Final, classificando seu país nas eliminatórias para essa última copa de forma antecipada.
Chegou ao Catar com 36 jogos de invencibilidade, teve duro revés na estreia para Arábia Saudita, logo recuperando-se por iniciativas dele próprio “coach”, ao mudar seu time em nomes e maneira de jogar. Quando enfrentou a Holanda trocou o sistema para 3-5-2 como forma de “espelhar” com o adversário que jogava dessa forma, sempre deixando Messi liberado de tarefas táticas.
Por outro lado, quando enfrentou a Croácia, voltou a sistema com 2 linhas de quatro,-( com 4 volantes)- com dois atacantes, povoando o meio exatamente para enfrentar o setor mais forte e congestionado do adversário. Na final voltou a ter 3 marcadores no meio, lateralizando Di María na esquerda para fustigar o lateral Kounde, e diferente dos jogos anteriores, pressionou o adversário na sua saída de bola, por isso surpreendendo aos franceses. Todavia, em todas as variantes, escolheu deixar seu diamante Lionel Messi sempre livre, abstraindo-lhe qualquer tarefa tática, concedendo-lhe apenas espaço e bola. Aliou a tudo isso, liderança aglutinadora, valorizando o grupo, enfatizando a forca coletiva, mesmo tempo um jogador extra classe a integrá-lo.
Lionel Scaloni foi o melhor Treinador da Copa do Catar indiscutivelmente.
Por fim, o melhor árbitro foi Szymon Marciniak, polonês, que apitou a grande final entre Argentina x França e um jogo de cada uma destas seleções em fases anteriores, França 2 x 1 Dinamarca e Argentina 2 x 1 Austrália, tendo destaque ao longo das suas atuações.
A Copa do Catar deixará saudade!
Texto de Fernando Carvalho.