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Clube-Empresa: salvação ou engodo

Um tema que vem sendo cada vez mais abordado e discutido no país é a possibilidade de os clubes se assumirem a estrutura de uma empresa, através de um projeto de lei que atualmente está em debate no Senado. Hoje, no Brasil, os clubes são associações sem fins lucrativos, ou seja: não existe obrigação em terminar o ano com resultado financeiro positivo. Quando o clube se torna uma sociedade anônima seus lucros acabando sendo divididos entre os proprietários.

Clube-empresa na história

No entanto, antes de trazer esse debate para o Brasil, é necessário entender o contexto dos clubes-empresa no mundo. O primeiro deles surgiu em 1888, na Inglaterra (Birmingham FC), com objetivo de proteger seus associados. A figura da associação sem fins lucrativos nunca existiu no futebol inglês.

Pode-se perceber que, evidentemente, era outro contexto de mundo e outra perspectiva sobre o tema. Os clubes da Inglaterra, hoje modelos para o mundo, já foram moldados dessa forma desde os primórdios da Liga.

Depois da Inglaterra, a Itália entrou no processo para tentar fazer com que os clubes não quebrassem em dívidas. Na década de 60, o entendimento era que mudar a razão social faria com que a engrenagem girasse de uma forma melhor, até por conta do crescimento do futebol de um modo geral (estádios maiores, internacionalização, salários maiores e afins).

No entanto, apesar de ter na essência uma ideia similar ao que debatemos hoje (escapar de dívidas e deter os gastos exagerados), não foi o que ocorreu na prática, com mais de 50 clubes falidos no país, além das denúncias já comprovadas de envolvimentos com máfias, apostas, jogadores e dinheiro sujo.

Nos anos 80 os clubes foram obrigados a virarem empresas por lei e isso também ocorreu em outros países; Espanha e Portugal são alguns exemplos. Na Espanha, inclusive, apenas 4 não se tornaram empresas. Isso ocorreu graças a uma exceção na regra: Clubes que apresentassem seu balanço sem dívidas não precisariam virar. Foram (e são) eles: Barcelona, Real Madrid, Atlethic Bilbao e Osasuna.

Trazendo para a América do Sul, tivemos em 1998 no Brasil a Lei Pelé aprovada já com o objetivo de tornar os clubes em Sociedades Anônimas. No entanto, a obrigatoriedade caiu.

Vitória e Bahia foram os pioneiros da situação. Em 2000 o Vitória foi o primeiro clube-empresa do país e abriu capital para o Exxel Group, dirigido por Argentinos. No entanto, os argentinos quebraram e todo o processo acabou com o clube indo para a série C, assim como seu rival. A dívida do S/A foi dividia em 260 parcelas no PROFUT a partir de 2016 (o Vitória paga até hoje).

Após esse apanhado geral, é notório que o “debate sobre clube-empresa” não é novo nem muito menos algo que dê garantia de sucesso. É verdade que a estabilidade política é um ponto importante nas empresas e que a interferência do jogo político é muito maior em instituições sem fins lucrativos. No entanto, a forma com que essa ideia é passada é extremamente preocupante.

O Futebol é reflexo da sociedade, e infelizmente existe a tendência de sempre existir a procura de respostas simples e fáceis para problemas estruturais e complexos. Dentro da realidade do futebol brasileiro nós já observamos diversos tipos diferentes de clube-empresa: tornar o sócio investidor o sócio majoritário com 50+1% das ações (Vitória S/A), separar apenas o departamento de futebol para ser gerido como empresa (Botafogo de SP, Figueirense e outros) e comprar um clube em sua totalidade, modificando nome, identidade, marca e cores (Bragantino / RB Bragantino).

É necessário, inclusive, tomar cuidado com os argumentos de que “O Projeto RB deu certo”. Lembrem-se que, durante muitos anos, o RB Brasil existiu e não conseguiu nem mesmo uma vaga na série C. O que foi feito foi a procura pelo Bragantino, clube comandado por uma família desde a sua fundação e a proposta de alterar tudo que existia em troca de investimento. Você aceitaria seu clube se tornando “RB XXXXXX” com as cores alternadas, escudo, mascote e identidade em troca de investimento?

Clubes-empresa no Chile (como o Colo-Colo, por exemplo), não subiram de patamar. Continuaram ganhando o campeonato nacional e fazendo campanhas continentais fracas. Para eles o nacional já era algo comum e nada mudou. Inclusive, para quem se interessar mais no assunto, sugerimos a matéria do Matinal Jornalismo, que trouxe uma abordagem sobre a situação geral e como a crise agravou a situação do tradicional clube chileno, além de retratar como a SAD (sigla de Sociedade Anônima Desportiva) teve sua contribuição para que os problemas piorassem. 1

Alterar os mecanismos de gestão corporativa, de compliance e instaurar profissionalismo independe da razão social dos clubes. Gestores competentes e incompetentes existem na esfera pública e na iniciativa privada. Mudar por mudar não alteraria em nada. Além da participação da torcida e seus associados que, naturalmente, seria menor. O Valencia é um exemplo claríssimo sobre esse tópico hoje em dia.

Significa que nada presta? Não! Com um projeto bem estruturado tudo pode funcionar. O problema é que no Brasil e a realidade (cultural, financeira e afins) é completamente diferente dos “modelos”.

Existem contextos e aplicações que nunca podem ser desconsiderados. Trazendo também a respeito de um caso positivo, temos o Bayern de Munique, onde 75% das ações pertencem à associação, 8,33% pertencem à Audi, 8,33% à Adidas e os mesmos 8,33% pertencem à Allianz. No entanto, percebam: a grande maioria das ações está nas mãos da associação, que realiza assembleias, eleições e afins.

Os três players investem quantias consideráveis nessas ações que compõem o capital do Bayern e possuem voz no clube -mesmo com a palavra final sendo da instituição. Mais uma vez, caso exista interesse, deixaremos o link da matéria de Rodrigo Capelo, que foi ao ar no site Globoesporte.com, onde é retratado como funcionam os clubes-empresa.

Texto de Leonardo Santiago, do Los Futebólicos.

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