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Futebol e bolsa de valores: tem jogo?

A fracassada tentativa de IPO do Club Brugge, da Bélgica, e a recente polêmica com a quebra da Football Index trouxeram o futebol para o centro das atenções no mercado de ações.

Neste texto pretendo trazer uma análise sobre o atual panorama dos times de futebol na bolsa e o quanto o cenário recente pode acarretar uma ‘fuga’ das agremiações desse ambiente.

Fundado em 1891, em Bruxelas, o Brugge pode ser considerado um clube do quase. Foi vice-campeão europeu 2 vezes (76 e 78, perdendo ambas as finais para o Liverpool) e é o segundo maior campeão belga.

Adotando uma abordagem baseada em dados para identificar e captar talentos quando são jovens e baratos, a equipe belga se acostumou a vender seus melhores jogadores para clubes de outros países europeus por altas somas.

A participação regular nas principais competições europeias de futebol proporcionou uma vitrine para ativos valiosos e negócios recentes envolvendo o atacante brasileiro Wesley Moraes (atualmente no Aston Villa) e o meio-campista zimbabuense Marvelous Nakamba (também na equipe inglesa) geraram um alto fluxo de caixa ao clube belga.

Sendo assim, o clube iniciou um processo para realização de sua primeira oferta pública de ações. No entanto, a diretoria do time estuda desistir do processo devido a uma demanda abaixo do esperado.

A expectativa do Brugge era captar US$ 270 milhões, com a ação negociada no intervalo de 17,50 a 22,50 euros.

A possível desistência também pode ser explicada pelo desempenho fraco das ações ligadas ao futebol. Um índice de clubes de futebol da Europa listados em bolsa e compilado pela Bloomberg caiu 0,58% nos últimos três anos, em comparação com aumento de 15% no Stoxx Europe 600 no mesmo período.

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PIRÂMIDE E PREJUÍZOS

Se a pouca disposição dos investidores em apostar nas ações de clubes afetou os planos do Club Brugge, a recente suspensão da plataforma Football Index, do índice americano da Nasdaq pode fazer esse cenário ficar ainda pior.

O Football Index era uma mistura de casa de apostas com mercado de ações, que possibilitava aos investidores lucrarem com o desempenho de jogadores do futebol inglês.

Com patrocínios de camisa em clubes como o Queens Park Rangers, Nottingham Forest e Bristol Rovers, a empresa teve bom desempenho em seus primeiros meses na bolsa de valores.

No entanto, as ações da companhia passaram a recuar após investigações realizadas pela Comissão de Apostas da Inglaterra (em inglês Gambling Commission) que apontaram para um possível esquema de pirâmide financeira.

Sem os fundos investidos, milhares de apostadores tiveram prejuízos de muitas libras e neste momento cobram o ressarcimento dessas quantias.

CUSTOS CRESCENTES E BAIXO DESEMPENHO

Retomando a questão das ações, os desafios da indústria do futebol afetam diretamente o comportamento dos papéis.

Além disso, salários inflacionados, custos de manutenção de suas estruturas – agravados pela presente pandemia – entre outros fatores, fazem com que boa parte do futebol europeu viva um momento de investimentos mais comedidos.

Segundo um estudo de 2010, conduzido por Wladimir Andreff, da Universidade de Paris, os IPOs foram por um bom tempo uma boa forma de captação de recursos.

Mas o desempenho errático das ações, principalmente por estarem ligadas a resultados em campo, que trazem uma carga alta de aleatoriedade, causam desconfiança em investidores, principalmente para projetos de longo prazo.

“O modelo de negócios e o balanço do clube estão muito ligados aos resultados esportivos, cenários nos quais a incerteza sobre o valor justo do clube é profundo. Além disso, a maioria dos ativos dos clubes são intangíveis por natureza e voláteis no que diz respeito aos seus valores”, destacou o professor em seu paper.

Outro levantamento recente, desta vez feito pela ADVFN, mostrou que a volatilidade é uma marca constante para os clubes de futebol na bolsa.

Seguem abaixo os recortes e valores das ações de Manchester United (ING), Roma e Juventus (ITA) nos últimos 2 anos.

Na década de 1990 e no início de 2000, vários times europeus lançaram IPOs em um momento em que a globalização do futebol estava se consolidando.

Enquanto alguns, como os já citados Manchester United e Juventus, continuam a negociar seus papéis na bolsa, outros como o Newcastle United (ING) fecharam o capital.

SUPERLIGA E FONTES DE RECEITAS

Apesar da fracassada tentativa de criação da European Super League (ESL), a chamada Superliga de clubes, que causou forte polêmica e reações de torcedores, jogadores e jornalistas, o assunto ainda tende a render bastante nos próximos meses.

A queda nas receitas obtidas pelos clubes tanto na temporada passada quanto na atual e o impacto causado por essa redução estão no radar dos investidores.

Um dos pontos que suscitam discussões é a capacidade que a indústria do futebol terá para retomar os patamares anteriores à pandemia. A vacinação ainda anda em ritmo diferente nos países europeus e é possível que o retorno total do público aos estádios ainda demore mais alguns meses para acontecer.

Neste cenário, a tendência é que os clubes europeus se aproximem de uma nova onda de aquisições, desta vez por parte de fundos norte-americanos.

Desde que a confusão da Superliga abalou o relacionamento dos clubes com suas torcidas, muito se especula que um dos clubes do chamado Big-6 da Premier League (Manchester United, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Arsenal e Tottenham Hotspur) possa ser vendido ainda neste ano.

Texto de Humberto Domiciano.

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