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Os diferentes métodos na formação de futebolistas, têm despertado inúmeros debates ao longo dos últimos anos em relação aos principais elementos inerentes ao treinamento da modalidade tendo como foco principal os aspectos: físicos, técnicos, táticos e mentais dos (das) atletas. O que é muito válido, e necessário.
Porém, o caminho percorrido entre teoria: conceito, ideia, proposta, justificativa e embasamento, prática: maneira (modelo) de atuar de acordo com as diferentes informações e influências recebidas e seus resultados: consequências de todo processo, pode ser ainda mais refletido e adequado às realidades dos clubes, escolas, instituições de formação de futebolistas.
Uma vez que, em alguns casos, o que é “projetado” não é praticado. O contrário também é verdadeiro, isto é: se executa algo sem a compreensão de quais foram as intencionalidades daquele processo. E quando não há conversa entre estes dois pontos, não existem referências, nem de ponto de partida, tampouco de chegada. É preciso conhecer o passado, compreender o presente e projetar as tendências que o futebol apresenta.
Um exemplo: hoje, temos conhecimento de situações na formação do futebolista brasileiro devido a relatos de ex-jogadores, treinadores, publicações e estudos que o fato do Brasil ter “produzido” jogadores com alto grau de habilidade, técnica e visão de jogo, se deveu a diversos fatores, um deles, talvez o principal, pode ser creditado à liberdade e diversidade de estímulos que os meninos (principalmente) tinham em jogar em ambientes favoráveis – “peladas / disputas nos campinhos”, futebol (jogos e brincadeiras) de rua, futsal e daí por diante.
Num contexto mais contemporâneo, o futebol tem exigido mudanças na mentalidade dos / das jogadores (as), isto é, há necessidade de participação em todos os momentos do jogo: defesa, ataque, transições, bolas paradas, além de maior poder de concentração, foco, entendimento das situações, velocidade e intensidade (física e mental) fatos que, de maneira alguma impedem a potencialização dos elementos técnicos, cognitivos e criativos (como os citados no parágrafo anterior) sejam contemplados em um plano metodológico de um clube / instituição de formação de futebolistas, não apenas em programas / projetos externos como vemos em alguns lugares, mas, no dia-a-dia dos treinamentos e jogos.
Para isso, se faz necessário um somatório de intenções, práticas e avaliações deste processo com o intuito de compreendermos os porquês de agirmos desta ou daquela maneira.
Todavia, não adianta aspirarmos que nossos jogadores sejam ou se transformem em algo se o método, as práticas e pessoas que os influenciam direta e indiretamente, não estiverem alinhadas aos discursos, aos treinamentos e às atitudes necessárias para que este ambiente criado seja capaz de potencializar o (a) atleta. Indepentente da proposta que a instituição apresenta, é preciso saber que tipo de futebolista será formado em seu processo – desde o lugar que deseja formar atletas prioritariamente “mais criativos” até aqueles que acreditam que devam ser “combativos” / “competitivos” -, cada agremiação tem sua peculiaridade, característica histórica, regional e cultural. Um dos caminhos para o êxito é a coerência e a coesão entre estes fatores.
Já ouvimos muitas vezes a seguinte máxima: “futebol é confiança!”, um fato! Isso deve ser levado em consideração ao estruturarmos o método, o treinamento, a maneira como vamos abordar os (as) jogadores (as) e, principalmente, o ambiente criado para o desenvolvimento dos atletas.
Além disso, é necessário “criar” uma unidade coerente com a filosofia do clube – desde as pessoas escolhidas para compor a equipe de trabalho, passando pelos procedimentos de treinamento até a avaliação dos resultados individuais e coletivos dos atletas – é preciso compreender este caminho para que se tenham parâmetros fidedignos em relação ao estágio em que estão, de que modo eles / elas podem evoluir e onde é preciso atuar para reparar alguma situação concernente aos seus respectivos repertórios de jogo.
O quadro abaixo exemplifica um “caminho”, um norteamento para que este processo seja compreendido e acompanhado passo-a-passo na estrutura formativa de acordo com o contexto do clube.
Por isso, propostas (teoria), ações (práticas) e ambiente (todo o contexto: profissionais, pessoas influentes, staff e estrutura física) precisam estar coerentes com a filosofia do clube / instituição de formação, para que este processo tenha referências concretas e os rumos do desenvolvimento dos (das) futebolistas estejam coerentes com seus objetivos, desta forma, o processo fica muito mais claro, resultados mais evidentes e jogadores (as) com maior potencial para compor as equipes profissionais em alto nível, bem como o trabalho da agremiação possa ser valorizado e reconhecido como referência na formação de atletas.
Texto de Wilson Souza