Entre as muitas preocupações dos clubes de futebol do Brasil, no que diz respeito a formação de seus atletas nas categorias de base, estão a formação adequada dos conteúdos técnicos, táticos, físicos, psicológicos, sociais, comportamentais, nutricionais, educacionais e de qualidade de vida. Por conta disso, os clubes de futebol buscam desenvolver uma estrutura curricular de formação que priorize uma metodologia aplicável e concreta, que seja condizente com a sua filosofia.
Uma das problemáticas que podemos ressaltar como objeto causador e dificultador, agravando este processo de desenvolvimento de atletas de base, é o Abandono ou Desamparo Infantil.
Segundo Sigmund Freud, quando o ser humano sofre um “abandono ou “desamparo” na infância, ele carrega essa “ausência”, fator que segundo Freud, é a origem de traumas que aparecem através de reações durante a nossa vida.
Freud explica que o contato da criança com os pais, especialmente a mãe na amamentação, trás as primeiras sensações de prazer e satisfação. A negação ou ausência deste contato afeta o indivíduo em várias escalas e de várias formas, gerando traumas para uma vida toda.
Mesmo que o indivíduo supra de uma outra forma sua criação no estágio do desenvolvimento infantil, e suas necessidades vitais emocionais, a ausência do contato afetivo deve ser ressignificada e tratada em terapia ao longo de sua existência. Desta maneira o sujeito consegue equilibrar e dar outro significado aos traumas instaurados.
A ausência dos pais na primeira infância, não é a única forma de o abandono se instaurar. A perda de um ente querido, um divórcio dos pais, não possuir um lugar de fala ou expressão no ambiente familiar, mudança de residência, mudança de escola, agressões físicas ou morais, agressões sexuais, agressões éticas etc. O Desamparo ou Abandono Infantil, pode gerar ou causar um impacto devastador na estrutura emocional do indivíduo.
Estas reações traumáticas também se manifestam através de sentimentos como: tristeza, raiva, culpa, medo, ansiedade, angústia e depressão. Podem também comprometer a formação de novos relacionamentos, a confiança em si mesmo e nos outros.
Transportando tudo isso para o cenário do futebol e, especificamente para a formação de base, também encontramos tais reações nas crianças e nos atletas em formação.
É notório e inegável percebermos estes sinais nas categorias de base nos clubes brasileiros. Mesmo que os clubes utilizem sistemas ou valências para desenvolver os atletas na sua formação técnica, física, tática e cognitiva, trabalhando de forma integrada e interligada através de simulações de jogo, visando o aperfeiçoamento e aprimoramento referente a tomada de decisão, sem o cuidado da construção e acompanhamento do histórico emocional do atleta iniciante, todo o processo fica comprometido de forma individual ou no grande grupo.
A raiva e o medo, anteriormente citados, podem inibir a capacidade de aprendizado e de comprometimento que é proposto, interferindo no desenvolvimento e na execução do modelo de jogo bloqueando a capacidade de “inventar” ou “improvisar” novas tarefas de acordo com as necessidades da partida de futebol. Visando estas dificuldades, os clubes de futebol buscam acolher os atletas e suas famílias organizando workshops com os pais trazendo esse tema, orientando os pais, jogadores e familiares como um todo.
Cabe aqui ressaltar que a família tem um papel fundamental para que possamos construir uma nova aproximação dos pais com os filhos, construindo um novo cenário, ressignificando estas relações, tendo em vista de que os pais projetam suas satisfações, insatisfações e desejos nos mesmos.
A Psicologia do Futebol está ai, conquistando cada vez mais seu lugar no Futebol Brasileiro, corroborando com o desenvolvimento e proporcionando saúde emocional e cognitiva para todos que, de alguma forma, criam novas ferramentas na vida de nossas crianças.
Texto de Tiago Silva Caxias de Sousa
