jogo de futebol na rua
jogo de futebol na rua

Jogo Musicado

Existem algumas expressões no meio do futebol que, assim como o jogo, se perpetuam no imaginário popular, conseguindo definir de forma simples e clara o que deseja ser entendido. Corriqueiramente utilizamos a frase “jogou por música” com a intenção de adjetivar a equipe que se destaca pelo bom desempenho, pela harmonia ou mesmo pela capacidade de entreter a quem assiste. Isso se deve, em grande parte, à noção de interligar diferentes movimentos culturais, principalmente aqueles de maior apelo popular.

O início do século XX foi proeminente no debate da construção de uma identidade nacional para o país, discussão cheia de controvérsias. Porém, há de se considerar que neste mesmo período, duas das principais características da “brasilidade” se apresentavam, pois o futebol começava a se popularizar e o Partido-alto, um subgênero do samba, dava início a uma história que resultaria nos famosos pagodes de fundo de quintal. Vale dizer, tais elementos gozam de diversos pontos de semelhança.

O jogo e o samba

A forma com que o jogador brasileiro sente o jogo coincide com a dinâmica utilizada pelos partideiros. A relação simples e harmoniosa estabelecida entre os instrumentos em paralelo às interações dos atletas dentro dos modelos de jogo, utilizando seus instintos, seguindo suas paixões.

O caos que se organiza justamente para bagunçar, para pagodear. Mais do que apenas uma música ou uma jogada, as suas vidas são refletidas naquilo que fazem, a forma criativa com que transformam suas dificuldades cotidianas em arte, em poesia, arrancando suspiros de gente que também luta contra seus conflitos internos e externos. Uma inventividade sublime e peculiar que gera, além de canetas e elásticos, tantãs e repiques de mão outrora impensáveis.

No Partido-alto, o improviso reina, a liberdade de versar é terapia e eleva o sambista a um estado de flutuação em que driblar suas adversidades é o único caminho. Da mesma forma, o craque dribla o marcador, se movendo a partir de algo que ele não sabe de onde e nem como vem. É uma força interior que se manifesta no seu tempo, com as suas regras, arrepiando como a virada de um pandeiro. No exato momento que isso acontece, o mundo é um lugar melhor, o sol brilha mais forte e a esperança de que coisas boas estão por vir se reflete no coração da plateia. É disto que se trata. Seja no campo ou numa roda de samba, o ser é representado, é sentido.


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O Brasil já foi o país da homônima árvore, do açúcar, do café, mas, certamente, é e continuará sendo o país do talento, quase uma instituição contrária à nossa presente desigualdade e que historicamente ergue os desfavorecidos. O samba vem de onde não se espera que cresça nada, os nossos craques quase sempre surgiram da lama, suas respectivas funções sociais são cumpridas diariamente e é um capítulo para se orgulhar na nossa turbulenta história. E como diz aquela canção de Zeca e Almir: “Deixa desaguar tempestade, inundar a cidade, porque arde um sol dentro de nós”.

Texto de Pedro Heitor, do Los Futebólicos.

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