Há muitos anos escuto em conversas com amigos que o futebol não é apenas um esporte, é um fenômeno social capaz de transformar vidas, mudar o cenário político brasileiro e trazer histórias emocionantes de pessoas impactadas de alguma forma pelo futebol.
O antropólogo Roberto DaMatta, no livro “Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira”, concorda com esse poder que o futebol exerce ao afirmar que “o futebol praticado, vivido, discutido e teorizado no Brasil seria um modo específico, entre tantos outros, pelo qual a sociedade brasileira fala, apresenta-se, revela-se, deixando-se, portanto, descobrir”.
Então, logo de cara, retorno a pergunta do título de um modo ampliado: Qual é o posicionamento do futebol brasileiro logo quando os clubes, federações e CBF se posicionam a favor ou contra determinados assuntos (ou não se posicionam) impactam a sociedade de uma maneira geral?
Essa reflexão começou aparecer no dia 27 de abril, quando a revista TIME divulgou o seu TOP-100 das empresas mais influentes do mundo com negócios de impactos extraordinários em diversos setores. As empresas foram divididas em: Pioneirismo, Liderança, Inovação, Disrupção e Titãs.
O esporte está representado através de seis empresas:
Pioneirismo
Klutch Sports Group – Uma startup há 10 anos com dois funcionários que hoje é uma super agência de atletas, com mais de 70 clientes na NFL e NBA, como Anthony Davis e LeBron James, gerindo contratos que somam U$ 1,8 bilhão.
Inovação
Adidas – O feito da empresa alemã destacado pela publicação não está diretamente ligado ao esporte, mas como a empresa vem se preocupando com as questões ambientais e mudando a utilização de poliéster virgem para poliéster 100% reciclável em seus tecidos esportivos (Primeblue e Primegreen).
Disrupção
Peloton – A empresa de equipamentos esportivos de uso domiciliar (os produtos mais conhecidos são suas bicicletas ergométricas) teve um aumento de 134% de usuários durante a pandemia, chegando a 1,67 milhão de membros que pagam U$ 39 por mês em seu aplicativo com aulas virtuais. Para suprir a demanda de equipamentos, aumentou a produção em Taiwan, comprou uma empresa fabricante de equipamentos e começou a venda em hotéis e academias visando o retorno das pessoas nesses locais conforme a vacinação avança nos Estados Unidos.
Liderança
Nike – A companhia norte-americana foi alçada ao TOP-100 devido ao forte engajamento em movimentos culturais. A TIME resgata desde o anúncio de apoio ao atleta/ativista da NFL, Colin Kaepernick, em 2018, que resultou em um aumento de U$ 6 bilhões no valor de mercado até chegar ao último ano, quando os protestos contra o racismo ocorreram de forma mais enfática nos Estados Unidos. A Nike não foi a única empresa a se manifestar em apoio, porém foi uma das primeiras a divulgar um planejamento de financiamento de mais de U$ 40 milhões para organizações que atuam com justiça social.
Premier League – Única liga de futebol presente na lista, a Premier foi incluída pelo seu exemplo em negociação na venda de acordos internacionais de direitos de transmissão. A TIME utiliza um estudo da consultoria Deloitte que aponta uma projeção de receitas de U$ 6,2 bilhões para a liga que atualmente é transmitida em 190 países.
NBA – Por último, mas não menos importante, deixei a Liga Americana de Basquete, ressaltada pela revista pelo crescimento global do esporte através das iniciativas que o comissário Adam Silver tomou desde que assumiu o cargo em 2013.
Leia também no site do FootHub:
Biblioteca Ruy Carlos Ostermann #14 – os livros de Paulo Vinícius Coelho.
Em uma entrevista para TIME, Silver respondeu aos mais diversos questionamentos e trago três pontos interessantes: Consumo de mídia, Regras da NBA e Superliga (sim, ele comentou sobre a liga europeia que não saiu do papel).
Consumo de mídia: “Tenho uma televisão enorme na minha sala de estar, mas, por conveniência, costumo assistir no meu telefone, porque a qualidade é muito boa e a interface do usuário é melhor. É mais fácil no aplicativo assistir qualquer jogo que eu quiser do que encontrar o caminho no meio de 2 mil canais na TV a cabo”, declarou Silver.
Essa frase vai muito ao encontro da publicação do economista Cesar Grafietti na Infomoney sobre o efeito da idade na relação com o esporte. Grafietti apresenta o alto consumo de esporte na faixa entre 25 e 49 anos, uma geração que apesar de não ser considerada a geração digital, “já é altamente digitalizada, conectada e é justamente aquela que está na fase financeira mais madura”.
Regras: Quando perguntado sobre o basquete ter se tornado um jogo de bolas de três pontos, o que estaria tirando “a estética do jogo”, Silver discordou, mas mostrou algo difícil de se encontrar no futebol, a facilidade na mudança de regras.
“Pessoalmente, acho que o jogo é esteticamente incrível agora. Nós movemos a linha de três pontos antes. Uma vez nós o mudamos, como as pessoas devem se lembrar. Temos um comitê de competição forte que analisa as tendências em termos de liga. Acho que devemos viver no presente, respeitar esses registros, mas também estar dispostos a nos ajustar quando fizer sentido”.
Superliga: Ao falar da liga que durou um pouco mais de dois dias, Silver trouxe a importância das vozes dos torcedores que foram amplificadas pela internet. “Foi um lembrete de que os fãs têm uma voz incrivelmente poderosa. E se você cruzar com eles, vão deixar você saber disso, e você saberá em tempo real. Isso terá um impacto direto em seus negócios. A internet dá aos fãs vozes mais altas e a capacidade de se reunir em torno de questões que são importantes para eles”.
Nas seis empresas apresentadas foi possível detectar como o esporte está inserido em diversos contextos e indústria. Da têxtil, passando pelas questões sociais e até como trabalhar e se adaptar as transformações digitais.
Enquanto pesquisava informações para esse artigo recebi a notícia de uma parceria do governo do estado de Goiás com a LaLiga para projetos sociais no esporte. A declaração da coordenadora do Gabinete de Políticas Sociais, Gracinha Caiado, remete ao primeiro parágrafo do presente texto: “O futebol é o esporte que mais mobiliza os brasileiros, e isso o torna um instrumento social importante. Nesta ação conjunta entre o Governo de Goiás e a LaLiga poderemos promover a inclusão de milhares de jovens por meio do esporte”.
Então…. qual é o posicionamento do futebol brasileiro?
Essa parceria muito bem elaborada com a LaLiga não poderia ter sido realizada localmente?
Como estamos nos preparando para o futuro?
As perguntas acima não são simples e fáceis de serem respondidas. Existem diversos caminhos para iniciar um planejamento futuro e consequentemente um posicionamento. É sobre esses caminhos o tema da continuação do artigo de hoje. Aguardem!
Texto de Caio Derosso.