Não é incomum ouvirmos falar sobre uma metodologia para o nosso futebol brasileiro. Vemos ex-jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas e até torcedores terem debates acerca do nosso futebol e de que forma poderíamos criar algo que tivesse a nossa “impressão digital”.
O ex-jogador Alex já chegou a falar sobre a dificuldade em se padronizar um tipo de futebol brasileiro, uma vez que se tem diversas formas de jogar em um país com dimensões continentais e cada estado/região ter suas próprias características. Ainda assim, treinadores como Fernando Diniz afirmam que buscam resgatar o que se tem em comum entre todos os tipos de Futebol do Brasil.
Acontece que a criação de uma nova metodologia para o futebol brasileiro já não é mais uma questão de opção, mas sim, de necessidade! Estamos importando metodologias europeias para o nosso contexto sem termos muito conhecimento e, principalmente, critérios sobre a sua aplicação no Brasil. Como Dunga disse em entrevista: “A gente quer copiar muito da Europa, [os europeus] têm organização, mas a vida toda eles vieram comprar os nossos jogadores, porque […] driblavam e agora a gente não quer que os nossos jogadores driblem. Mas agora eles querem introduzir a filosofia aqui no Brasil da gente não driblar. Não, tem que driblar!”
O debate aqui não está relacionado à efetividade de metodologias estrangeiras aplicadas ao futebol brasileiro, mas sim à forma como estamos podando o jogador brasileiro em detrimento do processo criativo de futebol em idades iniciais.
Refletindo sobre toda a cultura brasileira, quando formos estabelecer uma Metodologia do Futebol Brasileiro não deveremos olhar para as diferenças regionais, mas sim, para as suas similaridades. O “Futebol de Rua” é a prova disso: quantos dos nossos jogadores não começaram por jogar na rua? Seja no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará ou Amazonas, a grande maioria foi formada no futebol de rua ou algum similar, por exemplo, na praia.
De alguma forma, há algo em comum entre todos os estados brasileiros: muito da formação dos nossos jogadores está baseado no prazer do jogo livre, nas relações que se estabelecem (exemplo: se houvesse 9 jogadores, 5 iriam para uma equipe e 4 para a outra, eventualmente até dividindo as equipes pelas “relações qualitativas”) e nos espaços mais diversificados possíveis. Por experiência própria, lembro que uma vez estava jogando futebol com os meus amigos e tínhamos uma limitação: uma das goleiras não tinha muro atrás. Se chutássemos a bola, correríamos o risco de ela ir para a rua e perderíamos a bola. E o que fizemos? Um campo em “L”. Pronto! Problema resolvido pela criatividade infanto-juvenil.
Isto aponta para a direção de que a metodologia do futebol brasileiro não deve ser estruturada de cima para baixo, ou seja, do profissional para a base, mas sim, ser construída debaixo para cima. E qual o motivo para isto? Bem, se pensarmos que o Brasil é um dos países que mais exporta jogadores e tem uma das maiores rotatividades de elenco entre suas temporadas, isto significa que a formação do jogador não pode ser restrita ao modelo de jogo/contexto profissional de um clube só, mas sim, de forma mais diversificada possível para preparar este atleta para diversos ambientes e, por consequência, ter uma maior possibilidade de boa adaptação a novos contextos, sejam eles nacionais ou internacionais.
Então, pensando no futebol comum a todos, qual a principal premissa que tínhamos na rua? Liberdade absoluta! Ninguém julgando as nossas decisões! O nosso aprendizado não era sistematizado, ainda que fosse extremamente rico (pela variabilidade de condicionantes). Não tínhamos treinador! Então, a intervenção do treinador nas idades iniciais não deveria se limitar simplesmente às questões táticas, mas construir um contexto inovador para a criança e jovem que esteja praticando a modalidade, maximizando o seu potencial criativo.
Por estudos recentes, se sabe que a cobrança por princípios gerais, operacionais, fundamentais e específicos em idades iniciais tem causado danos à qualidade técnica do jogador brasileiro. Prova disso são os jogadores brasileiros que antigamente se destacavam no cenário mundial e hoje em dia já não é assim, justificado, também, pelo que foi dito pelo ex-jogador Dunga, anteriormente mencionado aqui.
Sendo assim, as sugestões básicas e práticas da Nova Metodologia do Futebol Brasileiro seriam:
–> Alta demanda técnica e demanda tática baixíssima;
–>Altos índices de variação nas relações numéricas [1×1, 1×2, 3×1, 3×2… até 7×7 (nas idades iniciais) e 9×9 (até o sub-14)], em que o nível de dificuldade fique entre 15% e 200%*;
–>11×11 a partir do sub-15;
–>Variabilidade de espaços e terrenos;
–>Uso mínimo de materiais que causem distração para o jogo (exemplo: uso mínimo de cones para delimitar o espaço de jogo);
–>Baixa interferência do treinador (conteúdo dos princípios gerais, operacionais, fundamentais e específicos de forma não-sistematizada);
–>A partir do sub-15, além do campo ter maiores dimensões, há um acréscimo de companheiros e adversários e os princípios táticos operacionais, fundamentais, gerais e específicos podem ser incluídos (nesta ordem) gradativamente.
1×1 | 1×2 | 1×3 | 1×4 | |||||
2×1 | 2×2 | 2×3 | 2×4 | 2×5 | 2×6 | |||
3×1 | 3×2 | 3×3 | 3×4 | 3×5 | 3×6 | 3×7 | 3×8 | |
4×1 | 4×2 | 4×3 | 4×4 | 4×5 | 4×6 | 4×7 | 4×8 | 4×9 |
5×2 | 5×3 | 5×4 | 5×5 | 5×6 | 5×7 | 5×8 | 5×9 | |
6×2 | 6×3 | 6×4 | 6×5 | 6×6 | 6×7 | 6×8 | 6×9 | |
7×3 | 7×4 | 7×5 | 7×6 | 7×7 | 7×8 | 7×9 | ||
8×3 | 8×4 | 8×5 | 8×6 | 8×7 | 8×8 | 8×9 | ||
9×4 | 9×5 | 9×6 | 9×7 | 9×8 | 9×9 |
Cálculo de dificuldade de uma tarefa2
O número de possibilidades de ação do portador é calculado pelo somatório das opções de passes + finalização (se houver) + condução.
Texto de Leonardo Monteiro
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