O clube mais inovador do Brasil. Essa frase vem sendo repetida por dirigentes de alguns clubes da elite no futebol nacional. Quem vê de longe, pode ficar impressionado, pois o conceito coloca a instituição acima de mais de 50 outros clubes. No entanto, será que aqueles que utilizaram a sentença sabem do que estão falando? O que é preciso para ser o time mais inovador do Brasil?
A inovação dentro de uma organização
Para começar, queremos reforçar o conceito de inovação: gerar valor para um produto ou serviço de forma diferente ao padrão anterior. Essa definição expande o pensamento comum de que inovação está ligada a avanços tecnológicos. Aqui mesmo no site do FootHub, Caio Derosso já derrubou este mito com o texto ‘Inovação no futebol não é só tecnologia‘, onde contou sobre processos inovadores que podem auxiliar na formação e captação de atletas.
Se a inovação não é apenas tecnologia, onde ela deve se fazer presente em um clube de futebol? Vamos responder essa pergunta utilizando como base o white paper ‘A inovação na estrutura organizacional de uma entidade esportiva’, escrito pelo Felipe Ribbe, Head de Novos Negócios da Enzima.
O primeiro ponto a ser levantado aqui é a atuação dos colaboradores, dos funcionários. Estes devem ter liberdade para trazerem novas ideias para a organização, seja para um novo produto ou serviço ou uma mudança na estrutura que pode significar um ambiente mais produtivo ou agradável de trabalhar. Para que a tudo isso seja traduzido em melhorias para o clube, é preciso que estas ideias sejam postas em prática, sem que haja medo de falhar. Aqui reside um dos principais problemas do futebol brasileiro. “Invenções” não costumam ser bem vistas por dirigentes mais antigos, imprensa e torcedores. Insistir no mesmo erro costuma receber menos críticas que um erro a partir de novas ideias.
Outro tópico importante para uma instituição inovadora é que esta seja orientada aos dados, não mais as opiniões. O que isso significa? Uma organização orientada aos dados toma suas decisões baseada nos números e informações coletadas no mercado, longe da visão dos gestores. Nesse ponto, nossos clubes ainda estão muito longe. A grande maioria das decisões são tomadas por um grupo pequeno: um dirigente, quatro ou cinco membros de um conselho de gestão ou um conselho deliberativo, com cerca de 300 pessoas.
Essa atitude ignora os dados de consumo e as opiniões de milhares de torcedores que poderia ajudar a melhorar aquele produto e impulsionar suas vendas. Para fechar, é preciso falar do equilíbrio necessário e as responsabilidades com demais atividades que os funcionários dos clubes devem ter. A experimentação de novas ideias é totalmente positiva, mas ela não deve servir como muleta para que outras atividades importantes sejam deixadas de lado, pois isso pode prejudicar a instituição.
O clube mais inovador do mundo
‘The top 25 most innovative clubs in the world’. Este foi o título do relatório divulgado pelo Sports Innovation Lab no começo de 2021, que destacou os 25 clubes mais inovadores do mundo, sem nenhum brasileiro na lista. Os critérios utilizados no ranking também servem como guia para os clubes do Brasil na busca do título de mais inovador do país.
A lista foi feita a partir de uma análise que conta com três critérios principais:
- Diversificação de receitas;
- Agilidade na organização;
- Foco na tecnologia.
O primeiro ponto busca evidenciar a importância de os clubes expandirem suas receitas para além da estrutura mais tradicional, que conta com direitos de transmissão, exposição de patrocínio, venda de ingressos e negociação de atletas, no caso do mercado brasileiro. A pandemia acelerou este processo em alguns clubes, mas ainda há muitas oportunidades a serem aproveitadas pelas instituições do país.
Em relação a agilidade na organização, ela diz muito sobre a capacidade de uma empresa ou clube de futebol de se adaptar às mudanças da sociedade. Isso se torna fundamental nos tempos de hoje, onde o esporte vê sua relação com os torcedores mudar graças aos avanços tecnológicos. Aqueles que forem rápidos e entenderem tais transformações certamente estarão na frente para se tornarem o clube mais inovador do Brasil.
Por fim, o ranking produzido pelo Sports Innovation Lab considera também o foco na tecnologia como critério fundamental. Aqui, a tecnologia entra como meio para entregar valor a diversas áreas do setor, como a já citada relação com os torcedores, mas também a performance dos atletas, por exemplo.
A inovação como parte da estratégia
No entanto, fica aqui nosso alerta! Se você inserir as características citadas no parágrafo anterior na estrutura de maneira isolada, os resultados devem ser mínimos. Para ser o clube mais inovador do Brasil, é preciso que haja uma estratégia por trás, onde a inovação fará parte da cultura dos clubes, ajudando a realizar ações que tragam valor as instituições a partir de maneira diferente ao padrão anterior.
Para concluir, é importante que os clubes do Brasil queiram se tornar o mais inovadores possível. Algumas das práticas necessárias para que isso aconteça estão expostas ao longo deste texto. No entanto, é preciso fazer isso de modo que a cultura da inovação permaneça presente na estrutura no longo prazo, mesmo com as dificuldades estruturais do futebol brasileiro. Quem sabe assim não tenhamos um brasileiro fazendo parte da lista de 25 mais inovadores do mundo?
Texto de Rodrigo Romano, de Cadeira Central.